A experiência dos estagiários com dispositivos assistivos para pessoas idosas ganhou destaque no livro “Inovações Sociais e Inovações Públicas para Mudança Social e Desenvolvimento”.
Uma ação universitária revela a empatia de jovens graduandos e pós-graduandos com pessoas idosas ao mesmo tempo em que evidencia a dificuldade de os estudantes pensarem em seu próprio processo de envelhecimento. O estágio em fisioterapia da Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga (FADIP), realizado em Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Ponte Nova, Minas Gerais, indicou que o tratamento fisioterápico ali disponível precisava de melhorias. Em 2018, os estagiários buscaram uma solução baseada em produtos recicláveis para confeccionar dispositivos assistivos a serem utilizados nas sessões com pessoas idosas. Com o apoio da professora do curso, a fisioterapeuta Emília Pio, a iniciativa foi da ideia à execução imediata.
Segundo a professora Emília Pio, há grande variedade de dispositivos para uso na reabilitação de pessoas idosas que “apesar de serem simples, têm custo elevado, o que resulta na falta destes equipamentos dentro das UBS”. Sob supervisão da professora, os estagiários do curso de fisioterapia da FADIP – uma universidade privada – desenvolveram dispositivos assistivos para a “reabilitação física e cognitiva de idosos, utilizando materiais recicláveis. A partir dessa experiência surgiram dispositivos também para pacientes de fisioterapia respiratória durante a pandemia de Covid-19.”
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A apresentação da iniciativa à comunidade acadêmica foi realizada com uma exposição dos dispositivos assistivos e com uma palestra de sensibilização dos estudantes sobre o envelhecimento. Desde então, o trabalho é cada vez mais conhecido e reconhecido por seu caráter inovador articulado à negação do envelhecimento presente nas gerações mais jovens, ainda que o Estatuto da Pessoa Idosa recomende que a velhice faça parte da educação escolar como forma de preparação da sociedade para as implicações sociais dessa fase da vida.
A grande participação de universitários na exposição envolveu estudantes da FADIP e da Universidade Federal de Viçosa no evento conjunto II Encontro Mineiro sobre Envelhecimento e Risco Social, de 28 de setembro de 2018, onde também foi apresentada a palestra “Eu jovem, não me preocupo com o envelhecimento!”. Essa palestra foi inscrita como relato de experiência no X Simpósio de Ciência, Arte e Cidadania, promovido em 2018 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), quando foi selecionado entre 57 trabalhos, obtendo o 1º lugar na premiação concedida pela organização do evento.
A experiência ganhou destaque no livro “Inovações sociais e públicas para o desenvolvimento”, organizado por pesquisadores brasileiros e uma pesquisadora espanhola, todos integrantes do Grupo de Pesquisa Gestão Social e Desenvolvimento Local (Gesdel), vinculados à Universidade da Amazônia, UNAMA.
O capítulo “Iniciativas de estudantes de Minas Gerais para o cuidado de pessoas idosas” foi ressaltado no Prefácio (o primeiro citado) e teve uma menção elogiosa no último capítulo.
A professora Emília Pio comemora a trajetória da iniciativa que rende outros frutos como o jogo de tabuleiro desenvolvido para trabalhar com crianças e alertar sobre os riscos de queda no domicílio de idosos ou onde há pessoas idosas. O jogo é usado em feiras de saúde nas escolas para criar consciência sobre a prevenção de quedas e a interação entre gerações.
“Os dispositivos assistivos para fisioterapia permitem maior efetividade nos tratamentos, já que exercem a mesma função dos convencionais, com a vantagem da redução nos custos de aquisição e a possibilidade de a pessoa usar tais dispositivos no ambiente domiciliar, já que podem ser criados pelas próprias famílias. A proposta busca alinhar sustentabilidade e reabilitação”, diz Emília Pio.
O Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003) no Capítulo V – Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer – estabelece no Art. 22 que “Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria.”
Referências
BRASIL. Estatuto da Pessoa Idosa. Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003. Brasília: Senado Federal, 2003.
COSTA, Silvia M. M.; SANTOS, Nilton Bahlis dos; RAMOS, Fernanda Campello Nogueira. Relações empáticas com a velhice como fatores de promoção da saúde. In: CONFERÊNCIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE DA FIOCRUZ. 1, julho 2019, Rio de Janeiro. Pôster. Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
COSTA, Silvia M. M.; SANTOS, Nilton Bahlis dos. Relato de Experiência “Eu jovem, não me preocupo com o envelhecimento”. 10o Simpósio de Ciência, Arte e Cidadania. 07 de dezembro de 2018. Organizado pelo Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos (Liteb/IOC/Fiocruz) e Casa da Ciência (Centro Cultural da Ciência/UFRJ). O relato foi selecionado entre 57 trabalhos e ficou em 1º lugar na premiação concedida pela organização do evento.
VASCONCELLOS Sobrinho, Mário. Inovações sociais e Inovações Públicas para Mudança Social e Desenvolvimento. / Mário Vasconcellos Sobrinho; Ana Maria de Albuquerque Vasconcelos; Jones Nogueira Barros; Carmen Pineda Nebot. (Org.). Série Gestão Social e Desenvolvimento, n. 4. Belém: Unama, 2022.
Foto destaque: arquivo pessoal – 10° Período do curso de fisioterapia, duas egressas do curso e a professora Emília Pio. Novembro 2022.
Atualizado em 25/01/2023 às 17h48