Existem duas modalidades de trabalho voluntário: formal e informal. O formal é um serviço que é destinado a uma necessidade social ou necessidade definida por uma instituição, desempenhado sob coordenação em um determinado contexto institucional e recompensado por benefícios psicológicos ou outros benefícios. O informal é expressão espontânea de serviços em resposta a uma percepção pessoal de necessidade social, desempenhado livremente e sem expectativa de recompensa.
Beltrina Côrte
Existem duas modalidades de trabalho voluntário, segundo a antropóloga Andrea Lopes, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH/USP), que distingue o formal e o informal. Para ela, o trabalho voluntário formal é um serviço que é destinado a uma necessidade social ou necessidade definida por uma instituição, desempenhado sob coordenação em um determinado contexto institucional e recompensado por benefícios psicológicos ou outros benefícios.
Já o trabalho voluntário informal é definido pela antropóloga como expressão espontânea de serviços em resposta a uma percepção pessoal de necessidade social, desempenhado livremente (sem restrições institucionais) e frequentemente sem nenhuma expectativa de recompensa.
O trabalho realizado por nossos entrevistados, dentro do projeto “Ler para uma criança”, enquadra-se na primeira categoria, ou seja, trabalho voluntário formal, porque a ação desenvolvida de leitura para crianças faz parte do Itaú Viver Mais, uma associação sem fins lucrativos criada pelo Itaú Unibanco que oferece gratuitamente atividades socioculturais e esportivas para pessoas a partir de 55 anos de idade. Portanto, a leitura para crianças está entre as atividades socioculturais em que o Itaú Viver Mais convida a ler para crianças, com o apoio da Fundação Itaú Social que fornece os livros.
De acordo com a antropóloga, em qualquer um dos tipos de trabalho voluntário a pessoa é motivada por interesses de participação e cidadania, que não mais apenas doa, mas troca talentos, competências, benefícios e solidariedade humana, justamente o que os entrevistados relataram.
Lucinda da Paz Nunes Pereira Bastos, 59 anos, casada, uma filha, um neto. Formada em moda pelo SENAC, é atualmente assistente de editor na Revista Personalité, direcionada para estética, onde atua como freelancer.
Embora aposentada há nove anos, ela nunca parou. Faz curso de Fotografia, e há nove anos também participa do Itaú Viver Mais, fazendo caminhada, ginástica, condicionamento físico, yoga, aero movie, reeducação postural. Só não está fazendo pilates porque não conseguiu vaga.
Foi voluntária na Copa do Mundo por 23 dias. Uma experiência que, segundo ela, não dá para esquecer. E quer trabalhar nas Olimpíadas do Rio. Diz que sua inscrição já foi aprovada, e só está aguardando para começar os cursos de capacitação. Sim, pois ser voluntária não basta querer participar, tem que ser capacitada para saber doar seus talentos em solidariedade humana.
Mesmo com tantas atividades, Lucinda não pensou duas vezes ao se inscrever para ser voluntária no projeto “Ler para uma criança” do Itaú Viver Mais que acontece nos shoppings centers parceiros do Itaú Viver Mais, porque simplesmente gosta e porque costuma ler para seu neto de oito anos e amigos dele. Não só, antes disso havia lido para seus filhos Gato de botas, Branca de Neve, a Bela e a Fera, O Gato Félix, O Saci, Alice no País das Maravilhas e muitos outros. Seu marido compra muitos livros para o neto, de história e educativos.
O gostar e a leitura que já fazia para seu neto não foram suficientes para Lucinda ser membro dessa ação. Ela precisou passar por uma capacitação numa manhã do dia 8/10/2014, em São Paulo, onde, além de ter recebido um manual com toda base do treinamento, participou de palestra, leitura, exemplos, perguntas mais frequentes, etc… Depois treinou em casa lendo os livros ganhos do Itaú Social, Gato pra Cá, Rato pra Lá e Papai!
“Gosto de ler, mas experiência de ler fora do meu ambiente, foi a primeira vez, como voluntária para Itaú Viver Mais. Adorei! E quero continuar esse trabalho”, comenta Lucinda. Ela conclui dizendo que uma pessoa que lê para uma criança está ajudando essa mesma criança a se comunicar e aprender com mais facilidade, imaginação, interesse para leitura.
Tânia Baladez Martins Melo, 58 anos, casada, sem filhos. Formada em Educação Artística, é treinadora em atendimento ao público e formadora de gerência. É aposentada, há dez anos, e faz teatro, dança, coral, fotografia e boxe.
Ao contrário de Lucinda, Tania nunca foi voluntária. É a primeira vez que participa do Itaú Viver Mais na ação “Ler para uma criança”. O que a motivou foi justamente o desejo de ter “esse contato com a pureza e criatividade que uma criança tem e faz bem”, comenta.
Tania também recebeu capacitação para ser voluntária. Durante essa formação ela disse ter rememorado sua infância. “Eu, desde criança, até mesmo hoje, quando alguém contava ou conta uma história eu imagino o lugar, as pessoas, a situação, como se fosse um desenho animado, pensava que todos eram assim, mas descobri que não, talvez porque sou sonhadora, esse mundo de imaginação é divino”, explica Tania.
Hoje, ao ver uma criança lendo um livro, Tania pergunta se ela gosta e sempre lê alguma coisa, porque gosta de “ver os olhinhos brilhando, e até ver o que que ela está pensando”, diz.
Em relação à sua experiência na ação “Ler para uma criança”, Tania conta que “sentimento não dá para explicar, porque para cada criança que fiz a leitura foi diferente, teve momentos que a timidez de uma criança me fez lembrar que eu era assim, que me escondia quando via pessoas, nesse momento entendi perfeitamente o que ela sentia. Outro momento foi quando a criança era danada de esperta, como é bom saber que essa criança quer te testar, é fabuloso, porque ela desperta em nós uma rapidez de resposta. Outro momento, a pureza, a inocência, isso é fabuloso porque mostra o quanto temos que ser humildes para viajar nesse mundo”.
Tania pretende agora ler para uma pessoa idosa que não sabe ler e também ir para uma cidadezinha, longe e sem recursos, levando leituras. Isso seria um sonho, “até vejo as carinhas deles”, comenta.
Para ela, ler para alguém é ser humilde, não ser egoísta, pois “ter um tempo para alguém é fazer o bem para você também, porque vai viajar nesse mundo de sonho e com certeza relembrará de sua infância, sua alma será pura nesse momento. Criança hoje é o futuro do adulto amanhã”, conclui.
Antônio da Silva Neto, 54 anos, casado, pai de 3 filhos (Karolina, 26,casada; Antônio, 23, e Patrícia, 20), formado em Jornalismo pela USP (1985) e cursando o 4º semestre de Letras (Licenciatura Português – Inglês), aposentado após 30 anos no Itaú Unibanco.
Antonio trabalha atualmente na Associação dos Funcionários Aposentados do Conglomerado Itaú Unibanco (AFACI), responsável pelo site, pelo jornal e demais canais de comunicação da Associação. Também é consultor de informática dos associados. E gosta de escrever, cantar, tocar violão, pintar quadros, desenhar com vários materiais (pastel seco, nanquim, grafite, lápis de cor etc), praticar esportes diversos (tênis, futebol, vôlei, basquete), andar de bicicleta e fazer longas caminhadas…
Sobre sua participação como voluntário no Itaú Viver Mais, Antonio explica: “Tive a oportunidade de assistir uma palestra na reunião mensal da AFACI em setembro. Fui então convidado a participar da ação “Ler para uma criança”. Após sair do Banco, descontinuei a prática das ações de voluntariado por ter assumido outros compromissos com meus parentes. Minha filha estava fazendo cursinho e dedicamos grande esforço para que ela tivesse as melhores condições possíveis para fazer o vestibular. No ano passado, já na USP, realizei um trabalho específico para orientar jovens na obtenção de cotas estudantis quando fizessem o vestibular da FUVEST”.
Mas o interesse de Antonio por retomar as ações de voluntariado e especificamente a oportunidade de trabalhar com crianças é que essa é uma das coisas que ele fez muitas vezes. “Li para os meus filhos, meus sobrinhos”, explicando que ele e sua esposa tinham o hábito de ler e contar estórias para os filhos e todos os anos pediam os livros do Itaú Social para lerem para os sobrinhos pequenos. “Fazemos um bolo e reunimos as crianças na casa da minha mãe ou da minha sogra para lermos os livros e realizarmos outras brincadeiras… Só não vale videogames….rs rs rs”, comenta Antonio.
Tal como Lucinda e Tania, Antonio também recebeu capacitação, realizada no Centro Administrativo do Itaú Unibanco (CAT), localizado no Tatuapé, em São Paulo. “Foi muito interessante, pois todos os voluntários que iriam participar da ação puderam conhecer os livros da biblioteca Itaú Unibanco que seriam utilizados no evento. Além disso, após recebermos as dicas de como proceder com relação às crianças, pudemos ler alguns trechos para os colegas para sentirmos a reação geral. Foi muito divertido e produtivo”, explica.
Foi assim que Antonio leu para muitas crianças que compareceram ao evento realizado no Central Plaza Shopping (Vila Prudente/SP). “Foram livros e revistas em quadrinhos diversos: Turma da Mônica, Walt Disney, 1001 Noites, Poesias de Vinícius de Morais, letras de músicas, O Mágico de OZ, livros à prova d’água (aqueles que meus filhos podiam ler dentro da banheira, enquanto fazíamos a difícil tarefa de lavar a cabeça deles com shampoo etc…). Todas foram experiências inesquecíveis”, diz Antonio.
Pedimos para Antonio relatar sua experiência: “Eu detestava ler e gosto de contar pra todo mundo o que fez isso mudar… Foi lá no longínquo ano de 1977… Eu cursava o 3º ano do Colégio (Colégio Alberto Conte em Santo Amaro) e como sempre as aulas de Português, no caso, Literatura Portuguesa nos faziam dormir… Num belo dia a nossa professora Dona Ester, bateu na mesa, pediu silêncio e disse que ia ler uma poesia de Gonçalves Dias e que após a leitura, se todos se comportassem, encerraria a aula… Silêncio profundo. Instantâneo. E ela então começou a ler I-Juca-Pirama, batendo com os dedos na mesa, acompanhando o ritmo do poema e acentuando as sílabas tônicas, meticulosamente posicionadas pelo poeta… Todos percebemos as batidas como se fossem notas de uma sinfonia pra tribo nenhuma botar defeito… Foi uma leitura com paixão. Muito diferente daquilo que costumávamos ter em uma aula normal. O resultado é que muitos de nós passamos a prestar mais atenção nos poemas e a encarar com menos enfado as leituras para as provas bimestrais. Esse tipo de coisa é que tento passar para meus filhos e para aqueles para os quais tenho a sorte de poder ler um pouco”.
Depois dessa experiência, que é, segundo ele, uma das mais enriquecedoras para o ser humano, ele espera significar para alguém o que aquela professora da 3ª série significou para ele. “Ela abriu um portal para uma terra de sonho e de realidade, onde o prazer da leitura e o desfrutar de novos conhecimentos espreitam atrás de cada letra, de cada palavra”, relata Antonio.
Em seus planos está montar ou participar de um projeto que agregasse leitura e música, mais ou menos nos moldes dos sarais do passado. “É algo relativamente barato e fácil de organizar. O que é imprescindível é termos pessoas de qualquer faixa etária interessadas em participar”, explica.
Lucy Buzian, viúva, tem 66 anos. Trabalha como autónoma, é esteticista, e participa do Itaú Viver Mais lendo para crianças no Shopping Central Plaza, em São Paulo. Segundo ela, a turma é muito boa e de fácil adaptação.
Ela faz parte de outro projeto, Soriso, que teve início a partir da amizade de cinco mulheres entre 53 a 77 anos, ela inclusive (na foto, ela é a do meio), que fazem voluntariamente apresentações em creches e orfanatos há cerca de três anos. Ali exercem a sua cidadania de forma muito gostosa, “levamos alegria e solidariedade a grupos de crianças e idosos; ajudamos na inclusão social, através do nosso trabalho voluntário; aprendemos a conhecer novas realidades, conhecendo novas pessoas e com nosso grupo, mostramos o valor da amizade e do respeito entre seres humanos!
Lucy, que também recebeu capacitação do Itaú Viver Mais, pretende continuar atuando como voluntária no projeto Soriso, “pois isto me enche de alegria e a cada apresentação meu coração bate mais forte, a emoção é enorme e me dedico com muito amor a isto”.
Seja voluntário
O trabalho voluntário de leitura para crianças faz parte do Itaú Viver Mais, uma associação sem fins lucrativos criada pelo Itaú Unibanco que oferece gratuitamente atividades socioculturais e esportivas para pessoas a partir de 55 anos de idade. As atividades são realizadas por meio de parcerias com shoppings nas regiões metropolitanas de São Paulo, Taboão da Serra, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Para participar do Itaú Viver Mais é necessário ter no mínimo 55 anos de idade. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas nos locais parceiros do Itaú Viver Mais.
A leitura para crianças está entre as atividades socioculturais, em que o Itaú convida adultos a ler para crianças, com o apoio da Fundação Itaú Social que oferta gratuitamente livros infantis a qualquer cidadão brasileiro a partir de um rápido cadastro no site da instituição.
Se você quer ser como nossos entrevistados e doar algumas horas de seu tempo para ler para uma criança, então se inscreva no Itaú Viver Mais. Maiores informações: Acesse Aqui
Referências
LOPES, Andrea. Trabalho voluntário entre idosos: a experiência americana e brasileira. Apresentado no Seminário Nacional Envelhecimento e Subjetividade: desafios para uma cultura de compromisso social, 2008. Disponível Aqui. Acesso em 02/11/2014.