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Na mira, melanoma e câncer colorretal

Recentemente dois estudos da USP trazem mais informações a respeito de dois tipos de câncer que afetam muito a população: melanoma e câncer colorretal. No primeiro, uma simples fotografia, feita por meio de câmeras digitais ou celulares, poderá ser utilizada no processo de diagnóstico do melanoma, tipo mais agressivo de câncer de pele, que acomete cerca de seis mil pessoas por ano. No segundo, comprova que características sociais e econômicas e incidência de câncer colorretal são influenciadas pela localização geográfica no Município de São Paulo.

 

 

O câncer vem sendo objeto de muitos estudos e há muitos anos. Há quem ainda não consegue nomeá-lo. Mas o que é o câncer? Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um risco de vida.

Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Por exemplo, existem diversos tipos de câncer de pele porque a pele é formada de mais de um tipo de célula. Se o câncer tem início em tecidos epiteliais como pele ou mucosas ele é denominado carcinoma. Se começa em tecidos conjuntivos como osso, músculo ou cartilagem é chamado de sarcoma. Outras características que diferenciam os diversos tipos de câncer entre si são a velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes (metástases).

As causas também são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando ambas inter-relacionadas. De todos os casos, 80% a 90% dos cânceres estão associados a fatores ambientais. Alguns deles são bem conhecidos: o cigarro pode causar câncer de pulmão, a exposição excessiva ao sol pode causar câncer de pele, e alguns vírus podem causar leucemia. Outros estão em estudo, como alguns componentes dos alimentos que ingerimos, e muitos são ainda completamente desconhecidos.

Recentemente dois estudos da USP, um da Faculdade de Saúde Pública (FSP) e outro do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, trazem mais dados. Vejam a seguir.

São Paulo tem incidência do câncer colorretal

Estudo revela que a incidência média de câncer colorretal entre 1997 e 2009 na cidade de São Paulo, ajustada pela idade, foi de 26,7 casos por 100 mil habitantes. Os distritos com melhores indicadores socioeconômicos, em especial nas áreas centrais da cidade, concentram as ocorrências. Os resultados poderão servir de apoio à definição de políticas públicas que adequem a prevenção e o tratamento às especificidades da população. A pesquisa foi realizada por Márcio Medeiros, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

De acordo com dados da International Agency for Research on Cancer (IARC), ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa de incidência de câncer colorretal no mundo, ajustada pela idade em 2012 foi de 20,6 casos por 100 mil habitantes. Segundo Medeiros, “É o terceiro tipo de câncer mais frequente no mundo, com estimativas para 2012 de 1,36 milhão de novos casos”, e acrescenta que “representa 9,7% de toda a incidência de câncer, sendo o terceiro mais comum em homens e o segundo entre as mulheres”.

No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA), vinculado ao Ministério da Saúde, estima que em 2014 as taxas brutas de incidência de câncer colorretal sejam 15,4 e 17,2 novos casos a cada 100 mil homens e mulheres, respectivamente. A pesquisa tem como base os casos diagnosticados na população do Município de São Paulo entre 1997 e 2009, que constam do Registro de Câncer de Base Populacional de São Paulo (RCBP-SP), mantido pela FSP. “Além de descrever as taxas de incidência e de mortalidade, também foi realizada a análise da distribuição espacial, segundo os distritos, dos casos diagnosticados neste período”, afirma o pesquisador.

A média anual da taxa de incidência de câncer colorretal ajustada pela idade entre 1997 e 2009 foi de 26,7 casos por 100 mil habitantes. Os distritos com melhores indicadores socioeconômicos concentram as ocorrências. “Conforme dados da IARC, as taxas de incidência de câncer colorretal apresentam uma grande variabilidade mundial e seguem um padrão, com as taxas mais elevadas sendo encontradas nos países desenvolvidos e as menores nos países em desenvolvimento”, observa Medeiros. “O município de São Paulo tem taxas equivalentes as encontradas nas regiões em transição econômica.

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Segundo o pesquisador, o estudo identificou variação geográfica na distribuição da incidência de câncer colorretal na cidade de São Paulo. “As maiores taxas são encontradas nas áreas centrais e as menores nas áreas periféricas”, ressalta. “A análise evidencia que o padrão espacial da distribuição da incidência apresenta forte associação com o padrão espacial da distribuição dos indicadores de status socioeconômico”.

Os resultados sugerem que características sociais e econômicas e incidência de câncer colorretal são influenciadas pela localização geográfica no Município de São Paulo, conjuntamente, destaca Medeiros. “Portanto, é possível especular que as características socioeconômicas dos distritos exercem uma influência sobre a ocorrência ou a detecção de casos de câncer colorretal, mas não se pode estabelecer uma relação de causa e efeito”, comenta.

De acordo com o pesquisador, os métodos exploratórios empregados na pesquisa podem auxiliar na definição de políticas públicas considerando as especificidades de cada distrito, incluindo aspectos geográficos, demográficos, disponibilidade e acesso a rede de tratamento etc. O trabalho, descrito em tese de doutorado apresentada na FSP, foi orientado pelo professor José Leopoldo Ferreira Antunes.

Diagnóstico do melanoma via fotografia

Com o suporte de um banco de imagens e de um sistema computacional, uma simples fotografia, feita por meio de câmeras digitais ou celulares, poderá ser utilizada no processo de diagnóstico do melanoma, tipo mais agressivo de câncer de pele, que acomete cerca de seis mil pessoas por ano, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). A metodologia inovadora foi desenvolvida no mestrado de David Antônio Sbrissa Neto, pesquisador do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, que realizou o estudo juntamente com os professores Gonzalo Travieso, Cristina Kurachi, Vanderlei Salvador Bagnato e Luciano da Fontoura Costa, todos do IFSC.

Diagnóstico de câncer é apoiado por banco de imagens e sistema computacional

O melanoma surge quando as células produtoras de melanina (responsáveis pela coloração da pele) sofrem danos, podendo invadir qualquer órgão corpóreo e ocasionar, em muitas vezes, o desenvolvimento de manchas — lesões melanocíticas —, além de outras alterações que podem acarretar em coceira, sangramento e outros sintomas. Hoje, o diagnóstico do melanoma é feito por meio da biópsia (remoção cirúrgica onde parte ou a totalidade da lesão é retirada para análise médica), que pode ser executada tanto por dermatologistas, quanto por oncologistas.

Entretanto, de acordo com a professora Cristina Kurachi, geralmente o número desses profissionais em atuação é escasso e a fila de espera para a realização do diagnóstico pode se prolongar por meses, tempo que favorece a evolução da patologia, cuja cura só é obtida com sucesso quando o tratamento se inicia durante os primeiros estágios da doença.

Essa demora no diagnóstico também se deve ao fato de as manchas do melanoma serem semelhantes a outras lesões desenvolvidas na pele humana. Isso faz com que os médicos não-dermatologistas tenham dúvidas sobre a origem das manchas. “Apesar de o melanoma não ter uma incidência tão alta em termos de porcentagem, a quantidade de casos suspeitos é muito grande”, explica Cristina Kurachi, destacando o aumento da estatística de pacientes com melanoma.

Para analisar as imagens de possíveis casos da doença em questão, os pesquisadores do IFSC criaram um banco de imagens que é regularmente atualizado com fotos de lesões melanocíticas cedidas por médicos. Essas imagens são utilizadas como base para as análises das fotografias dos pacientes. Esse processo de comparação de imagens só é possível porque as manchas causadas pelo melanoma têm características únicas, incluindo bordas irregulares, colorações diferenciadas e um diâmetro maior do que as manchas comuns.

“Com esse estudo, conseguiremos agilizar o diagnóstico dos pacientes, porque, com as características quantitativas que obtivermos das imagens desse banco, nosso sistema computacional as comparará automaticamente com as das fotografias dos pacientes, informando se as manchas dos indivíduos podem — ou não — corresponder às do melanoma”, diz o professor Travieso.

Para que essa metodologia possa ser disponibilizada no mercado, os pesquisadores explicam que ainda é preciso executar alguns ajustes no sistema computacional, responsável pelos cálculos nas imagens dos pacientes, aprimorando ainda mais sua eficiência. Além disso, os especialistas do IFSC deverão realizar novos trabalhos envolvendo o diagnóstico de outros tipos de lesão. “Ampliaremos o nosso banco de imagens e trabalharemos com outros tipos de processamento, também na área de diagnóstico”, pontua David Neto, que em breve dará início ao seu doutorado no IFSC.

* Colaboração de Rui Sintra do IFSC e da Agência Usp de Notícias.

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