Gislaine Gil é literalmente apaixonada pelo que faz e talvez por isso está sempre sorrindo. Sempre de bem com a vida. Não desiste ante as adversidades, pois reconhece que elas fazem parte do processo de conhecimento e desenvolvimento pessoal.
Beltrina Côrte
Gislaine, por que decidiu fazer mestrado sobre envelhecimento?
Durante nove anos avaliando o funcionamento cognitivo e emocional de idosos com suspeita diagnóstica de alteração cerebral no Hospital das Clínicas e na Santa Casa de São Paulo, as perguntas que me fazia repetidamente eram: “E agora, como ajudar a ressignificar uma vida cognitiva e emocional após a confirmação de modificações cerebrais?”, “Como acalentar pessoas que têm preocupações futuras com sua memória, decorrente do medo de ficar igual a seus parentes mais íntimos com a doença de Alzheimer?”, “Como promover a saúde mental e postergar o declínio cognitivo?”… Percebi então que necessitava entender melhor o processo de envelhecimento e me dedicar à promoção de saúde optando pelo Mestrado em Gerontologia.
Como se decidiu pelo tema de pesquisa e como foi o seu desenvolvimento?
O tema de pesquisa surgiu dos dados científicos positivos provenientes da área de Neuropsicologia e Reabilitação Neuropsicológica sobre existir plasticidade cerebral em todas as faixas etárias. Logo, observei que seria possível um trabalho de estimulação cognitiva para adultos e idosos, a fim de minimizar os problemas de memória e atenção. A convicção de que as relações pessoais e afetivas são a unidade fundamental da nossa sociedade moldou o meu propósito de sistematizar um programa de estimulação cognitiva que fosse em grupo. Trazer pessoas que pudessem trabalhar em equipe foi o segundo passo a tomar. Nesse momento, um fisioterapeuta, duas terapeutas cognitivo-comportamentais, uma nutricionista, um geriatra e uma cantora lírica foram convidados a trazerem sua expertise ao programa adquirindo uma perspectiva renovadora e reenergizante; tornando-se um programa de estimulação cognitiva multidisciplinar.
A que resultados você chegou?
Os resultados sugerem que o programa intergeracional multidisciplinar de estimulação cognitiva em um grupo de pessoas acima de 30 anos com alta escolaridade teve impacto muito positivo, pois melhorou o funcionamento da atenção e da memória, além da diminuição de sintomas depressivos e ansiosos. Comprovou que é possível diferentes gerações conviver e aprender uma com a outra e que no final o que importa são as relações afetivas. Portanto, esta estratégia mostrou representar um grande potencial de pesquisa e de disseminação em serviços de educação e de saúde.
Quais os principais desafios que enfrentou durante o desenvolvimento da pesquisa?
O principal desafio não foi com a pesquisa. O principal desafio foi conciliar tantos papéis sociais simultaneamente: ser mãe, esposa, profissional, filha e ainda achar um tempinho para cuidar de mim.
Sua pesquisa traz uma discussão importante. De que forma acha que ela contribui para a cultura da longevidade?
A pesquisa contribui para estimular o convívio entre as gerações, enfraquecendo paulatinamente a discriminação para com o idoso. Resgatar o saber adquirido com a experiência da vida pelos idosos e reconhecer que a nova tecnologia pode e deve conviver junto; lado a lado, a essas experiências.
Você acha que a sociedade ainda não está preparada para implementar, na prática, o que você discute na pesquisa?
Não, ao contrário, a sociedade está aberta a novas propostas. Só necessitamos de mais incentivos financeiros do governo ou de entidades particulares em ações promocionais que abranjam o maior número de pessoas em diferentes localidades do país.
O que o mestrado em Gerontologia, a pesquisa e o seu empreendedorismo acrescentaram em sua vida pessoal e profissional?
Aumentaram a minha paixão pela temática do envelhecimento impulsionando-me às novas descobertas e à ânsia cada vez maior por novos saberes.
O propósito que impulsionou essa pesquisa pode gerar uma força física, mental e espiritual maior para se escrever o livro Ensinar a Lembrar: guia prático para ajudar a reconhecer e melhorar problemas de memória e criar o “Vigilantes da Memória, que foi fundado em 2013. O Vigilantes da Memória é um projeto terapêutico, educacional e de consultoria multiprofissional que visa promover a saúde cerebral, por meio de grupos de estimulação cognitiva, ações educativas e consultoria de conhecimentos científicos sobre memória humana. Seus valores estão fundamentados na ética, cooperação, humanismo e pioneirismo. Atualmente, têm-se um site; Acesse Aqui e equipe multiprofissional que atua de maneira presencial estimulando grupos intergeracionais na cidade de São Paulo. Espera-se que o Vigilantes da Memória inspire práticas promocionais de estimulação cerebral e fortaleça a maneira como as pessoas se relacionem afetivamente entre si, criando um sentimento de cooperação mútua e de pertencimento entre seus pares.
Qual tem sido o impacto do Programa na vida das pessoas?
Minimizar as queixas de atenção e memória da vida diária, fazer as pessoas acreditarem que é possível se relacionar com pessoas de diferentes faixas etárias, romper com os preconceitos etários e resgatar a necessidade humana básica de convívio social e valorização pessoal.
Como as pessoas podem se inserir?
As pessoas podem se inserir pelo próprio site, acesse aqui ou pelo telefone (011) 2533-9754.
Quais são seus próximos passos na vida acadêmica? E na vida profissional?
Pretendo nos próximos anos fazer doutorado na temática da Realidade Virtual e Estimulação Cognitiva. Em curto prazo fazer parte da Sociedade de Geriatria e Gerontologia sessão São Paulo, lecionar em universidade e continuar aperfeiçoando o Vigilantes da Memória a ajudar pessoas com problemas de memória.
Seja impulsionado por aquilo que você acredita e não desista perante as adversidades, pois essas fazem parte do processo de conhecimento e desenvolvimento pessoal. Busque pessoas e programas que agreguem conhecimento e que estejam junto com você em todos os momentos. Acredite, pois “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver” (Dalai Lama).
Para conhecer um pouco mais sobre o empreendedorismo de Gislaine Gil, acesse o site: Aqui curta a página no facebook e receba informações sobre a atenção e a memória humana.