Exemplos de determinação e superação são fundamentais, principalmente para pessoas que acham que a vida já não oferece o tanto de bom que elas esperam como legítimas merecedoras. São matérias que nos enchem de motivação e de expectativa. Dizemos: “Se eles conseguem, quem sabe eu, também, um dia, chegue lá e assim Deus me proporcione os louros da vitória”.
O problema é que as coisas não se dão da mesma maneira. Somos diferentes, sentimos os acontecimentos de forma muito particular e, por vezes, nos frustramos porque não conseguimos ser o ilustre outro ou os destemidos outros, como o maestro alemão Kurt Masur ou o pianista e maestro João Carlos Martins. Então, vamos as suas histórias, matérias que foram noticiadas recentemente pela mídia nacional e internacional.
O maestro alemão, aos 85 anos, comunicou publicamente que sofre de Parkinson e que quer continuar dirigindo, confirmou um porta-voz da Orquestra Gewandhaus de Leipzig.
A carta enviada pelo músico à orquestra e reproduzida em seu blog, diz: “Após refletir seriamente, decidi com minha esposa Tomoko e minha família anunciar oficialmente que sofro da doença de Parkinson há alguns anos”.
Ainda, na carta, o ex-diretor da Gewandhaus assegura que se encontra em tratamento médico desde que diagnosticou a doença e que tem intenção de realizar todos os concertos programados em sua agenda: “Fazer música é minha vida e estar em disposição de continuar com o que mais quero é para mim um grande privilégio e uma profunda alegria”.
Quando se tem amor por algo que, com o tempo, deixa de ser trabalho e se torna prazer, não há dificuldade que impeça o homem de seguir, apenas a “Maldita”, aquela que nos retira de cena, sem qualquer consentimento.
Recentemente, João Carlos Martins, durante palestra motivacional intitulada “Superando obstáculos: a música venceu”, afirmou o seguinte: “A vida não é feita só de tragédia, a vida é feita de humildade. Quando uma pessoa nasce é como uma flecha, ela tem que alcançar seu destino. Ela pode ter desafios, pode correr dos desafios, mas ela luta para manter aquela trajetória”.
Reconhecido internacionalmente como um dos maiores músicos clássicos brasileiros do século 20 e um dos maiores intérpretes do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), João Carlos Martins teve que interromper a carreira de pianista em decorrência de problemas físicos que afetaram suas mãos. A partir daí, o pianista passou a expressar sua paixão pela música por meio da regência de orquestras.
Conta o maestro que sua vida começou em 1899, quando nasceu seu pai, que gostaria de ter sido pianista e, às vésperas de sua primeira aula no instrumento, teve parte da mão decepada na gráfica em que trabalhava.
Em 1948 iniciou seus estudos de piano. Seis meses depois ganhou concurso nacional aos 13 anos de idade, dando início a sua carreira nacional. Aos 18 anos, passou a correr o mundo inteiro, levando o nome do Brasil a todos os continentes.
Aos 26 anos, em Nova York, veio a primeira adversidade, quando levou uma queda e rompeu um nervo da mão durante jogo de futebol com brasileiros que ele havia encontrado na cidade. O pianista submeteu-se a uma operação paliativa e continuou tocando com dedeiras de aço, que acabavam deixando sangue nas teclas do piano.
João Carlos Martins retornou então ao Brasil e, posteriormente, atingiu a plena forma, voltando a se apresentar para 2.800 pessoas no Carnegie Hall, em Nova York. Anos depois, já portador da Lesão por Esforço Repetitivo (LER), o pianista sofreu lesões em um assalto na Bulgária, ficando hospitalizado por alguns meses: “Fiz a operação, perdi a mão direita, sobrou a esquerda, eliminada mais tarde por um tumor”.
João Carlos Martins resolveu estudar regência após um sonho com o maestro brasileiro Eleazar de Carvalho: “Estou com 72 anos, e nos últimos oito realizei mais de mil concertos em grandes teatros no Brasil, no mundo e nas periferias das periferias, educando 2.200 crianças em projeto musical”.
Para João Carlos Martins, o que marcou a sua nova vida como maestro foi a busca pela excelência musical aliada à responsabilidade social.
Tanto Kurt Mansur como João Carlos Martins ousam na busca pelo novo, lutam como verdadeiros bandeirantes na conquista dos metais e pedras preciosas da difícil existência. Um brilho obtido à custa de sangue, suor e, por que não dizer de lágrimas também.
Referências
JUSCLIP (2012). Pianista e maestro João Carlos Martins fala de humildade e superação a servidores do Senado. Disponível Aqui. Acesso em 15/10/2012.
UOL (2012). Maestro Kurt Masur anuncia que sofre de Parkinson, mas seguirá trabalhando. Acesse Aqui. Acesso em 11/10/2012.