O evento abordou o contexto do envelhecimento e a inclusão social das pessoas acima de 50 anos no mercado de trabalho, “muitos querem continuar trabalhando, ora para não ficarem parados ora para ter uma renda extra e, também, para continuar sendo o sustento da família”.
O Blog “Recorda-me”, alocado no Portal do Envelhecimento, sob a coordenação da psicóloga Simone de Cássia F. Manzaro participou no último sábado do IV Congresso Municipal sobre Envelhecimento Ativo – Cidade Amiga do Idoso com o tema Envelhecimento, trabalho e inclusão social: Desafios e Perspectivas.
A discussão girou em torno da reflexão sobre o mercado de trabalho e políticas públicas de inclusão social visando à empregabilidade e geração de renda para o público 50+ que são considerados mão-de-obra experiente e significativa em diversos contextos, mas que ainda estão excluídos dessa realidade por conta do preconceito etário enraizado em nossa sociedade.
O evento promoveu alguns encontros interessantes, envolvendo troca de experiências e, principalmente, divulgando meios de capacitação para pessoas com mais de 50 anos para o mercado de trabalho promovido pela prefeitura de São Paulo e empresas privadas, como a Maturi Jobs representada pelo seu fundador Mórris Litvak e da Trabalho 60+ representada por Eduardo Meyer.
O encontro foi mediado por profissionais da área como Marília Anselmo Viana da Silva Berzins (OLHE – Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento); Áurea Eleotério Soares Barroso (Equipe Ampliada da Coordenação Nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, desempenhada por Irmã Terezinha Tortelli F.C.); Dineia Cardoso (Núcleo de Lazer do Idoso da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de São Paulo); Renata Cereda Cordeiro (blog ReabGeronto), além da presença de outros profissionais atuantes no contexto da Gerontologia.
Esta edição contou ainda com duas premiações, Prêmio Ecléa Bosi – Enlace de Gerações e o Prêmio Tomiko Born de trabalhos científicos, duas grandes personalidades na área da Gerontologia e que promoveram grandes conquistas no avanço deste campo.
Prêmio Ecléa Bosi
Psicóloga, Escritora e Professora emérita e Titular do Departamento de Psicologia Social da Universidade de São Paulo, Ecléa dedicou sua carreira à Psicologia social recebendo vários prêmios sobre seus estudos referentes à memória e sociedade. Foi ela quem idealizou, em 1993, o programa Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI). Ecléa faleceu em 2017 aos 80 anos.
O Prêmio que leva o nome de Ecléa homenageia a psicóloga visando disseminar sua obra de cunho cultural, científico e político aos jovens. ‘Ecléa Bosi – Enlace de Gerações’ busca apresentar aos jovens o legado de Ecléa referente às demandas dos idosos em nossa sociedade.
O projeto “Enlace de Gerações” premiou os três melhores filmes (4 min. cada) feitos pelos jovens participantes.
Prêmio Tomiko Born
“Queremos ser cuidados… queremos ser amados acima de tudo” (Tomiko Born). É com essa frase que inicio a apresentação da Professora Tomiko Born, referência nacional por propor o termo ILPI- Instituição de Longa Permanência que veio a substituir o termo asilo. Tomiko nasceu em 1932 em São Paulo e reside atualmente em Caldas, Minas Gerais. Formada em Serviço Social e pós-graduada na Universidade de Columbia, foi professora do curso de Gerontologia do Instituto Sedes Sapientiae, o primeiro curso na área no Brasil. Suas pesquisas são voltadas para a temática do cuidado e enfatiza a importância da criação de espaços para discussões sobre o envelhecimento ativo. Tomiko também participou de forma ativa na Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia além de ser uma profissional extremamente competente e defensora dos direitos dos idosos no Brasil. Atualmente, ao longo dos seus 86 anos, Tomiko continua trabalhando e colhendo os frutos das sementes que plantou durante sua caminhada na Gerontologia sendo referência importante por seu trabalho.
O prêmio Tomiko Born de Trabalhos Científicos, homenageia a professora visando disseminar seu trabalho no contexto do envelhecimento ativo.
O prêmio foi concedido ao Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia José Ermírio de Moraes através de Rosa Maria Rodrigues que juntamente com outros autores apresentaram dados relevantes com o trabalho intitulado “Geração de renda: inclusão social em ambulatório especializado em geriatria e gerontologia”.
Em segundo lugar, ficou Lucília Egydio, da EACH-USP com o trabalho “Envelhecimento feminino e trabalho: relatos de moradores idosos da Mooca e Brás”.
Envelhecimento populacional e Trabalho
O envelhecimento populacional avança rapidamente e acaba se tornando um grande desafio para a sociedade que enfrentará um aumento significativo da população.
Dados publicados em Julho deste ano pelo IBGE apontam que a expectativa de vida atual aumentou em relação à Dezembro de 2017, alcançando a marca de 76, 2 anos na média entre homens e mulheres. Os indicadores mostram que as mulheres continuarão vivendo mais do que os homens, chegando a 84,2 anos em 2060 contra 77,9 anos dos homens.
Muito em breve, em 2030, iremos acompanhar a mudança do perfil da população, onde o número de pessoas acima dos 60 anos triplicará em relação à população de 0 a 14 anos.
Considerando este cenário crescente, há a necessidade de pensar que, além do maior envelhecimento impactar setores importantes como saúde, urbanismo, assistência social, economia e, principalmente, previdência social, a sociedade deve se remodelar para receber esse público ofertando possibilidades e oportunidades, principalmente, no quesito laboral, para que possam ter oportunidades de trabalho ou geração de renda informal.
Por isso, a ‘velhice’ deve ser vista não como a última etapa da vida ou, o ‘fim da vida’, e sim, como mais uma etapa do desenvolvimento humano o qual existem inúmeras potencialidades a seres exploradas e estimuladas. É necessário que possamos descontruir o estigma de marginalização da população idosa e mostrar que, ‘ir para os aposentos’ como a aposentadoria sugere, pode não ser a opção mais viável para muitos e, que oportunidades de emprego nesta fase podem ser uma conquista social e não uma ameaça às futuras gerações.
Claro, que para refletirmos sobre empregabilidade 50+ e inclusão social, devemos pensar sobre as várias velhices existentes e promover mudanças de percepção a cerca do processo de envelhecimento; é preciso compreender e questionar, como será a vida das pessoas longevas fora do cenário de trabalho, o mesmo trabalho que, de certa forma, também está relacionado à qualidade de vida.
“O velho brasileiro não existe. Existem várias realidades de velhice referenciadas a diferentes condições de qualidade de vida individual e social” (Neri, 1993, p. 39).
Portanto, é preciso permitir o empoderamento desse público e promover medidas que possam permitir que elas continuem a trabalhar de forma digna se este for o seu desejo, tendo uma visão global das vantagens deste público no mercado de trabalho.
Referências
BRASIL. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Projeção da População do Brasil e das Unidades da Federação. 2018. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/.
NERI, A.L. Qualidade de vida no adulto maduro: interpretações teóricas e evidências de pesquisa. In: Neri, A.L. Qualidade de vida e idade madura. Campinas: Papirus, 1993. p. 9-55.