Juventude aos 60 anos - Portal do Envelhecimento e Longeviver
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Juventude aos 60 anos

A partir da imagem midiática de Geralda Diniz e sua participação no reality show Big Brother Brasil 2016, este texto busca refletir sobre a imagem do idoso a partir do contexto social e da “Modernidade Líquida”. A ideia é repensar sua posição social e suas possibilidades, a partir das mudanças próprias do envelhecer.

Andressa Aparecida Tobias Martins e Ruth Gelehrter da Costa Lopes *

 

Tendo em vista a valorização excessiva da juventude e as expectativas que lhe são atribuídas, refletiremos a posição que o idoso ocupa na sociedade e a influência deste em suas próprias perspectivas.

Um estudo realizado na Université de Montreal, por Champagne e Frennet, em 1997 (citado por Spínla, 2011), identificou os estereótipos mais presentes relativos aos idosos na sociedade, entre eles: não sociáveis, temem o futuro, gostam de jogar cartas, conversar e contar suas recordações, valorizam o apoio dos filhos, se consideram doentes, dependentes de medicação, fisicamente frágeis, sensíveis e inseguros, entre outras severas características. Diante disso, a ideia é repensar a posição do idoso no contexto social e, entre suas diversidades, o destaque do comportamento “moderno”, juvenil ou ativo, por meio de imagens midiáticas, como a de Geralda Diniz, participante da edição de 2016 do Big Brother Brasil da Rede Globo.

Entre os participantes do reality show, destaca-se essa senhora de 63 anos, quarta finalista do programa. Alguns participantes do programa a chamavam de “velha falsa”, “velha fofoqueira” e, perguntamos: por que ressaltar a velhice ao usar esses adjetivos?

“Vovó” seria apenas uma forma carinhosa de chamá-la, ou o termo estaria carregado de outros sentidos? “Gegê Fumacê”, era assim que constumavam chamá-la, devido ao consumo excessivo do cigarro.

Geralda “se enturmou” com todos os adversários, participou ativamente das festas e das provas, incluindo os desafios de resistência nos quais, muitas vezes, foi finalista, criando um forte vínculo com a vencedora Munik, uma jovem de 19 anos, além dos outros jovens da casa. Um destaque fica para o envolvimento em questões polêmicas, sempre expondo suas opiniões.

Resumindo, Geralda se mostrou mais ativa e influente do que muitos participantes jovens: ela dizia que tinha um sonho de participar do programa. Era comum vê-la manifestando sua alegria e demonstrando um desejo intenso de “curtir a vida”. Depois do programa, essa senhora participou de uma balada como DJ, realizou um ensaio fotográfico com um estilo roqueira, no qual foi apresentada como “solta, rebelde e destemida” e se inscreveu no concurso “Miss Bumbum Melhor Idade”, além de manter viva sua presença nas redes sociais, como Instagram (@geraldandiniz).

A partir deste perfil e de muitas outras “Geraldas” que apresentam um comportamento “juvenil”, vale pensar: Como elas se reconhecem? Como são vistas pela sociedade?

A imagem do idoso

À medida que o capitalismo nos oferece diversos produtos e os instituem como desejáveis; novos, ativos, mas constantemente modificados e descartáveis, estes produtos não são aprofundados, mas sim substituídos ou fragilizados. Com a “liquidez das coisas” (Bauman, 2001), esse contexto faz com que as pessoas transformem suas identidades no intuito de mascarar a própria realidade precária.

A identidade vem sendo problematizada na medida em que o mundo, principalmente por meio da mídia, nos dá alternativas que nos fortalecem em relação ao outro, como o consumo, a conduta ideal do indivíduo, entre outros aspectos. Com a constante transformação das coisas, e que também proporciona mais liberdade ao indivíduo, temos um emparelhamento com o Darwinismo Social, o idoso, se inativo, pode ser cada vez mais excluído por não acompanhar o ritmo das transformações sociais, ou pode ser incluído por sua adaptação.

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Apresentar um perfil mais jovem e moderno é uma das possibilidades do idoso, como vimos no comportamento de Geralda Diniz que mantém os “sinais” de envelhecimento – cabelo branco, corpo e roupas conservadoras; ou seja, simultaneamente assume sua velhice e apresenta uma conduta tipicamente juvenil. A partir disso, pode-se pensar: a velhice está no corpo ou na mente?

A maioria das pessoas demonstra repulsa por tudo que lhes é diferente, e por isso existe um padrão estabelecido. No aspecto físico a sociedade aprova pessoas magras “na medida certa”, homens musculosos, ausência de celulites ou estrias, rostos simétricos, entre outras características que podem ser consideradas como sinais de saúde. Também é desejável que as pessoas estejam sempre sorridentes, simpáticas e sociáveis, o que também aponta para uma saúde mental.

As indústrias desenvolvem diversos produtos e métodos que previnem os efeitos do envelhecimento precoce, como: cirurgias plásticas, maquiagens e etc., que nem sempre são acessíveis aos idosos, mas é interessante pensar que os “famosos” – atores e atrizes – pouco são vistos como velhos, pois possuem uma “mente jovem” e consequentemente também uma postura jovem, além de se cuidarem mais, visto que são estimulados pelo desejo da juventude.

Há jovens, adultos, e mesmo idosos que ridicularizam a conduta, “esse velho sem noção acha que é jovem para fazer tal coisa”, consideram uma negação da própria identidade, mas será que negam suas identidades ou os estereótipos? E até mesmo em relação à sexualidade, muitos acreditam que esta é inexistente por serem velhos demais. Essas são visões presentes na sociedade embora cada vez menos frequentes, afinal, muitas pessoas também defendem a liberdade do ser e a quebra do estereótipo.

Em uma relação entre atributos e estereótipos, constitui-se o estigma, uma marca do indivíduo através da qual se constrói ideias e expectativas da sociedade, o que dificulta uma atenção para outros atributos e cria novas imperfeições a partir da original (Goffman,1998). E é o que acontece com a marca da velhice e a construção social: “A questão do estigma não surge aqui, mas só onde há alguma expectativa, de todos os lados, de que aqueles que se encontram numa certa categoria não deveriam apenas apoiar uma norma, mas também cumpri-la” (Goffman, 1998).

E assim, os idosos modernos reagem de uma forma que muitos consideram agressiva, se rejuvenescem, seja fisiologicamente ou psicologicamente. Nestes casos em que a marca (velhice) é reinterpretada: “o que frequentemente ocorre não é a aquisição de um status completamente normal, mas uma transformação do ego: alguém que tinha um defeito particular se transforma em alguém que tem provas de tê-lo corrigido” (Goffman, 1998). Ou seja, um velho que se comporta como jovem não abandona sua velhice, apenas passa a ser um idoso com comportamento juvenil, mas assim rompe com as expectativas interpretando sua identidade de forma não convencional.

Reflexões finais

A forma como o idoso é visto na sociedade varia, embora ainda seja muito estigmatizada. Apesar de toda a influência social e do estigma que ainda é muito presente, cabe a pessoa mais velha exteriorizar sua perspectiva e lidar com as mudanças próprias do envelhecer, encarar a vida como uma constante transformação, e assim se manter ativo de forma que não só acumule experiências, mas também as vivencie, pois cada fase implica diferentes possibilidades, que podem ou não ser exploradas. Como diz o poeta Raul Seixas, “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Referências

Bauman, Z. Modernidade Líquida. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2001.

Goffman, E. Estigma – Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro, Editora LTC, 1988.

Spínla, C. Resenha: Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica. Disponível Aqui Acesso em: 08 ago. 2016.

* Andressa Aparecida Tobias Martins – Aluna do curso de graduação de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica – PUCSP, 5º semestre. Ruth Gelehrter da Costa Lopes – Supervisora Atendimento Psicoterapêutico à Terceira Fase da Vida. Profa. Dra. do Programa de Estudos Pós Graduados em Gerontologia e do Curso de Psicologia, FACHS. E-mail: ruthgclopes@pucsp.br. Imagem de divulgação do BBB e de Marcos Serra Lima – EGO.

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