Muitas pessoas a partir dos 60 anos gozam de uma vida sexual ativa, apesar de estarem propensos a doenças crônicas, por efeitos colaterais do uso abusivo de medicamentos e por alterações fisiológicas do próprio envelhecimento, resultando em uma série de modificações como a diminuição da libido e da lubrificação vaginal, diminuição do tônus muscular, surgimento das rugas e flacidez e em certos casos, o surgimento da perda involuntária de urina, mais conhecida como incontinência urinária.
Camila Patriota Ferreira *
Abordar determinadas questões sobre as circunstâncias do envelhecimento são válidas para facilitar a respeito do esclarecimento das modificações atuais e futuras que a população nacional tem vivenciado, além de expor as reais necessidades de mudanças nos âmbitos da saúde e social, pensando na oferta e demanda de profissionais especializados e serviços voltados à promoção de lazer e ressocialização do idoso.
Com o crescente aumento do número de idosos se faz necessário melhorar a abordagem dos profissionais de saúde e consequentemente, aumenta-se a exigência por adequações nas políticas de saúde pública, uma vez que seja esperado que prevaleçam as doenças crônico-degenerativas nesta população. Outras questões que demandam atenção na abordagem e acabam sendo menos exploradas, são os assuntos que tratam da sexualidade na terceira idade.
Falar sobre sexualidade sempre foi considerado um tabu, uma vez que a diferença entre os gêneros está ligada a uma questão cultural. Geralmente faz parte da cultura “educacional” masculina ter como brincadeiras os jogos de luta, de competição, onde prevaleça um vencedor, o mais forte, o dominador. Sendo assim desde a infância o homem cresce com a percepção que de que o sexo o qual pertence é o mais forte e tende a ser voltado para sentir e receber o prazer. Já as mulheres tem suas brincadeiras remetidas aos cuidados com a casa e com a família, voltando-se para um mundo que inconscientemente desperta o instinto maternal, a fragilidade e a função de assumir o controle do lar, favorecendo a perceberem que o gênero assume a função de procriar e não de sentir o prazer.
As desigualdades entre os sexos, tanto na questão cultural quanto na anatomia do corpo humano, podem dificultar a busca pelo autoconhecimento e pela troca de informações quando o assunto envolve o tema “sexo” ou “sexualidade”. Por esta razão as disfunções sexuais são mais prevalentes no gênero feminino (Lara et al, 2008).
Recentemente o número de pesquisas sobre a sexualidade vem aumentando. Muitos profissionais de saúde estão demonstrando um maior interesse em querer discutir este assunto, porém quando associamos à terceira idade há uma escassez de publicações ao relacioná-los com as formas de divulgar este assunto com os idosos e de expor como os profissionais podem abordar o paciente, uma vez que as práticas públicas que envolvem a saúde sexual acabam sendo direcionadas para a população mais jovem, advindas da preocupação e alta incidência de contaminação por doenças sexualmente transmissíveis.
Em contrapartida, doenças como a AIDS estão crescendo na faixa etária acima de 50 anos, assim como as taxas de mortalidade. Sendo assim é indispensável que os profissionais de saúde e os profissionais em formação adotem posturas pró-ativas, buscando ampliar seus horizontes para a sexualidade nesta fase da vida, além de excluir conceitos de que o idoso pelo fato de ser idoso é considerado um ser assexuado, desprovido de vontades e desejos.
Muitas pessoas a partir dos sessenta anos de idade gozam de uma vida sexual ativa, apesar de estarem propensos a enfrentar algumas dificuldades, justificadas pela presença de doenças crônicas, por efeitos colaterais do uso abusivo de medicamentos e por alterações fisiológicas do próprio envelhecimento, resultando em uma série de modificações como a diminuição da libido e da lubrificação vaginal (alterações estas que pertencem às mulheres), diminuição do tônus muscular, surgimento das rugas e flacidez e em certos casos, o surgimento da perda involuntária de urina, mais conhecida como incontinência urinária.
Outra questão que acaba interferindo na saúde sexual dos idosos é a ausência de um parceiro, pois muitas vezes a perda do cônjuge gera grandes consequências sentimentais e interfere no processo de socialização, diminuindo as chances de conhecer outro parceiro. A falta de privacidade no local onde vivem e o preconceito familiar também são fatores negativos.
O fato é que o contexto da sexualidade na terceira idade deve ser encarado com naturalidade, incentivando-os a se sentirem capazes de curtir os prazeres que as oportunidades da vida tem a lhes oferecer. Se faz necessário melhorar o arsenal das políticas de saúde pública através de uma abordagem multidisciplinar. O avanço da medicina permite que o idoso tenha maiores chances de melhorar seu desempenho sexual, seja por acesso a medicamentos de alto potencial e com menos efeitos colaterais e também por acesso à novas técnicas não invasivas, como a fisioterapia, a prática de atividades físicas e um acompanhamento psicológico que resultam em benefícios físicos, emocionais e sociais.
A atuação fisioterapêutica merece lugar de destaque ao realizar intervenções capazes de melhorar significativamente a qualidade de vida. Previamente ao estabelecer o programa de exercícios utilizados na reabilitação, se faz necessário realizar uma avaliação minuciosa para buscar uma compreensão sobre as disfunções apresentadas pelo paciente. As técnicas e recursos utilizados baseiam-se, primeiramente, em estimular a busca pelo conhecimento com o próprio corpo. Para facilitar a percepção corporal, o fisioterapeuta lança mão de recursos baseados no fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico, como a utilização de aparelhos de biofeedback manométrico, biofeedback eletromiográfico, eletroestimulação de superfície e intravaginal, uso dos cones vaginais e o próprio estímulo manual. Ainda torna-se primordial investigar outras condições que possam limitar a condição física do paciente, como a presença de dor na região pélvica.
Referências
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Cabral,F e Díaz, M. Relações de gêneros. Cadernos afetividade e sexualidade na educação: Um novo olhar. Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, Ed. Rona, p. 142-150, 1999.
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Maschio, MBM, Balbino AP, De Souza PFR, Kalinke LP. Sexualidade na terceira idade: medidas de prevenção para doenças sexualmente transmissí-veis e AIDS. Rev. Gaúcha Enfermagem, vol. 32 (3), p. 583-589 Porto Alegre/ Setembro, 2011.
Moraes, EN. Atenção à saúde do idoso: Aspectos Conceituais. Organização Pan-Americana da Saúde- Representação Brasil, cap. 1, p. 9-12, Brasília, 2012.
Rabelo, DF e Lima, CFM. Conhecimento e atitude de futuros profissionais da saúde em relação à sexualidade na velhice. Revista Temática Kairós Gerontologia, 14(5), ISSN 2176-901X. São Paulo/ Dezembro: p .163-180, 2011.
* Camila Patriota Ferreira – Especializada em fisioterapia aplicada a Saúde da Mulher pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP em 2009. Docente no curso de Fisioterapia da Faculdade Interamericana de Porto Velho-UNIRON desde 2012. Email: camila.saudedamulher@gmail.com