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Mariazinha Leitão, em defesa dos direitos das pessoas com Alzheimer

O Portal do Envelhecimento entrevistou Mariazinha Leitão, uma defensora dos direitos humanos no país, especialmente daqueles que têm Doença de Alzheimer. No momento está trabalhando na programação de uma Capacitação que a ABRAz realizará por região. Será iniciada pela região norte, reunindo todos os estados, em Manaus, no período de 23 a 27 de abril de 2018.

 

Maria Leitão Bessa, conhecida por seus colegas por Profa. Mariazinha Leitão, é Especialista em Gerontologia  pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia). Recebeu o Prêmio Direitos Humanos, promovido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (atual Ministério de Direitos Humanos) na categoria “Garantia dos Direitos da Pessoa Idosa”, em 2016. Trata-se da mais alta condecoração do governo brasileiro às pessoas e entidades que se destacaram na defesa, promoção, enfrentamento e combate às violações dos direitos humanos em nosso país. Presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz, 2014-2017) membro fundadora da ABRAZ – Regional Acre e criadora dos Conselhos de Direito da Pessoa Idosa nos estados Acre e Tocantins. A ABRAz tem assento no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (CNDI), Conselho Nacional de Saúde (CNS) e Comissões, na luta pela atenção integral à saúde da Pessoa Idosa com Demências, por intermédio do SUS.

Portal do Envelhecimento – A ABRAZ é reconhecida por todos pela importância da sua atuação em relação a Doença de Alzheimer (DA). Oferece inúmeros serviços, entre eles, Grupo de Apoio, atendimento pessoal aos familiares e cuidadores, esclarecimentos apoiados em estudos, pesquisas. Como presidente da ABRAZ, a senhora alcançou um olhar abrangente sobre a realidade da DA no Brasil. Quais os principais desafios, no tocante ao cuidado, enfrentados por familiares brasileiros?  

Mariazinha Leitão – Um dos principais desafios é termos um Plano de Ação para demência, o qual ordenará as ações, preparando e valorizando a figura dos cuidadores, pela atenção básica, principalmente para as pessoas que vivem sozinhas e são afetadas pela doença. Outro desafio é a ABRAz realizar uma capacitação em nível nacional, em todas as suas Regionais, oferecendo às famílias mais apoio com acompanhamento e informações. Esta capacitação ainda realizaremos este ano, dando continuidade às metas de minha gestão.

No imaginário popular a Doença de Alzhemeir  ainda é confundida por algo “natural” da velhice, não é mesmo? Como podemos tirar esse véu, vencer essa barreira?

Mariazinha Leitão – Sim, para vencer estas barreiras devemos intensificar campanhas informativas, de conscientização integradas à saúde na Atenção Básica, Média e Alta Complexidade, a Educação através das Escolas e Universidades. E a sociedade de forma geral.

A ABRAz chama nossa atenção para a importância do diagnóstico preventivo, ressaltando que existem tratamentos embora a cura para a doença ainda não foi descoberta.  Como a senhora observa a capacidade de atendimento da rede pública de saúde referente ao diagnóstico preventivo quanto a realização de exames clínicos, de imagem, tomografia? No Acre, na região norte e no Brasil, como a senhora tem observado essa questão?

Mariazinha Leitão – O atendimento na rede pública é deficiente e moroso, o que faz com que as pessoas se sintam desestimuladas a lutar para obter um diagnóstico precoce. A burocracia é muito forte assim como o despreparo de profissionais para o atendimento a pessoas afetadas com demências de forma geral. Os exames clínicos e de imagem são dificultados para as pessoas de menor poder aquisitivo.

E em relação ao tratamento farmacológico, como a senhora observa a capacidade de atendimento da rede pública de saúde no Acre, na região norte e no Brasil?

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Mariazinha Leitão – No tratamento farmacológico a capacidade de atendimento é reduzida e limitada, não atendendo com os últimos medicamentos lançados no mercado, por exemplo o Exelon Patch adesivo, já liberado para o atendimento no SUS, mas não é liberado o recurso para sua compra, que com certeza daria mais qualidade de vida para os doentes e tranquilidade para o familiar cuidador.

A senhora  é membro fundadora da ABRAz Regional Acre e tem  dedicado muito tempo da sua vida profissional e pessoal para essa causa.  Fazendo uma breve leitura no tempo, a senhora vê avanços, conquistas no âmbito dos governos, da sociedade?  E o que mais lhe aborrece, entristece?

Mariazinha Leitão – Tenho lutado muito para quebrar o preconceito da doença de Alzheimer e termos um diagnóstico precoce. Dar um acompanhamento digno e suavizar o sofrimento das famílias. Porém, o que mais me entristece é a falta de compromisso das pessoas que assumem cargos com poder de decisão (pessoas que pensam que são imunes), Familiares que por preconceito camuflam a doença até chegar a fase avançada e nada mais se pode fazer pela pessoa. O que me aborrece é o conflito nas famílias, a desunião e a briga por bens sem respeitar a presença do doente. Bem como pessoas que confundem doenças degenerativas DA com doença mental.

O que a senhora gostaria de ainda conquistar na sua luta?

Mariazinha Leitão – O meu sonho é que tenha Centro de Convivência exclusivo para atender as Pessoas afetadas com a Doença de Alzheimer, profissionais e cuidadores capacitados para o atendimento digno. Apoio aos familiares que se dedicam ao cuidado.

A senhora observa interesse dos profissionais que trabalham com idosos no Acre e na região norte em buscar formação em Gerontologia? Se sim, quais as oportunidades lhes são oferecidas e quais os desafios que eles encontram?

Mariazinha Leitão – Tanto no Acre, como em toda Região Norte são pouquíssimos os Profissionais que têm interesse na busca de conhecimentos gerontológicos, o tema é banalizado. Não existe incentivo por parte dos gestores. Já propus e coordenei na UNINORTE em Rio Branco, uma Especialização em Gerontologia composta por profissionais de várias áreas, como enfermeiros, assistentes sociais, advogados, odontólogos, fisioterapeutas, psicólogos, pedagogos, e outras profissões. Na intenção de ampliarmos os conhecimentos e realizarmos um efetivo trabalho no campo gerontológico, porém, destes profissionais nenhum foi contratado e não trabalham na área.

A senhora gostaria de dizer algo mais?

Mariazinha Leitão – Precisamos focar na rede de atendimento ao tratamento preventivo. Cuidando dos fatores de riscos como diabetes, hipertensão, depressão na pessoa idosa, manter uma vida social ativa, ter o hábito de exercícios físicos, bom relacionamento familiar, distúrbios da tireóide, infecções, estresse, AVC isquêmico e estar se preocupando com as queixas de esquecimento desde cedo e começar um tratamento cognitivo.

Foto de destaque: Val. Fernandes/Secom – divulgação

Áurea Soares Barroso

Doutorado em Serviço Social com estágio doutoral no Centro Português de Investigação em História e Trabalho Social (CPIHTS) e Mestrado em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Pedagogia (Centro Universitário Unifai), Pós-doutorado (UERN). Atua principalmente nos seguintes temas: envelhecimento, políticas sociais, gestão pública, espaços coletivos de participação cidadã e de solidariedade. E-mail: haathor@uol.com.br

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