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O atendimento aos idosos é precário”, diz Sr. Josias, há 12 anos conselheiro

Ribeirão Pires é uma das 39 cidades da Região Metropolitana de São Paulo, pertence ao Grande ABC, conta com uma população total de 113.043 habitantes, destes 10.772 são idosos (censo 2010). Na entrada da cidade nos deparamos com a obra que é uma visão futurística de São José, padroeiro da cidade.

Bernadete Oliveira

 

Sr. Josias é Conselheiro Municipal de Saúde de Ribeirão Pires (segmento usuário) fala ao Portal: “Liberdade, eu não sei se posso dizer o que é liberdade, desculpe, mas nesse país que nós vivemos, nem tudo você pode dizer. Você tem um limite. Eu acho assim, se eu pudesse falar tudo que eu sinto, eu falaria. Estou há 12 anos no Conselho e vejo que o atendimento aos idosos no geral é precário”.

Portal: Quais ações que o Sr. realiza no Conselho?

Eu vou, observo, eu escrevo o que está acontecendo, principalmente se o idoso fala: Josias, a doutora me atendeu mal, a recepção me atendeu mal. Procuro primeiro a pessoa que sou subordinado a ela, digo, olha, a recepção atendeu mal, enfim, levo ao conhecimento dela, duas, três vezes. Se não consigo nada, eu escrevo e mando para a Secretaria da Saúde tomar as providências. Acho muito errado um idoso chegar, já vai debilitado para o Centro Médico, ser mal atendido pela recepção ou pelo corpo médico e é o que temos visto todos os dias. E eu reclamo, reclamo e não muda nada. E eu não aceito. Por isso as pessoas me chamam de cricri… eu sei o que é ficar dez, vinte minutos numa fila de espera usando bengala. Chegar à recepção e ser destratado, eu não aceito isso em hipótese nenhuma. Minha briga é essa. Eu queria que mudasse. Se eu saio da minha casa, como vocês saíram hoje para fazer um trabalho, se vocês não querem trabalhar, fiquem em casa, mas não vão levar os problemas de casa para o trabalho e descarregar nos outros. No idoso, mas não só no idoso, na criança, no adulto, eu não aceito.

Portal: Como a população idosa recebe informações sobre as maneiras de se ter e manter uma boa saúde e de prevenir doenças?

Eles distribuem cartilhas, fazem palestras, eles divulgam, principalmente doenças infectocontagiosas. É feito nas UBS, às vezes nas praças. É feito pelo conselho gestor, médicos, às vezes, o Secretário de Saúde também.

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Portal: Sobre a violência, o que é feito quando a vítima é uma pessoa idosa?

O Serviço de Saúde encaminha o idoso e o familiar para a ouvidoria e quando o idoso não quer se identificar a gente faz por escrito uma notificação para a ouvidoria.

Portal: O que o Sr. considera que falta hoje ao idoso no seu município?

O que falta no município para o idoso é ter um clube, alguma coisa que tirasse o idoso de dentro de casa, que tivesse ônibus, vans, uma vez por semana para levar o idoso a participar de clubes, cinemas, piscinas, isso é necessário e não temos. Temos idosos em cadeiras de rodas que não saem de dentro de casa.

Portal: Imaginemos que estamos em 2030. O que o Sr. gostaria de encontrar de atendimento eficiente e bom para o idoso?

Gostaria de encontrar profissionais no geral que não discriminassem tanto o idoso como é agora. Essas pessoas que estão discriminando o idoso hoje, nas recepções, nos postos de saúde, amanhã, em 2030, eles também serão idosos. Então, eu gostaria que as autoridades preparassem os profissionais para serem atenciosos com os idosos que chegam a uma recepção ou numa consulta médica. Educar para respeitar o idoso é o que nós não estamos. Vendo hoje, é o que me dói.

Portal: Como o Sr. desejaria ser cuidado em 2030?

Com amor e carinho. Não só na família, mas no todo. Família na realidade eu não tenho, e tenho muito medo de qual vai ser o meu fim. Aqui em Ribeirão Pires eu não vejo nenhum movimento para aumentar uma rede de amizade que dê o apoio ao idoso que mora só. Nem sei se tem. Eu gostaria que o idoso fosse visitado. Pode ser que agora, com o Programa de Saúde da Família (PSF), comece. Estou com 58 anos, tive uma casa, hoje, nem era para eu dar essa entrevista, porque estou muito abalado com o que aconteceu comigo. Gente, eu perdi uma casa! Fiquei sem nada. Se eu fosse um homem casado, com três, quatro filhos, talvez meu irmão não precisasse oferecer uma casa para eu não ficar na rua. Mas ainda tem aquele negócio de eu ser homossexual. O que quero perguntar é o seguinte, o que vai ser feito, em 2030, com o homossexual velho? Estou falando sobre discriminação, e, hoje em dia, existe ainda, contra o preto, o pobre, o homossexual. Tem algo que possa ser feito?

O Sr. Josias traz questões importantes que devem ser pensadas desde já para que em 2030 ele e todos nós nos sintamos acolhidos: como será o cuidado de alguém que mora só? Convidamos os colaboradores do Portal, especialmente aqueles que atuam com a temática da moradia e sexualidade para que opinem sobre o envelhecer homossexual masculino na metrópole.

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