O envelhecimento urbano afeta a dinâmica familiar; teremos cada vez mais gerações vivendo juntas por mais tempo. Devemos pensar no que isso significa para as mulheres que, no geral, vivem mais que os homens. É o que diz o economista Gustavo Sugahara.
Tradução de Carolina Lucena
Segundo Sugahara, realmente um dos fatos contemporâneos é o envelhecimento da população, mas ele assinala que não é tão simples assim, pois ao olhar as projeções e estatísticas podemos esperar, sim, um aumento de pessoas mais velhas; mas chama a atenção para o que se quer dizer por velho, a partir de qual idade? Sua pesquisa utiliza diversas formas de classificação, como, por exemplo, indivíduos com 67 ou mais anos. Hoje, em Oslo, cerca de 11% da população se encontra nessa faixa etária e a tendência é só aumentar.
Os fatos mostram que embora exista esse aumento não se deve temer o futuro, não há razões para acreditar que a cidade não consiga lidar com essa nova cara populacional.
E aqui entra a questão do que fazer diante desses fatos. Em primeiro lugar, Sugahara discorre sobre a ideia recorrente que as pessoas mais velhas são necessariamente frágeis; de acordo com o pesquisador, gerontologistas e profissionais de outras áreas questionam esses estereótipos. Para ele, sim, haverá um grupo dentro dos maiores de 67 anos que será frágil, mas se nos referimos a todas as pessoas acima dessa idade nos depararemos com um grupo muito heterogêneo.
Outro fator importante trazido pelo pesquisador é o fato de que tanto o envelhecimento populacional quanto a urbanização são fenômenos novos. Em diversos lugares existem mais velhos do que crianças e mais pessoas vivendo em cidades do que no campo, consequentemente observamos que estamos envelhecendo em cidades e isso é algo novo.
Sugahara não é capaz de prever o futuro, “não sabemos como vai ser, mas já podemos perceber que esse fenômeno afeta a dinâmica familiar; temos mais gerações vivendo juntas por mais tempo. Também devemos pensar no que isso significa para as mulheres que, no geral, vivem mais que os homens”.
Envelhecimento e cidade
Em relação a cidade, a questão primordial que o pesquisador coloca é como fazer um planejamento levando em conta a urbanização do envelhecimento. Sugahara mostra a partir dos dados de Oslo o quanto a demografia de cada distrito é importante. Segundo ele, como 11% da população de Oslo tem mais de 67 anos o esperado é que em média um em cada 10 indivíduos seja maior de 67 anos, mas Sugahara mostra que esse número muda de região para região, algumas concentrando mais pessoas jovens e outra o oposto. E isso também tem um efeito no mercado imobiliário, visto que os agregados familiares com pessoas idosas são normalmente menores.
A mobilidade é outro tema central quando se fala em planejamento urbano. Sobre esse assunto Sugahara chama atenção para as consequências de uma queda, por exemplo, questão particularmente problemática para idosos. Segundo ele, o custo dos cuidados médicos são em geral muito mais elevados do que o custo inicial que se tem ao simplesmente arrumar as calçadas. No caso de Oslo existe todo um cuidado que deve ser tomado quando neva para que as calçadas não sejam escorregadias, evitando assim quedas.
Para o pesquisador brasileiro não é a mobilidade o problema mais negligenciado e sim a inclusão e participação das pessoas mais velhas. Por isso, a importância de se quebrar com os estereótipos em relação aos idosos, pois de acordo com Sugahara, no final todos perdem.
A ideia da aposentadoria como fim de linha não serve mais, e as velhices contemporâneas mostram que elas vão além da aposentadoria. Sugahara diz que devemos ser mais criativos e flexíveis na maneira como vemos a mudança demográfica, e que não devemos deixar de lado essa força, essas pessoas que têm experiência. E isso vai além do urbanismo. Estamos falando da construção de uma cultura que inclui a longevidade.
Voltando ao tema da mobilidade, Sugahara usa os pressupostos que fundamentam a estrutura das tarifas como exemplo de perspectivas culturalmente estabilizadas mas desajustadas à realidade demográfica: “o esperado no transporte é que se vá de casa para a escola (ou trabalho) e se retorne à casa. Ocorre que as tarifas mensais, por exemplo, dificilmente comportam situações cada vez mais recorrentes de cuidados intermitentes de parentes que vivem em uma área fora do trajeto: casa-trabalho-casa. Em alguns casos, o custo extra do transporte pode significar um obstáculo significativo para o cuidador.
Quem é o pesquisador