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Equipamento urbano que deu certo: Cativa – Centro de Atividades para a Terceira Idade

O Cativa é uma instituição sem fins lucrativos que visa à valorização da pessoa idosa por meio da participação em atividades que promovem a capacidade física, psíquica e social auxiliando na manutenção do bem-estar, qualidade de vida, participação e interação social. Criada há mais de 20 anos, em São José dos Campos (SP), a instituição hoje está inserida na Proteção Básica por ser um Centro de Convivência, de acordo com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais que padroniza os serviços da proteção social básica, média e alta complexidade.

Enizete Edna de Paula Balbino *

 

1995. Nasce na cidade de São José dos Campos (SP) a primeira entidade com o objetivo de desenvolver atividades direcionadas à pessoas acima de 60 anos, quando ainda não se falava de envelhecimento no país. Trata-se do Cativa – Centro de Atividades para Terceira Idade, fundado por um grupo de ex-alunas da primeira turma da Faculdade da Terceira Idade, da Universidade do Vale do Paraíba (Univap).

Este novo equipamento urbano surgiu bem antes da Política Nacional do Idoso, do Estatuto do Idoso e da política do Envelhecimento Ativo da Organização Mundial de Saúde (OMS) que atualmente orienta as políticas que são implementadas no país.

A idealizadora (e atual presidente), Myrza S. Zonzini, de 83 anos, casada, mãe, avó (e hoje bisavó), ao completar seus 60 anos, ao invés de se aposentar e descansar como a maioria de seus amigos faziam, decidiu ser protagonista de um projeto que daria suporte social aos idosos e suas famílias no município de São José dos Campos até hoje.

O Cativa é uma instituição sem fins lucrativos que visa à valorização da pessoa idosa por meio da participação em atividades que promovem a capacidade física, psíquica e social auxiliando na manutenção do bem-estar, qualidade de vida, participação e interação social. Ressaltando ainda que o idoso tenha sua dignidade e direito preservado por meio de atividades de caráter informativo.

Passados 20 anos, a instituição hoje está inserida na Proteção Básica por ser um Centro de Convivência, de acordo com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução Nº 109, de 11 de novembro de 2009) que padroniza os serviços da proteção social básica, média e alta complexidade. Para compreender o contexto dessa lei – que respalda o direito da pessoa idosa – destacamos o texto a seguir, o qual assinala que:

“(…) A intervenção social deve estar pautada nas características, interesses e demandas dessa faixa etária e considerar que a vivência em grupo, as experimentações artísticas, culturais, esportivas e de lazer e a valorização das experiências vividas constituem formas privilegiadas de expressão, interação e proteção social. Devem incluir vivências que valorizam suas experiências e que estimulem e potencializem a condição de escolher e decidir.” (Tipificação, 2009, p. 11)

Ações desenvolvidas

Atualmente o Cativa atende 105 idosos, sendo um terço da assistência, formado por pessoas que não possuem renda ou recebem até um salário mínimo. Do total de idosos, 5% têm 90 anos ou mais; 45% entre 80 a 89 anos; e 50% entre 60 a 79 anos.

Os profissionais que atuam no Cativa são pautados pelos interesses e demandas dessa faixa etária e, por isso, procuram desenvolver atividades que estimulam a pessoa idosa a ter maior autonomia, fortalecer vínculos familiares, orientar quanto a direitos e deveres, potencializando assim sua cidadania. Concomitantemente, as pessoas idosas têm demonstrado plena participação e motivação no projeto proposto pela instituição.

As ações desenvolvidas no Cativa são diárias e de livre escolha. As pessoas idosas escolhem aquelas que mais gostam entre as que são ofertadas pela instituição, no prédio composto de recepção, biblioteca, salão onde são realizadas as atividades físicas, sala de alfabetização, de informática, do serviço social, sala de administração e copa. Entre as ações estão:

a) Cultura: oficinas de fuxico (técnica em retalhos de pano), tricô e crochê, coral, teatro, pintura em tela e em madeira e bordados.

b) Educação: alfabetização, biblioteca, estudos das religiões, inglês, informática.

c) Grupo focal: integração fisio-psíquica, e experiência e vida

d) Atividades complementares: alongamento, dança circular, dança sênior, cognição e memória, e técnicas orientais

O espaço

O Centro de Atividades – Cativa está localizado na Vila Adyanna, região central, próximo ao ponto de ônibus, facilitando o acesso dos idosos que residem em outras regiões de São José dos Campos, SP, em um imóvel alugado. O desenho do espaço foi previamente adequado às leis de acessibilidade da pessoa idosa. O Centro de Atividades – Cativa conta com recursos da Secretaria de Desenvolvimento Social do Município de São José dos Campos e do Estado de São Paulo para a operacionalização de suas ações. Como esses recursos não são suficientes para suprir as necessidades da entidade, esta promove alguns eventos, como a tarde festiva e bazares. Contribuições de usuários dos serviços prestados e parceiros, acabam ajudando na manutenção da instituição.

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Gestão

O Cativa é gerido pela fundadora e atual presidente Myrza Salvador Zonzini e mais a diretoria colegiada, composta por cinco diretoras e cinco suplentes, e o conselho fiscal: vice-presidente, secretária e três suplentes, assistente social, coordenador administrativo, auxiliar administrativo, contador e auxiliar de serviços gerais.

Assiduamente o Cativa conta com o trabalho de oito voluntárias: bibliotecária, professora de alfabetização, de informática e artesanato, mais as que colaboram na captação de recursos. Conta ainda com outros trabalhos voluntários de um grupo de pessoas que contribui de forma efetiva, desde 1993, em instituições de longa permanência e escolas municipais infantis.

Esse trabalho intergeracional realizado por esse grupo na comunidade vem possibilitando que outras pessoas participem do Canto Coral e da Dança Circular. Destaca-se o trabalho voluntário de alfabetização, cujo usuário tem tido a oportunidade de instruir-se buscando novas oportunidades, conquistas e projetos de vida.

Conforme Brandão e Mercadante (2009, p. 79) “Educar não é apenas acabar o analfabetismo, mas transmitir valores e informações. É criar condições para a participação social de todos, como no tema dos arranjos de vida comunitária”.

Corroborando o que as autoras afirmam, o trabalho voluntário de alfabetização vai além da transmissão de conhecimentos, pois o Cativa entende o aprendizado como uma troca de vivências e experiências que traz, levando as pessoas ao seu protagonismo.

Dificuldades

A maior dificuldade enfrentada pelo Cativa atualmente é o empenho dos usuários com a entidade, dificultando até a formação de uma nova diretoria, a fim de dar continuidade ao plano. Como este é um projeto de idoso para idoso, as pessoas idosas que atuam hoje na instituição, devido ao aumento da idade (a maioria tem mais de 80 anos), demonstram uma certa insegurança para assumir responsabilidades. Os demais têm buscado contribuir com suas ações significantes, porém, ao serem questionados nessa possibilidade de envolvimento, os mesmos não demonstram interesse.

A fim de se conhecer os motivos que levaram a Sra. Myrza a criar o Cativa para acolher o idoso já nos anos 90, entrevistamos a Sra. Myrza (na foto com seu marido, Aldo Zonzini) para o Portal do Envelhecimento.

Myrza, o que a levou a criar este projeto?

Anos atrás já considerávamos o idoso um sujeito de direitos, daí a idealização do projeto Cativa, para que o idoso pudesse desenvolver seu potencial e assim exercer seu direito através da participação em uma vida ativa, resgatando sua cidadania e quebrando o conceito de que a velhice simboliza finitude.

Como a velhice era vista nos anos 90?

Nesse tempo, vinte anos atrás, a velhice era vista como decadente, nada a fazer, só esperar a morte. Por esse motivo já sonhávamos com um espaço onde poderíamos ser aquilo que somos, ativos, independentes, protagonistas de nossa própria história. Idealizamos uma entidade, onde poderíamos sonhar na busca da liberdade, onde os paradigmas pudessem ser quebrados.

E como a Sra. vê a velhice hoje?

É importante contemplar as conquistas que esse segmento conquistou. A liberdade é a maior conquista que um ser humano pode vivenciar nos seus dias de vida. Assim, vinte anos depois, olho para o futuro na certeza que outras grandes conquistas virão. O mundo está envelhecendo e chegará um tempo em que os idosos deixarão de ser invisíveis a essa sociedade, cujo padrão é a eterna juventude, para vivenciar um tempo de projetos, projetos de vida e não de morte.

Referências

MERCADANTE, Elisabeth F., BRANDÃO, Vera, M. A. T., Envelhecimento ou Longevidade? Coleção Questões Fundamentais do ser humano, 8 ISBN 978-85- 349- 3114-4. Ed. Paulus, SP. 2009.

BRASIL Secretaria Nacional de Assistência Social – Disponível Aqui SNAS Edifício Ômega, SEPN W3, Bloco B, 2º Andar, Sala 229 – CEP: 70.770-502 – Brasília – DF. Acesso 22/10/2015.

* Enizete Edna de Paula Balbino é Assistente Social e mestranda em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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