Letícia Orlandi *
Para muitas pessoas que passaram dos 60 anos, a experiência da chegada dos netos significa reviver a rotina de cuidados que havia com os filhos pequenos, da alimentação à hora de escovar os dentes. A dica é transformar essa “volta ao passado” em oportunidade para cuidar da própria saúde bucal, seguindo orientações específicas.
A principal dica é a higiene bem feita, com escovação após todas as refeições, ensina o Odontogeriatra e Doutor pela Faculdade de Odontologia da USP, Fernando Luiz Brunetti Montenegro, coordenador de cursos de Especialização em Odontogeriatria na ABO-SP e NAP Instituto e coautor de dois livros de Odontogeriatria (2002, 2013).
Pode parecer óbvio, mas cada dente desempenha um papel importante na fala, mastigação, nutrição, autoestima e bem-estar geral. Por isso, as pessoas devem ficar atentas às outras recomendações do especialista:
a) Sempre conversar com o médico e o dentista sobre medicamentos e suas doses. Automedicação não é recomendável, pois algumas substâncias reduzem a saliva, facilitando o acúmulo de alimentos e abrindo caminho para cáries, mau hálito e problemas nas gengivas;
b) Ao menos uma vez por dia, limpar entre os dentes com fio dental ou escova interdental, sempre com a orientação do dentista;
c) Evitar alimentos açucarados ou, se comer, fazer a higiene imediatamente;
d) Higienizar, uma vez por dia, a porção posterior da língua com um limpador de plástico;
e) Visitar o dentista de seis em seis meses para ações preventivas e manutenção de próteses.
Montenegro, autor pioneiro da Odontogeriatria no Brasil e Coordenador de cursos sobre o tema na Associação Brasileira de Odontologia, alerta que a negligência com esse aspecto da saúde traz consequências graves, entre elas:
1) Inflamações gengivais podem prejudicar o controle de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão; e até causar perda óssea e amolecimento dos dentes.
2) Algumas pneumonias e infecções respiratórias poderiam ser minimizadas com o simples uso do limpador adequado para alcançar a parte de trás da língua. “Essa área é considerada um verdadeiro criadouro de micro-organismos, que podem realimentar a infecção”, explica Dr. Montenegro.
3) Bactérias presentes em inflamações gengivais podem contribuir para obstruções cardíacas e agravar a endocardite bacteriana, infecção que afeta as válvulas e o tecido que reveste o coração.
4) Anemias diversas podem ser fruto de mudanças na dieta, causadas por incômodos como má adaptação à prótese, cáries, perda de dentes, retração gengival e redução da saliva. Ou seja, a condição bucal precária impede que o corpo receba nutrientes importantes.
5) A autoestima é prejudicada pela falta de acompanhamento das próteses. Com o desgaste, vem o incômodo. O idoso acaba tirando a prótese e restringindo a dieta. “O resultado é um rosto murcho e maior dificuldade de adaptação a uma nova prótese, o que gera até depressão”, alerta o odontogeriatra.
As doenças periodontais não precisam fazer parte da vida de quem passou dos 60, ao contrário do que diz a crença popular. Elas podem ser evitadas com a ajuda de profissionais qualificados.
“Quando ensinamos um idoso a escovar os dentes corretamente e ele reconhece a nossa preocupação com a sua saúde bucal, aí ganhamos o dia”, conclui Fernando Montenegro.
* Letícia Orlandi – jornalista e editora de conteúdo. Matéria publicada no Portal UOL-Saúde e atualizada para a presente publicação, encaminhada por Fernando Montenegro, membro da rede de colaboradores do Portal do Envelhecimento.