Eu vou falar sobre o processo de envelhecimento em sociedades tradicionais Esse assunto constitui apenas um capítulo do meu último livro, que compara pequenas sociedades tribais tradicionais com nossas grandes sociedades modernas, em relação a diferentes tópicos como educar crianças, envelhecer, saúde, lidar com o perigo, solução de disputas, religião e falar mais de uma língua.
Traduzido por Amanda Ferreira/Revisado por Isabel M. Vaz Belchior *
Ok. Vocês são as pessoas para as quais minha palestra terá um valor prático. O restante de vocês não achará minha palestra pessoalmente relevante mas acho que, ainda assim, achará o assunto fascinante.
Eu vou falar sobre o processo de envelhecimento em sociedades tradicionais Esse assunto constitui apenas um capítulo do meu último livro, que compara pequenas sociedades tribais tradicionais com nossas grandes sociedades modernas, em relação a diferentes tópicos como educar crianças, envelhecer, saúde, lidar com o perigo, solução de disputas, religião e falar mais de uma língua.
Essas sociedades tribais, que constituíram todas as sociedades humanas da maioria da História Humana são muito mais diferenciadas do que as nossas grandes e recentes sociedades modernas.
Todas as grandes sociedades que têm governos, e onde a maioria das pessoas são estranhas umas às outras, são inevitavelmente similares entre si e diferentes das sociedades tribais. As tribos constituem milhares de experiências naturais de como desenvolver uma sociedade humana. Elas constituem experiências das quais nós mesmos podemos ser capazes de aprender. As sociedades tribais não devem ser tachadas de primitivas e miseráveis, mas também não devem ser romantizadas como felizes e pacíficas. Quando aprendemos sobre práticas tribais, algumas delas causar-nos-ão horror, mas há outras práticas tribais que, quando ouvimos falar sobre elas, podemos admirar e invejar e imaginar se podemos adotar essas práticas nós mesmos.
A maioria das pessoas idosas nos E.U.A. acaba por viver longe dos seus filhos e da maioria dos seus amigos de infância, e frequentemente vivem em diferentes casas de repouso para idosos, enquanto que nas sociedades tradicionais, pelo contrário, as pessoas idosas vivem as suas vidas com os seus filhos, outros familiares, e amigos de toda a vida. No entanto, o tratamento dos idosos varia enormemente entre as sociedades tradicionais, de muito pior a muito melhor do que nas nossas sociedades modernas.
No pior dos casos, muitas sociedades tradicionais livram-se dos seus idosos de quatro maneiras, cada uma mais rápida do que a anterior: Negligenciando os idosos e não os alimentando ou limpando até que morram; Ou abandonando-os quando o grupo se muda; Ou encorajando-os a cometer suicídio; Ou matando os idosos. Em que sociedades tribais é que os filhos abandonam ou matam os seus pais? Isso acontece principalmente sob duas condições. Uma é em sociedades nómadas de caçadores-recoletores que frequentemente trocam de acampamento e que são fisicamente incapazes de transportar pessoas idosas que não podem andar quando os jovens saudáveis já têm que carregar os seus próprios filhos e todos os seus pertences.
No extremo oposto do tratamento dos idosos, o extremo feliz, estão as sociedades agrícolas da Nova Guiné onde eu estive fazendo o meu trabalho de campo nos últimos 50 anos, e a maioria das outras sociedades tradicionais sedentárias ao redor do mundo. Nessas sociedades, as pessoas idosas recebem cuidados. Elas são alimentadas. Elas permanecem valorizadas. E elas continuam a viver na mesma cabana ou numa cabana perto dos seus filhos, familiares e amigos de toda a vida.
Existem dois conjuntos de razões para esta variação entre sociedades no tratamento das pessoas idosas. A variação depende especialmente da utilidade dos idosos e dos valores da sociedade.
Primeiro, em relação à utilidade, as pessoas idosas continuam a desempenhar serviços úteis. Um uso dos idosos nas sociedades tradicionais é que eles frequentemente ainda são ativos na produção de alimentos. Outra utilidade tradicional das pessoas idosas é que elas são capazes de tomar conta dos seus netos, libertando assim os seus filhos adultos, os pais desses netos, para irem caçar e recolher alimentos para os seus netos. Ainda um outro valor tradicional dos idosos é o fabrico de ferramentas, armas, cestaria, panelas e tecidos. De fato, eles são geralmente as pessoas que são melhores nisso. As pessoas idosas são normalmente líderes de sociedades tradicionais, e as pessoas que detêm mais conhecimento sobre política, medicina, religião, canções e danças.
Enfim, os idosos nas sociedades tradicionais têm uma importância enorme que jamais nos ocorreria nas nossas sociedades modernas e alfabetizadas, onde as nossas fontes de informação são os livros e a Internet. Pelo contrário, em sociedades sem um sistema de escrita, as pessoas idosas são repositórios de informação. É o seu conhecimento que dita a diferença entre a sobrevivência e a morte de toda a sociedade em tempos de crise, causados por eventos raros, dos quais só as pessoas mais velhas vivas têm experiência. Esses, então, são os meios pelos quais os idosos são úteis nas sociedades tradicionais. A sua utilidade varia e contribui para a variação no tratamento que a sociedade dá aos idosos.
O outro conjunto de razões para a mudança no tratamentos dos idosos são os valores culturais da sociedade. Por exemplo, há uma ênfase particular em relação aos idosos na Ásia Oriental, associada à doutrina de Confúcio de piedade filial, o que significa obediência, respeito e apoio aos pais idosos.
Valores culturais que enfatizam o respeito para com as pessoas mais velhas contrastam com o baixo estatuto dos idosos nos Estados Unidos. Os norte-americanos idosos estão em grande desvantagem na candidatura a um emprego. Eles estão em grande desvantagem nos hospitais. Os nossos hospitais têm uma política explícita chamada alocação de recursos de saúde baseada na idade. Essa expressão sinistra significa que se os recursos dos hospitais forem limitados, por exemplo, se um único doador de coração se tornar disponível para um transplante, ou se um cirurgião tiver tempo para operar apenas um certo número de pacientes, os hospitais norte-americanos têm uma política explícita de darem preferência aos pacientes mais jovens em detrimento dos mais velhos, pela razão de que os pacientes mais jovens são considerados mais úteis à sociedade porque eles têm mais anos de vida à frente, mesmo tendo os pacientes jovens menos anos de experiência de vida.
Existem muitas razões para este baixo estatuto dos idosos nos Estados Unidos. Uma é a nossa ética de trabalho protestante que dá alto valor ao trabalho, por isso as pessoas idosas que já não estiverem trabalhando não são respeitadas. Outra razão é nossa ênfase norte-americana nas virtudes da autoconfiança e independência, então, instintivamente, sentimo-nos superiores aos idosos por já não serem autoconfiantes e independentes. Uma terceira razão é a nossa cultura norte-americana da juventude, que é visível até mesmo na nossa publicidade. Os anúncios da Coca-Cola e de cerveja mostram sempre pessoas jovens sorrindo, mesmo que pessoas idosas como novas comprem e bebam Coca-Cola e cerveja. Pensem, quando foi a última vez que viram um anúncio de Coca-Cola ou de cerveja mostrando uma pessoa sorridente de 85 anos? Nunca. Em vez disso, os únicos anúncios norte-americanos que mostram pessoas de cabelos brancos são os de lares de idosos e planos de previdência.
O que mudou?
Mudanças para o pior começam com a realidade cruel de que nós temos mais idosos hoje e menos jovens do que em qualquer outra época no passado. Isso significa que todas essas pessoas idosas são mais um fardo para as poucas pessoas jovens e que cada pessoa idosa tem menos valor individual.
Outra grande mudança para pior no estatuto dos idosos é a quebra dos laços sociais com a idade, porque as pessoas idosas, os seus filhos, e os seus amigos, mudam-se e separam-se uns dos outros muitas vezes durante as suas vidas. Nós, norte-americanos, mudamo-nos em média de cinco em cinco anos. Assim, os nossos idosos tendem a acabar por viver longe dos seus filhos e dos seus amigos da juventude. Ainda outra mudança para pior no estatuto dos idosos é a aposentadoria ou saída do mercado de trabalho, que implica a perda dos companheiros de trabalho e a perda da autoestima associada ao trabalho.
Talvez a maior mudança para pior é que nossos idosos são objetivamente menos úteis do que são nas sociedades tradicionais. A literacia largamente difundida significa que eles já não são úteis como repositórios de conhecimento. Quando nós queremos alguma informação, nós procuramos num livro ou no Google em vez de procurar alguma pessoa idosa a quem perguntar. O lento andamento da mudança tecnológica nas sociedades tradicionais significa que o que alguém aprendeu em criança ainda é útil quando essa pessoa é velha, mas o rápido andamento da mudança tecnológica hoje significa que o que aprendemos em criança já não é útil 60 anos mais tarde. E do mesmo modo, nós, idosos, não somos fluentes nas tecnologias essenciais para sobreviver na sociedade moderna. Por exemplo, com 15 anos de idade, eu era considerado excelente em multiplicar números porque eu tinha memorizado as tabelas de multiplicação e eu sei como usar logaritmos e eu sou rápido em manipular uma régua de cálculo.
Hoje, no entanto, essas habilidades são totalmente inúteis porque qualquer idiota pode agora multiplicar números de oito dígitos de forma precisa e instantaneamente, com uma calculadora de bolso. Do mesmo modo, eu, com a idade de 75 anos, sou incompetente em competências essenciais para a vida diária. A primeira TV da minha família, em 1948, tinha apenas três botões que eu rapidamente dominei: um interruptor de ligar e desligar, um botão de volume, e um botão seletor de canais. Hoje, só para assistir a um programa na TV da minha própria casa, eu tenho que operar um controle remoto com 41 botões que me derrota totalmente. Tenho que telefonar para os meus filhos de 25 anos e pedir-lhes que me ajudem enquanto tento carregar naqueles malditos 41 botões.
O que podemos fazer para melhorar as vidas dos idosos nos Estados Unidos, e para fazer um melhor uso do seu valor?
Esse é um grande problema. Nos meus 4 minutos restantes, posso oferecer apenas algumas sugestões. Um valor das pessoas idosas é que elas são cada vez mais úteis como avós por oferecerem cuidados de alta qualidade aos seus netos, se eles escolherem fazer isso, à medida que mais mulheres jovens entram no mercado de trabalho e menos pais, de ambos os sexos, ficam em casa para cuidarem dos seus filhos o tempo todo. Em comparação com as alternativas habituais de amas pagas e creches, os avós oferecem um cuidado superior, motivado, e com experiência em cuidar de crianças. Eles já ganharam experiência ao criarem os seus próprios filhos. Eles geralmente amam os seus netos, e estão ansiosos por passar tempo com eles. Ao contrário de outras amas, os avôs não largam os seus empregos porque acharam outro com salário maior para cuidar de outro bebê.
Um segundo valor das pessoas idosas está, paradoxalmente, relacionado com a sua perda de valor como resultado da mudança das condições do mundo e da tecnologia. Ao mesmo tempo, pessoas idosas têm ganhado valor atualmente, exatamente graças à sua extraordinária experiência em condições de vida que hoje se tornaram raras devido à rápida mudança, mas que podem voltar. Por exemplo, somente os norte-americanos com 70 anos ou mais conseguem lembrar da experiência de viver na Grande Depressão, a experiência de viver numa guerra mundial, e de agonizar, a questionarem-se quanto ao lançamento de bombas atômicas (seria mais horrível do que as consequências de não lança-las).
A maioria dos nossos atuais eleitores e políticos não tem experiência pessoal em nenhuma dessas coisas, mas milhões de norte-americanos idosos têm. Infelizmente, todas essas terríveis situações podem voltar. Mesmo se elas não voltarem, nós temos que ser capazes de planejar para elas, com base na experiência de como elas ocorreram. As pessoas idosas têm essa experiência. As pessoas jovens não têm.
O valor remanescente dos idosos que eu mencionarei envolve reconhecer que embora existam muitas coisas que as pessoas idosas já não podem fazer, existem outras coisas que elas podem fazer melhor do que as pessoas jovens. Um desafio para a sociedade é fazer uso das coisas em que as pessoas idosas são melhores em fazer.
Algumas habilidades, é claro, diminuem com a idade. Nelas se incluem habilidades em tarefas que requerem força física e vigor, ambição, e a força de raciocínio inovador numa situação circunscrita, tal como entender a estrutura do ADN, mais bem entregue a cientistas com menos de 30 anos. Porém, nos atributos úteis que aumentam com a idade inclui-se a experiência, entendimento de pessoas e relações humanas, habilidade para ajudar outras pessoas sem o seu próprio ego afetar o processo, e pensamento interdisciplinar sobre grandes bases de dados, como a economia e a História Comparativa, mais bem entregue a estudiosos com mais de 60 anos. Assim, as pessoas idosas são muito melhores do que as pessoas jovens em supervisionar, administrar, aconselhar, planejar estratégias, ensinar, sintetizar, e planejar a longo prazo.
Eu tenho visto o valor das pessoas idosas em tantos amigos meus que andam pelos 60 anos, 70, 80 e 90 anos, que ainda são ativos como gerentes de investimento, agricultores, advogados e médicos.
Em resumo, muitas sociedades tradicionais fazem melhor uso dos seus idosos e dão aos seus idosos vidas mais satisfatórias do que nós damos em sociedades grandes e modernas.
Paradoxalmente, hoje, quando temos mais pessoas idosas do que nunca, vivendo vidas mais saudáveis e com melhores cuidados médicos do que nunca, a idade avançada é em alguns aspectos mais miserável que nunca. As vidas dos idosos são amplamente reconhecidas como constituindo uma área desastrosa da moderna sociedade norte-americana. Certamente podemos fazer melhor se aprendermos com as vidas dos idosos nas sociedades tradicionais. Mas o que é verdade sobre as vidas dos idosos nas sociedades tradicionais é verdade em muitos outros fatores das sociedades tradicionais também. É claro, não estou defendendo que todos desistamos da agricultura e das ferramentas de metal para retornarmos ao estilo de vida dos caçadores-recoletores.
O que mudou?
O que mudou no estatuto dos idosos hoje em comparação com o seu estatuto nas sociedades tradicionais? Houve pequenas mudanças para melhor e mais mudanças para pior. Grandes mudanças para melhor incluem o fato de que hoje nós desfrutamos de muitos mais anos de vida, de uma saúde muito melhor na nossa idade avançada, e de oportunidades de lazer bem melhores. Outra mudança para melhor é que nós hoje temos instalações especializadas para a aposentadoria e programas de cuidados aos idosos.
Mudanças para o pior começam com a realidade cruel de que nós temos mais idosos hoje e menos jovens do que em qualquer outra época no passado. Isso significa que todas essas pessoas idosas são mais um fardo para as poucas pessoas jovens e que cada pessoa idosa tem menos valor individual.
Outra grande mudança para pior no estatuto dos idosos é a quebra dos laços sociais com a idade, porque as pessoas idosas, os seus filhos, e os seus amigos, mudam-se e separam-se uns dos outros muitas vezes durante as suas vidas. Nós, norte-americanos, mudamo-nos em média de cinco em cinco anos. Assim, os nossos idosos tendem a acabar por viver longe dos seus filhos e dos seus amigos da juventude. Ainda outra mudança para pior no estatuto dos idosos é a aposentadoria ou saída do mercado de trabalho, que implica a perda dos companheiros de trabalho e a perda da autoestima associada ao trabalho.
Talvez a maior mudança para pior é que nossos idosos são objetivamente menos úteis do que são nas sociedades tradicionais. A literacia largamente difundida significa que eles já não são úteis como repositórios de conhecimento. Quando nós queremos alguma informação, nós procuramos num livro ou no Google em vez de procurar alguma pessoa idosa a quem perguntar. O lento andamento da mudança tecnológica nas sociedades tradicionais significa que o que alguém aprendeu em criança ainda é útil quando essa pessoa é velha, mas o rápido andamento da mudança tecnológica hoje significa que o que aprendemos em criança já não é útil 60 anos mais tarde. E do mesmo modo, nós, idosos, não somos fluentes nas tecnologias essenciais para sobreviver na sociedade moderna. Por exemplo, com 15 anos de idade, eu era considerado excelente em multiplicar números porque eu tinha memorizado as tabelas de multiplicação e eu sei como usar logaritmos e eu sou rápido em manipular uma régua de cálculo.
Hoje, no entanto, essas habilidades são totalmente inúteis porque qualquer idiota pode agora multiplicar números de oito dígitos de forma precisa e instantaneamente, com uma calculadora de bolso. Do mesmo modo, eu, com a idade de 75 anos, sou incompetente em competências essenciais para a vida diária. A primeira TV da minha família, em 1948, tinha apenas três botões que eu rapidamente dominei: um interruptor de ligar e desligar, um botão de volume, e um botão seletor de canais. Hoje, só para assistir a um programa na TV da minha própria casa, eu tenho que operar um controle remoto com 41 botões que me derrota totalmente. Tenho que telefonar para os meus filhos de 25 anos e pedir-lhes que me ajudem enquanto tento carregar naqueles malditos 41 botões.
O que podemos fazer para melhorar as vidas dos idosos nos Estados Unidos, e para fazer um melhor uso do seu valor?
Esse é um grande problema. Nos meus 4 minutos restantes, posso oferecer apenas algumas sugestões. Um valor das pessoas idosas é que elas são cada vez mais úteis como avós por oferecerem cuidados de alta qualidade aos seus netos, se eles escolherem fazer isso, à medida que mais mulheres jovens entram no mercado de trabalho e menos pais, de ambos os sexos, ficam em casa para cuidarem dos seus filhos o tempo todo. Em comparação com as alternativas habituais de amas pagas e creches, os avós oferecem um cuidado superior, motivado, e com experiência em cuidar de crianças. Eles já ganharam experiência ao criarem os seus próprios filhos. Eles geralmente amam os seus netos, e estão ansiosos por passar tempo com eles. Ao contrário de outras amas, os avôs não largam os seus empregos porque acharam outro com salário maior para cuidar de outro bebê.
Um segundo valor das pessoas idosas está, paradoxalmente, relacionado com a sua perda de valor como resultado da mudança das condições do mundo e da tecnologia. Ao mesmo tempo, pessoas idosas têm ganhado valor atualmente, exatamente graças à sua extraordinária experiência em condições de vida que hoje se tornaram raras devido à rápida mudança, mas que podem voltar. Por exemplo, somente os norte-americanos com 70 anos ou mais conseguem lembrar da experiência de viver na Grande Depressão, a experiência de viver numa guerra mundial, e de agonizar, a questionarem-se quanto ao lançamento de bombas atômicas (seria mais horrível do que as consequências de não lança-las).
A maioria dos nossos atuais eleitores e políticos não tem experiência pessoal em nenhuma dessas coisas, mas milhões de norte-americanos idosos têm. Infelizmente, todas essas terríveis situações podem voltar. Mesmo se elas não voltarem, nós temos que ser capazes de planejar para elas, com base na experiência de como elas ocorreram. As pessoas idosas têm essa experiência. As pessoas jovens não têm.
O valor remanescente dos idosos que eu mencionarei envolve reconhecer que embora existam muitas coisas que as pessoas idosas já não podem fazer, existem outras coisas que elas podem fazer melhor do que as pessoas jovens. Um desafio para a sociedade é fazer uso das coisas em que as pessoas idosas são melhores em fazer.
Algumas habilidades, é claro, diminuem com a idade. Nelas se incluem habilidades em tarefas que requerem força física e vigor, ambição, e a força de raciocínio inovador numa situação circunscrita, tal como entender a estrutura do ADN, mais bem entregue a cientistas com menos de 30 anos. Porém, nos atributos úteis que aumentam com a idade inclui-se a experiência, entendimento de pessoas e relações humanas, habilidade para ajudar outras pessoas sem o seu próprio ego afetar o processo, e pensamento interdisciplinar sobre grandes bases de dados, como a economia e a História Comparativa, mais bem entregue a estudiosos com mais de 60 anos. Assim, as pessoas idosas são muito melhores do que as pessoas jovens em supervisionar, administrar, aconselhar, planejar estratégias, ensinar, sintetizar, e planejar a longo prazo.
Eu tenho visto o valor das pessoas idosas em tantos amigos meus que andam pelos 60 anos, 70, 80 e 90 anos, que ainda são ativos como gerentes de investimento, agricultores, advogados e médicos.
Em resumo, muitas sociedades tradicionais fazem melhor uso dos seus idosos e dão aos seus idosos vidas mais satisfatórias do que nós damos em sociedades grandes e modernas.
Paradoxalmente, hoje, quando temos mais pessoas idosas do que nunca, vivendo vidas mais saudáveis e com melhores cuidados médicos do que nunca, a idade avançada é em alguns aspectos mais miserável que nunca. As vidas dos idosos são amplamente reconhecidas como constituindo uma área desastrosa da moderna sociedade norte-americana. Certamente podemos fazer melhor se aprendermos com as vidas dos idosos nas sociedades tradicionais. Mas o que é verdade sobre as vidas dos idosos nas sociedades tradicionais é verdade em muitos outros fatores das sociedades tradicionais também. É claro, não estou defendendo que todos desistamos da agricultura e das ferramentas de metal para retornarmos ao estilo de vida dos caçadores-recoletores.
Estes são apenas alguns exemplos do que podemos aprender com as sociedades tradicionais. Eu espero que vocês achem tão fascinante ler sobre as sociedades tradicionais como eu achei viver nessas sociedades.
Obrigado.
(*)Jared Diamond é zoólogo de formação, e, nos últimos anos, praticante de uma área a que chama “biogeografia”, em que tenta explicar a evolução das sociedades através de condicionantes biológicas e evolutivas, como os recursos agrícolas disponíveis. É autor de livros como Armas, Germes e Aço (Relógio d’Água) vencedor do Prêmio Pulitzer e Colapso (Gradiva), em que fala dos fatores que levaram ao sucesso histórico das sociedades (no primeiro) e os que podem levar ao seu fracasso (o segundo). Seu site: Acesse Aqui
Palestra ministrada no Ted2013, em março de 2013, e postado em novembro de 2013: Acesse Aqui