Libertad Montalban Sanchez. Mas Pode me Chamar de Ma Dhyan Bhavya - Portal do Envelhecimento e Longeviver
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Libertad Montalban Sanchez. Mas Pode me Chamar de Ma Dhyan Bhavya

Neta de espanhóis, 64 anos, um filho e uma neta, Libertad Montalban (ou Montalvão) Sanchez, a Bhavya, “chegou” ao Portal do Envelhecimento inusitadamente. No final da década de 60 cursou Ciências Sociais na USP. Na mesma turma estudava Vera Brandão, atualmente pesquisadora da PUC-SP e membro do Portal. Casualmente, décadas depois se reencontraram, e descobriram que haviam sido da mesma turma. Mas, apesar de a turma ter menos de 30 alunos, uma absolutamente não se recordava da outra. Fizeram alguns exercícios de memória, mas nenhuma lembrança, mesmo a mais tênue, surgiu. Bem, mas se a amizade não se consolidou na juventude, acontece agora na maturidade. Bhavya hoje é a proprietária do Hotel Ponto de Luz, em Joanópolis, na região de Bragança Paulista. Hotel cuja grande missão é semear a meditação. Vera esteve lá, em um debate com os hóspedes. Do encontro, surgiu a possibilidade desta entrevista, que aconteceu em um belíssimo crepúsculo do sábado, 17 de março de 2012, em meio às montanhas da Serra da Mantiqueira.

Guilherme Salgado Rocha / Fotos: arquivo pessoal de Bhavya

 

Portal – Bhavya, prezada, tudo em paz? Curiosíssima essa história de um encontro – ou reencontro – com uma pessoa que foi da mesma turma, e as duas colegas de classe não terem referência uma da outra…
Bavhya – Realmente parece inacreditável. Começamos na Maria Antônia, em 68, mas depois de todos aqueles problemas sérios com os estudantes do Mackenzie, na volta das férias de julho já fomos levados para a Cidade Universitária. Foi uma época de muitos conflitos, revolta, participação e questionamento. Hoje, olhando para trás, me pergunto se não era um questionamento em direção ao que o outro faz, ou seja, o que ele está fazendo que é errado. Outro dia mesmo estava me lembrando de algo interessante: naquela época, se surgisse um comentário de olhar para dentro de si mesmo, de se conhecer, isso era tachado como “preocupação pequeno-burguesa”.

E você seguia em direção contrária, como era?

– O grande acontecimento era o social, o econômico, o macro. As preocupações com o ser humano, suas inquietações, problemas e conflitos, não eram levadas em conta, pois tudo se resolveria com a revolução socialista, com a mudança da economia e da política. Mas de maneira nenhuma estou negando ou invalidando tudo o que aconteceu, de maneira nenhuma mesmo. Pois foi uma experiência no mínimo enriquecedora, pois deu amplitude maior à vida.

Hoje você está com… e nasceu…?.

– 64 anos, e nasci em São Paulo, capital. É evidente que ninguém chega a essa idade e consegue passar incólume por tudo o que aconteceu na juventude.

E depois da USP?

– Montei uma escola que se chamava, na época, madureza. Madureza ginasial e madureza colegial. Cursos oferecidos às pessoas que não haviam conseguido terminar um ou os dois cursos, e faziam os dois em tempo menor, mas que davam a mesma habilitação. Fiquei dez anos com essa escola, a Educabras. Nesse período, a escola foi desapropriada, porque onde estávamos virou jardim do Museu do Ipiranga, nas comemorações dos 150 anos da Independência. Aconteceram muitas coisas! Depois fui morar em Porto Seguro, com meu filho, para trabalhar também na área da educação. Fiquei um ano e meio, e lá comecei a conhecer algumas coisas mais alternativas, na possibilidade de ver o ser humano de maneira mais sutil, não apenas essa matéria densa. Eu tinha uma formação não ateia, mas mais preocupada com o corpo. E descobri a medicina chinesa, as massagens.

Aí voltou para São Paulo?

– Voltei. Meu pai morreu, acabei assumindo a empresa dele, distribuidora de uma multinacional. Mas mantinha, paralelamente, a vontade de conhecer mais na área alternativa. Conheci um mestre maravilhoso, o Rajneeshi, que depois passou a ser conhecido como Osho. Nessa época entro em contato com a meditação, e aí sim, tudo mudou. Mudou radicalmente a minha vida. Continuava trabalhando, vivendo, lutando, mas já em outra ótica. Na alimentação, na atenção ao funcionamento do corpo humano.
Estamos, então, em…?

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– Isso foi indo, até que em 1992 fui convidada por um amigo para o projeto Ponto de Luz. O hotel foi inaugurado em 1994. Em janeiro de 2012 completamos 18 anos, a maioridade do hotel. Esse meu amigo ficou quatro anos aqui, depois preferiu permanecer na cidade. Outro dia me perguntaram como me imagino daqui a dez anos…

Um momento, por favor. Preciso lhe fazer uma pergunta. Como você se imagina daqui a dez anos?

– Gostei. Eu me imagino com os cabelos mais brancos, a pele mais flácida, mas quero continuar morando neste lugar, estando com essas pessoas, fazendo o que faço, pois amo verdadeiramente o que faço.

De onde vem o Bhavya?

– Esse nome eu recebi em 2000, quando fui à Índia. O Osho já havia morrido. Mas há lá um grande Ashram, local em que se reúnem o mestre e seus discípulos. E embora ele não estivesse mais encarnado, todas as meditações que ele criou são praticadas no Ashram até hoje. E existe a possibilidade da pessoa dizer: “Eu quero ser discípula desse mestre”. E pode escolher um novo nome. Na verdade, é Ma Dhyan Bhavya. “Ma” quer dizer “senhora de si”. O “Dhyan” é o seu caminho na vida; no meu caso, “Dhyan” quer dizer meditação. E Bhavya quer dizer potencialidade. Mais ou menos como me apoderar da minha potencialidade por meio da meditação. E a meditação é a mensagem do Osho.

E você “abandonou” o nome anterior?

– Mais ou menos. Se vou à cidade, todos me chamam de Bhavya. Mas em um banco, no cartão, é Libertad. Minha mãe, imagine se me chamava de Bhavya…!

E o filho?

– Está com 34 anos, chama-se Chico Salem, é violonista do Arnaldo Antunes, e tenho dele uma netinha maravilhosa.

Qual é a essência do ensinamento do Osho?

– O grande ensinamento que ele deixou, o grande caminho, é a meditação. Existem outros mestres, de qualidade inquestionável, que propõem um caminho diferente para a meditação. Por exemplo: para se tornar discípulo são exigidas cerimônias de iniciação etc. Com o Osho não. Com ele é assim: “Quer ser discípulo? Venha…”. Há muitos anos ele descobriu que é muito difícil para o homem ocidental sentar e ficar meditando. O ocidental é muito mental, temos uma atividade cerebral muito grande. O que faz o Osho? Ele cria, então, as chamadas meditações ativas. Primeiramente você dança, e depois que consegue dar aquela “limpada”, é capaz de silenciar e meditar. Desde que começamos o Ponto de Luz, temos essa missão: a meditação naquilo que está se fazendo. Na hora da refeição, o sabor, o aroma, o prazer. Se está no banho, a água correndo. Isso é meditação…

Estar presente no que se faz?

– Normalmente a pessoa, quando está fazendo algo, pensa no que fez ou naquilo que fará. E não naquele momento, que é único. Para não ser algo quase esquizofrênico: o corpo naquele momento, mas a cabeça atrás ou na frente. E para isso, também é ensinamento dele, tem-se que conhecer o corpo, com terapias, massagens, relaxamento, ou seja, você se apoderar do seu corpo. Quanto mais a pessoa se conhece, menos propensa fica a reagir àquilo que vem de fora. E, claro, quanto mais se conhece, melhor se torna a vida.

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