O I Seminário de Gerontologia – Formação e Pesquisa, organizado pela Faculdade de Educação e o curso de Pós-Graduação em Gerontologia – UNICAMP, ocorreu em Campinas-SP no período de 26 a 28 de abril, visando debater e divulgar as pesquisas e estudos entre os coordenadores, docentes e alunos das quatro instituições de pós-graduação Stricto Sensu brasileiras, atuantes nesta área científica.
Vera Brandão e Livia Cristina Carvalho
Um expressivo número de alunos, de professores e os coordenadores do mestrado em Gerontologia da UNICAMP, receberam mais de 21 mestrandos da PUC-SP, os coordenadores e alguns dos docentes do Programa, tanto nas mesas-redondas quanto no plenário. Estiveram também presentes nas atividades os coordenadores e professores da PUC-RS e da UCB que discutiram amplamente os temas pertinentes aos trabalhos de docência, orientação e pesquisa.
A dinâmica das exposições baseou-se em mesas-redondas, seguidos de debates com perguntas e contribuições do plenário. Os títulos das mesas-redondas foram construídos a partir dos temas das linhas de pesquisas do mestrado da UNICAMP, e os representantes das outras instituições deveriam relacioná-los e adaptá-los segundo as semelhanças e singularidades das linhas de pesquisas e atuações exercidas nas suas práticas de trabalho.
Além das palestras que abordaram importantes enfoques de pesquisas em gerontologia, a apresentação de pôsteres possibilitou conhecer e divulgar as produções acadêmicas dos participantes do evento.
O vídeo apresentado pelo seminário – O que é gerontologia?-, mostrou o quanto este termo e seu significado é desconhecido na comunidade científica, reflexo da própria sociedade que desconhece a diversidade do envelhecimento em seus aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais, que se entrelaçam ao longo da vida e se alteram na velhice, evidenciado a complexidade do tema, ainda inovador e desafiante.
Os Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia no Brasil – tema da primeira exposição do seminário, foram discutidos e analisados pelas professoras Doutoras Valdemarina Bidone de Azevedo e Souza, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia Biomédica da PUC-RS; Suzana A. Rocha Medeiros, Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da PUC-SP; Lucy Gomes Vianna, docente do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília e Anita Liberalesso Néri, Coordenadora do Programa de Pós Graduação da UNICAMP. Cada uma narrou o surgimento dos referidos programas, suas estruturas e as dinâmicas de produções de pesquisas e estudos. Foi interessante perceber que trilham caminhos semelhantes e têm alguns objetivos comuns, mas refletem sobre o processo de envelhecer de maneiras singulares, a partir de suas propostas curriculares o que não impedem o diálogo teórico, tornando-o mais rico e estimulante.
Da esquerda para a direita:
Profa. Dra. Valdemarina Bidone de Azevedo e Souza
Coord. Programa de Pós Graduação em Gerontologia Biomédica – PUC – RS.
Profa. Dra. Suzana A. Rocha Medeiros
Coord. Programa de Pós-Graduação em Gerontologia – PUC-SP
Profa. Dra. Lucy Gomes Vianna
Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília.
Profa. Dra. Anita Liberalesso Neri
Coord. Programa de Pós Graduação da UNICAMP.
Velhice bem-sucedida e personalidade foi o tema que norteou as exposições da mesa-redonda composta pela profa. Dra. Valdemarina B.A. Souza (PUC-RS) que se fundamentou nas idéias de Edgar Morin; a profa. Dra. Ruth G. da C. Lopes (PUC-SP) preferiu não utilizar as categorias “bem-sucedida” e nem “personalidade”, entendendo que estes termos são incompatíveis com a construção da subjetividade, abordagem de suas pesquisas em psicogerontologia. Nesta perspectiva reflete sobre “qual o sentido da vida?”, apresentando as pesquisas realizadas em dissertações sobre sua orientação que ilustravam o enfoque escolhido. Finalmente a prof.Dra. Mônica A. Yassuda (UNICAMP) apresentou sua análise do tema com enfoque mais cognitivo, através do conceito da “auto-eficácia”, assim como suas hipóteses e os resultados alcançados.
Da esquerda para a direita:
Profa. Dra. Valdemarina Bidone de Azevedo e Souza – Representante PUC-RS
Profa. Dra. Ruth Gelehrter da Costa Lopes – Representante da PUC-SP
Profa. Dra. Mônica Sanches Yassuda – Representante da UNICAMP
Apresentação de Pôster
Outra discussão interessante resultou da mesa-redonda: Construção Sócio Cultural da Velhice – que mostrou que apesar de haver os aspectos biológicos e psicológicos na velhice, a questão cultural é marcante em várias sociedade de diferentes épocas. Para profa. Dra. Elisabeth F. Mercadante (PUC-SP) a cultura parte de uma interpretação simbólica, tema abordado em sua pesquisa de doutorado – A construção da identidade e da subjetividade do idoso. Como parte dos resultados, apresentado através das entrevistas, verificou que os sujeitos pesquisados não se percebiam como velhos, o velho é o “outro”, nunca ele mesmo. A profa. Dra. Olga R. M Von Simson (UNICAMP) abordou o tema da história oral e história de vida como registro dos depoimentos dos velhos e sua experiência com pesquisas em gerontologia; o prof. Dr. Vicente Faleiros (UCB) apresentou um gráfico analisando o que denominou – a teia da vida no envelhecimento ativo.
Construção Sócio Cultural da Velhice
Profa. Dra. Valdemarina Bidone de Azevedo e Souza – Representante PUC-RS
Profa. Dra. Elisabeth Frölich Mercadante – Representante da PUC-SP
Profa. Dra. Olga Rodrigues de Moraes Von Simson – Representante da UNICAMP
Prof. Dr. Faleiros – Representante da Universidade Católica de Brasília
O tema: A Qualidade de vida na Velhice e Educação norteou a mesa-redonda que apresentou propostas de pesquisas relacionando a questão educacional através da interdisciplinariedade. A prof. Dra. Dalva M. Pereira Padilha (PUC-RS) apontou os vários passos necessários antes de se concretizar um trabalho interdisciplinar, principalmente nas áreas que envolvem a saúde. Afirmou que: – o corpo humano é um labirinto, e as ciências de saúde defrontam-se diariamente com este labirinto. O envelhecimento deve ser encarado como um processo, e interagir com as mudanças deste processo é como montar um quebra-cabeça (puzzles).
A experiência apresentada pela profa. Dra. Vera Brandão (PUC-SP) foi a construção proposta por meio da Oficina de Memória Autobiográfica: teoria e prática, desenvolvida tanto para profissionais que trabalham com o envelhecimento, quanto para os próprios idosos. A metodologia utilizada fundamenta-se, teoricamente, nas pesquisas realizadas para dissertação de mestrado e para a tese de doutorado em Antropologia, fato que certifica e possibilita a validação acadêmica desta proposta de intervenção. Na Oficina além dos estudos de fontes teóricas sobre memória sócio-afetiva, exercita-se a escuta sensível e o compartilhar nas vivências, mergulhando nas trajetórias trazidas pelas histórias pessoais de cada participante. Ressalta as dificuldades do trabalho, já que as emoções afloram daí a importância de sermos mais sensíveis, como profissionais na atuação junto ao segmento idoso.
A profa. Dra. Maria José D’Elboux Diogo (UNICAMP) integrante do grupo de pesquisa: Velhice, qualidade de vida e educação, refletiu sobre o tema a partir de um breve histórico sobre qualidade de vida e o conceito utilizado pela OMS e outros autores específicos desta área. Quanto à qualidade de vida na velhice apresentou algumas pesquisas desenvolvidas como dissertações e produções publicadas acerca da temática. Para o prof. Dr. Vicente Paulo Alves (UCB) que coordena o grupo de pesquisa: Religiosidade e atitude diante da morte em idosos -RAMI os estudos visam propor a longevidade com qualidade de vida, a partir de um auto-conceito positivo do idoso, apoiado na espiritualidade.
Na ocasião foi realizado o lançamento do livro CINEDEBATE – cinema, velhice e cultura, de autoria da profa.Dra. Neusa M.M.Gusmão, que também conduziu o debate sugerido pelo interessante vídeo: Umas velhices. Um caleidoscópio de idéias sobre o envelhecer realizado pelo SESC, com vários depoimentos pessoais de velhos e trechos de vários autores – dramaturgos, poetas, etc – que se sensibilizaram com o tema. O debate aqueceu as reflexões, levantou hipóteses e inquietações, dos participantes estimulando a todos para prosseguir a laboriosa tarefa de trilhar os caminhos que nos levam a conhecer a(s) velhice(s).
Outras experiências foram apresentadas: a primeira turma de graduação em Gerontologia na USP (Leste) e os desafios encontrados na construção da grade curricular, além de definir e construir o conselho profissional de fiscalização. A demanda diversificada para o curso de especialização oferecido prioritariamente para área da saúde demonstra o crescente interesse de profissionais em qualificar-se, tema apresentado pela profa. Dra. Maria Helena Guariento e a profa. Dra. Laura Ward do curso de Especialização em Geriatria da Faculdade de Ciências Médicas – UNICAMP).
O evento culminou com a elaboração de dois documentos, um endereçado a CAPES e outro ao CNPQ, alertando para as necessidades desta nova área do saber, além da proposta da criação de um Fórum de Discussão para pesquisadores em Gerontologia com a participação dos quatro cursos de pós-graduação presentes neste seminário -PUC-SP, PUC-RS, UCB e UNICAMP. Vale destacar, a interação e troca de experiência entre os representantes das instituições de pós-graduação acima mencionadas, docentes, discentes e pesquisadores.
Fotos: Aline Pedrosa – pesquisadora mentora