Algumas mulheres, muitas vezes, nem imaginam o impacto de suas declarações à mídia. Recentemente, a frase comentada foi dada pela atriz Suely Franco (foto), 72 anos de idade e 52 de carreira.
Ela conta como aconteceu sua carreira de atriz, lembra como era fazer TV ao vivo e confessa que decidiu se separar do marido depois de se preparar para a peça “Amanhã, Amélia, de Manhã”, de Aderbal Freire Filho. “Quando fiz a peça, participamos de laboratórios e escutava o que as pessoas diziam a respeito da Amélia. E era uma coisa horrorosa. Na época, pensei: ‘meu Deus, eu sou isso, eu sou essa Amélia!’. E aí o meu casamento acabou (risos)”, afirmou.
Frases como essa, vindas de um famoso, mobilizam as opiniões, provocam reflexões sobre a condição vivida e levam, em alguns casos, a decisões ou rupturas importantes e que acarretam consequências não apenas para a própria pessoa, mas também para aqueles que fazem parte do contexto. Não estamos sós.
Ser ou não Amélia, é uma situação ou escolha e não cabe julgamento. É difícil avaliar as condições em que cada um vive, como estabelece suas relações e qual a história de vida e familiar. Criticar seria covardia, até porque existem muitas Amélias disfarçadas em grandes executivas. De tudo, o que vale é o caminho que leva à determinada situação, a experiência ou aprendizado, frutos de reflexão e, na maior parte das vezes, de muito sofrimento.
Suely Franco: como tudo começou
Em entrevista à Uol, a atriz Suely Franco disse ter entrado no mundo artístico ao fazer São João Batista na Paixão de Cristo em um grupo de igreja junto com suas primas quando ainda era criança. Sua família, italiana, participava de grupos de teatro na igreja. Tinha uma prima, cantora lírica, uma tia pianista e aos domingos, naqueles programas italianos, a família inteira abria a goela. “Minha mãe tinha uma voz muito parecida com a de uma grande cantora lírica alemã… E mamãe nunca tinha estudado e acompanhava ela. Tinha uma voz maravilhosa. Então essa coisa de que eu querer ser artista foi uma realização para ela. Porque meu avô tirou minha mãe da escola, ela queria ser professora. Para meu avô ela não precisava ir para a escola, já que ia casar e ir para o fogão e para o tanque e não precisava de muito mais. Então essa coisa de estudar, de botar para a fora a arte, para ela era maravilhoso”. Assim, aos sete anos Suely Franco foi fazer rádio infantil na Rádio Roquete Pinto, sempre acompanhada por sua mãe.
Seu pai era oficial da Marinha Mercante e por conta do trabalho passava pouco tempo em casa, fazendo com que sua mãe tomasse conta de tudo. Segundo Suely, ele não se incomodava, e tinha o maior orgulho dela. “Ele tinha fotografias minhas. Ele fazia uma coisa que ninguém fazia naquele tempo que era tirar fotografia da televisão”.
Suely Franco adora atuar, tanto é assim que trabalhar para ela é como se fosse para o circo ou parque de diversão. Ela comentou uma frase de Confúcio que diz: “quem faz o que gosta nunca trabalha”. Segundo ela, ao fazer tantos papeis acaba “descobrindo coisas dentro da gente também”. Atualmente, além de estar atuando na novela, ela também está em cartaz com a peça “Seis Aulas de Dança em Seis Semanas”, dirigida por de Ernesto Piccolo.
Segundo Suely, na peça de teatro, “Minha personagem chama um professor, que é o Tuca Andrada, para fazer aula de dança em casa. Os dois são completamente diferentes. Ela é toda fina e recatada. Já ele fala palavrão e diz as coisas que vêm na cabeça. Os dois têm muitos problemas. Conforme a peça vai para a frente, um ajuda o outro a resolver os problemas. E acaba aquela diferença de idade, de educação… No fim um ajuda o outro. É uma comédia que fala de coisas fortes, como injustiça, preconceito. Trata de assuntos que todo mundo conhece e passa. Mas é para cima, apesar de falar de questões fortes”.
Assim como Suely Franco, Zarifa decidiu o rumo de sua vida. Fez grandes mudanças, ousou e aconteceu. Com 15 filhos e 36 netos, esta mulher corajosa de 50 anos, é responsável pela administração da vila de Naw Abad, no Afeganistão, e também atua como uma espécie de xerife local. A tarefa às vezes lhe exige usar roupas masculinas e até um bigode falso para não chamar a atenção enquanto dirige sua motocicleta à noite.
Ela conta: “Eu digo para os homens da vila: eu só preciso de suas preces. Quando vocês tiverem um problema, eu falarei com o governador em seu nome. Quando houver confusão à noite, vou pegar a minha arma e conferir o que está acontecendo”.
Vejam que Zarifa vive no Afeganistão, um país comandado por homens, onde o poder está em mãos masculinas e autoritárias. Pensar na trajetória de vida trilhada por essa mulher para chegar à posição de respeito que tem hoje, é algo, para nós mulheres ocidentais bastante complexo.
Determinada, ela se candidatou a um cargo no Parlamento afegão em 2004, prometendo levar eletricidade para Naw Abad. Na época, virou piada entre os homens da vila, mas mesmo após perder a eleição cumpriu a promessa. E a ironia é que dois anos mais tarde, os mesmos homens apoiaram sua candidatura para líder do vilarejo, na província de Balkh, no norte do Afeganistão.
O que a fez reconhecida pelos homens do vilarejo, até então detentores do poder, é, provavelmente sua luta e garra para conseguir benfeitorias, justiça e uma condição de vida melhor para todos.
Exercendo um papel de fiscal atenta, Zarifa, atualmente vigia as redes de distribuição de eletricidade com especial zelo e se alguém tenta fazer um “gato”, como ela mesma diz, uma conexão clandestina com a rede elétrica, está pronta para agir. Ela explica: “Não posso deixar que isso aconteça porque temos que respeitar a lei”.
“Quando algo acontece na vila à noite, tenho de agir rápido. Coloco roupas de homem e saio em minha motocicleta”, afirma Zarifa. É triste ver que ainda é preciso que uma mulher use roupas masculinas para evitar chamar a atenção.
Defensora da igualdade entre homens e mulheres, Zarifa patrocinou a construção da primeira mesquita de Naw Abad, na qual homens e mulheres rezam juntos, ao contrário do que ocorre nas principais mesquitas do país.
Ela defende: “Quando as pessoas perceberam os avanços que eu estava conseguindo com esses projetos, começaram a fazer sua parte. Agora elas podem rezar em seu próprio vilarejo e os meninos da região não precisam ir longe para aprender sobre o Corão”.
Se Zarifa é casada? Como um homem afegão lidaria com uma mulher tão diferente do padrão da região? Bem, é difícil explicar, até porque a história da sua vida de casada fica um tanto nebulosa. Ela conta que se casou com dez anos de idade e aos 15 já era mãe. Ela passou a maior parte de sua vida em um vilarejo remoto com a família do marido. Em suas palavras, era pouco mais que uma serviçal.
Quando o Talebã tomou o poder, Zarifa se mudou com a família para a capital regional, Mazar-e-Sharif, e começou a trabalhar como voluntária em projetos de vacinação infantil e alfabetização de meninas.
Hoje, além de líder política do vilarejo, ela também é chefe do conselho local de mulheres e organiza reuniões em sua casa para encorajar outras mulheres a seguirem o seu exemplo.
Num desses encontros ela diz: “Eu era dona de casa como vocês. Hoje, eu posso me reunir com 1.000 pessoas. Discuto os mais variados temas com autoridades. No Ocidente, as mulheres podem ser presidentes. Essas mulheres são corajosas e podem conseguir muito”.
Zarifa e Suely, mulheres engajadas, lutadoras e que tomaram suas vidas nas mãos e decidiram seus caminhos. Sozinhas, sem um companheiro? Pode ser, mas felizes e realizadas, como tantas que conhecemos.
Referências
NEVES, C. (2012). No ar em “Amor Eterno Amor”, Suely Franco diz que largou o marido para deixar de ser Amélia. Disponível Aqui. Acesso em 20/06/2012.
HEGARTY, S. (2012). Avó de 36 netos é xerife de vilarejo afegão com ajuda de bigode falso. Disponível Aqui. Acesso em 02/06/2012.