Os preconceitos, além de afetarem o bem-estar, dificultam o diagnóstico precoce e o acesso a tratamentos adequados.
Thais Bento Lima-Silva e Maria Antônia Antunes de Souza (*)
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Os estereótipos e a discriminação relacionados às demências, como a Doença de Alzheimer, são obstáculos que impactam significativamente a qualidade de vida daqueles que enfrentam esses desafios. Essas barreiras se revelam em diversas formas, como a exclusão social, a falta de crença na capacidade de participação ativa das pessoas afetadas e a desconsideração de suas vivências. Isso amplifica os obstáculos impostos pela própria condição, agravando os efeitos emocionais, psicológicos, sociais e econômicos para os indivíduos, seus cuidadores e familiares.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esses preconceitos não só afetam diretamente o bem-estar, mas também dificultam o diagnóstico precoce e o acesso a tratamentos adequados. É comum que essas doenças sejam incorretamente associadas ao processo natural de envelhecimento, reforçando a discriminação e a falta de apoio. No entanto, é essencial compreender que se trata de uma condição de saúde que exige cuidados especializados e compreensão, em vez de estigmatização.
O combate a esses estereótipos envolve a promoção de uma sociedade inclusiva, onde as pessoas com essas condições sejam tratadas com respeito e dignidade. O Relatório OMS – Rumo à uma sociedade inclusiva às pessoas com demência – destaca a necessidade de aumentar a conscientização e estimular atitudes de empatia. Iniciativas como as “sociedades amigas da demência” são fundamentais para criar ambientes mais receptivos, garantindo que as adaptações necessárias não se limitem ao aspecto físico, mas incluam também mudanças nas percepções, acessibilidade e integração.
Quando são oferecidas informações corretas à população e desmistificado essas condições, pode-se reduzir a discriminação e criar ambientes mais acolhedores. Em vez de focar nas limitações, é essencial valorizar as habilidades que permanecem, assegurando que as pessoas tenham espaços seguros para exercer sua autonomia. Campanhas educativas em escolas, comunidades e locais de trabalho são fundamentais para essa mudança de mentalidade, ajudando a sociedade a compreender melhor essas condições e a acolher as pessoas que vivem com elas.
A luta contra a discriminação exige um esforço coletivo. Profissionais de saúde, governos, organizações comunitárias e a sociedade em geral precisam colaborar. Ao promover respeito, empatia e inclusão, criamos um ambiente onde as pessoas com condições neurodegenerativas sejam reconhecidas além do diagnóstico, respeitadas por suas histórias e desejos. Capítulos de livros como “Estigma e discriminação relacionados à demência”, do livro Doença de Alzheimer: diagnóstico e tratamento, já vêm abordando esse assunto tão importante e necessário, enfatizando a desmistificação dessas condições e a necessidade de enxergá-las sem preconceitos, eliminando visões equivocadas que perpetuam estigmas sociais.
Superar esses estereótipos requer mais do que campanhas de conscientização. Embora tenhamos feito progressos significativos em direção à inclusão, muitas barreiras culturais e estruturais ainda precisam ser quebradas. O acesso a cuidados adequados e o suporte às famílias dependem de políticas públicas eficazes e de uma mudança na maneira como a sociedade vê o envelhecimento, sem preconceitos. Apesar das iniciativas globais da OMS, sua implementação varia entre os países, e a construção de uma sociedade mais inclusiva é um processo contínuo.
Referências
Oliveira, Déborah. Estigma e discriminação relacionados à demência. In: Aprahamian; Brucki. Doença de Alzheimer: diagnóstico e tratamento. Manole, 2023. cap. 17, p. 236 – p. 252.
World Health Organization et al. Towards a dementia-inclusive society: WHO toolkit for dementia-friendly initiatives (DFIs). World Health Organization, 2021.
(*) Thais Bento Lima-Silva -Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Coordenadora de grupos de apoio para cuidadores, da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo (ABRAz-SP). É parceira científica do Método Supera com a condução de ensaios clínicos. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo (GETCUSP). E-mail: thaisbento@usp.br
Maria Antônia Antunes de Souza – Bacharel em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Foi bolsista de iniciação científica PUB do projeto intervenções psicoeducativas para a COVID-19 aliada à estimulação cognitiva no programa USP 60 + e atualmente é membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP (GETCUSP). E-mail: aantoniaantuness@gmail.com
Imagens: prints de ilustrações contidas no relatório da OMS.
Atualizado às 13h30