Expectativa de vida de 85 anos e taxa de obesidade de 3% para as mulheres. Com os melhores índices entre países desenvolvidos, o Japão mostra que sua gastronomia, baseada em arroz, peixes e vegetais, ajuda a proporcionar uma qualidade de vida invejável.
Julliane Silveira
Naomi Moriyama, 47, é japonesa e trabalha como consultora de moda em Nova York. Engordou 11 quilos quando se mudou para os Estados Unidos e percebeu que a dieta da mãe poderia mantê-la magra e saudável. E que seus conterrâneos vivem mais e melhor do que os norte-americanos.
Ela também observou que os japoneses comem cinco vezes mais vegetais crucíferos (repolho, brócolis, couve e agrião) e três vezes menos carne vermelha do que os habitantes dos EUA. E que o ditado japonês “coma até estar 80% satisfeito”, reflexo dos hábitos de comer moderadamente e com prazer, pode ser o caminho para viver mais.
Em entrevista à Folha, por e-mail, ela antecipa as dicas e os fatos que reuniu no livro “Mulheres Japonesas Não Envelhecem nem Engordam”, que será lançado no Brasil pela editora Rocco na Bienal Internacional do Livro, de 13 a 23 de setembro, no Rio de Janeiro.
Folha – Em geral, como uma japonesa se alimenta?
Naomi Moriyama – Uma clássica refeição do meu país consiste em uma tigela de missô [pasta feita com soja, cevada ou malte de arroz], outra de arroz, preparado sem gordura, e mais três pratos, como tofu temperado, peixe grelhado e vegetais. As japonesas também adoram comida ocidental, mas comem com menos freqüência e em porções reduzidas. Carne vermelha é usada em porções pequenas, quase uma guarnição. Como sobremesa, frutas e uma xícara de chá verde.
Folha – Como vocês conseguem ter uma refeição balanceada mesmo com a correria da vida diária?
Moriyama – Todos devem fazer um esforço consciente para priorizar a alimentação. Ao fazer uma avaliação honesta das atividades diárias, tenho certeza de que descobrirão alguma coisa menos necessária. Comer bem leva a uma vida mais saudável, mais produtiva e longa. Outra idéia é pressionar as empresas de comida pronta para que ofereçam alternativas saudáveis. Agora, por exemplo, as maiores redes de Nova York devem apresentar no cardápio o valor calórico de cada prato.
Folha – Qual é a principal dica do livro para se manter magra? E para se manter jovem?
Moriyama – Eu cito as razões que ajudam a explicar por que as japonesas vivem mais e de forma mais saudável do que outras mulheres. Elas comem mais peixes, vegetais e grãos integrais, consomem proteína de soja em vez de carne vermelha, comem pequenas porções, ingerem menos gorduras trans e saturada e fazem exercícios de moderados a intensos. Qualquer um pode fazer isso, não é preciso cozinhar pratos japoneses. Esses hábitos ajudam a prevenir doenças e a prolongar a vida. Manter-se jovem de um “jeito japonês” significa aparentar e se sentir jovem de dentro para fora.
Folha – Na sua opinião, o que é pior na alimentação ocidental?
Moriyama – A questão é o que os japoneses não comem e os ocidentais comem demais. Carne vermelha, açúcar, manteiga e gorduras animais. E, mesmo com a ocidentalização dos cardápios no Japão, o japonês ainda consome, por pessoa, 69 quilos de peixe por ano, enquanto a média mundial per capita é de 16 quilos.
Folha – Você come besteiras? O que faz quando dá vontade de comer algo que não é saudável?
Moriyama – Raramente, porque o que como é muito gostoso e me faz sentir ótima, com muita energia. Se me dá uma vontade incontrolável, penso no quanto vou me sentir cansada e estufada depois. E procuro alternativas: frutas frescas, bananas com mel, soja ou frutas secas torradas. Se morasse no Brasil, ficaria tão feliz com a quantidade de frutas tropicais disponíveis, que sorvetes e bolos confeitados não passariam pela minha cabeça.
Folha – Você conta que come arroz em todas as refeições. Que benefícios ele traz?
Moriyama – O arroz é a base das dietas asiáticas e já foi considerado o alimento poderoso dos japoneses. Tem carboidratos complexos e baixo teor de gordura. Sacia e dá menos espaço para comidas gordurosas.
Folha – Nosso prato básico é arroz com feijão. É uma boa combinação?
Moriyama – Sim, desde que sejam preparados sem manteiga nem cremes e com pouco sal. E acompanhados de muitos vegetais e de peixe.
Folha – Você diz que um café-da-manhã energético é composto por missô e vegetais. O que sugere para um clima tropical como o do Brasil?
Moriyama – Meu café-da-manhã em dias quentes consiste em frutas, aveia em flocos e leite desnatado. Pão integral também é uma ótima alternativa, mas sem manteiga.
Folha – Faz diferença preparar as refeições em casa?
Moriyama – Eu e meu marido percebemos que a comida feita em casa nos ajuda a administrar melhor o que comemos. A comida pronta ou congelada geralmente vem em porções gigantes, cheia de gorduras e com muito sódio. Gosto de preparar minha comida, pois tenho certeza do que meu prato contém. Cozinhar não significa passar horas no fogão. Eu faço coisas simples e a cozinha japonesa é mínima: acontece no fogo e na mesa, sem utilizar procedimentos mais complexos. Minha mãe sempre diz que o melhor cozimento é o mínimo.
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Fonte: Folha de S.Paulo – equilíbrio, 6/9/2007. Disponível Aqui