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Envelhecimento Ativo e Velhice

Cruzando fronteiras, superando adversidades e lançando-me aos desafios de produção de conhecimentos técnicos, científicos e políticos, este período demarca uma etapa intensa de pesquisa social, quando deixei o cotidiano da Universidade Federal de São Carlos, interior de São Paulo, Brasil, para realizar incursões cruzadas – luso- brasileiras, no deciframento de evidências empíricas e teóricas, sobre o processo de envelhecimento transcultural e que neste volume expressa uma potente rede colaborativa.

Wilson José Alves Pedro *

 

Apresentar o presente volume da Revista Kairós Gerontologia, para o qual fui convidado a organizar, me faz revisar um processo, refletir e compartilhar com você, o encontro de vários atores sociais, protagonistas e defensores do envelhecimento ativo e das condições dignas da velhice, com os quais temos interagido nos últimos anos.

Se tiver que demarcar com precisão o início deste trabalho, escolheria o primeiro encontro com Professor Doutor Manuel Villaverde Cabral, Diretor do Instituto do Envelhecimento, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, por ocasião do Congresso Internacional “El derecho a envejecer. La ciudadania, la integracions coila y la participacion política de las personas mayores”, janeiro de 2012, em Dijon França.

Este evento organizado pela Red Internacional de Estúdios sobre la Edad, la Ciudadanía y la Integración Social (REIACTIS), nos oportunizou ampliar o diálogo e fomentar parcerias de investigações e estudos sobre o envelhecimento; proporcionando também as interações iniciais para a realização de um estágio pós-doutoral e uma temporada como Investigador Visitante (2013-2014), no referido Instituto, com a supervisão do Professor Doutor Manuel Villaverde Cabral.

Cruzando fronteiras, superando adversidades e lançando-me aos desafios de produção de conhecimentos técnicos, científicos e políticos, este período demarca uma etapa intensa de pesquisa social, quando deixei o cotidiano da Universidade Federal de São Carlos, interior de São Paulo, Brasil, para realizar incursões cruzadas – luso- brasileiras, no deciframento de evidências empíricas e teóricas, sobre o processo de envelhecimento transcultural e que neste volume expressa uma potente rede colaborativa.

Num lócus privilegiado de produção de conhecimentos – o Instituto do Envelhecimento (IE), dentre as missões atribuídas ao IE, tem-se: “a investigação científica interdisciplinar no quadro dos estudos sociodemográficos sobre o envelhecimento da população portuguesa numa perspectiva comparada; a promoção das vocações e da formação pós-graduada neste campo; o estudo das políticas públicas relacionadas com o envelhecimento da população; e por último, a organização de atividades de comunicação científica e abertura da sociedade que deem ao fenômeno do envelhecimento a visibilidade que ele justifica, mas que ainda não tem em Portugal”, conforme apresenta Professor Doutor Manuel Villaverde Cabral. Tive o convite da Editoria Científica, Prof.a Dr.a Flamínia Manzano Moreira Lodovici, para que organizasse “um volume” compartilhando algumas das reflexões que estavam em processo.

Ao aceitar o convite, percebi que a escolha seria dificílima e complexa. Muitas descobertas em processo, muita revisão. Portanto, criteriosamente definir alguns critérios para organização deste volume, compartilhei com pares, afirmando a prioridade desta publicação: aderência ao enquadre teórico e metodológico das ciências humanas e sociais. Assim, após uma primeira sistematização, a proposta delineou-se com a confirmação de alguns pesquisadores, o declínio ao convite de outros (devido ao tempo e prioridades), mas fortalecendo os aportes teóricos e as evidências empíricas.

Denominado “ENVELHECIMENTO ATIVO E VELHICE”, neste volume são apresentados estudos de pesquisadores brasileiros e portugueses, prioritariamente com vinculação às ciências humanas e sociais, cujo universo de investigação corrobora a tese do envelhecimento ativo, seja pelo trabalho, a aposentadoria, a educação e a aprendizagem ao longo da vida, os equipamentos de sua promoção, os modos de viver, o processo saúde-doença, a necessidade de qualificação de profissionais para a promoção do envelhecimento ativo.

Está composto por nove artigos e duas resenhas. Pedro Moura Ferreira do Instituto do Envelhecimento – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, analisa o Envelhecimento ativo em Portugal, um dos países mais envelhecidos da União Europeia, considerando as características da pirâmide etária (cerca de 19% da população total possui 65+) anos e em comparação com a década anterior, o peso destes indivíduos traduz um crescimento de 19% o qual tenderá a acentuar-se nas próximas décadas conforme revelam as projeções demográficas. Pedro Moura analisa tendências recentes e alguns problemas sobre o envelhecimento ativo em Portugal e alguns desdobramentos na orientação gerontológica do envelhecimento ativo, bem como a tendência de prolongamento da vida ativa e desdobramentos no contexto da reforma (aposentadoria).

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A seguir, um estudo de nossa autoria, com Jesús P. Mena-Chalco, da Universidade Federal do ABC, em que se apresentam algumas notas preliminares sobre a problemática do envelhecimento na sociologia brasileira contemporânea. Neste artigo caracterizam-se algumas contribuições da sociologia brasileira contemporânea sobre envelhecimento, utilizando-se o software livre Script lattes e apontam-se lacunas e a escassez de estudos na área das ciências sociais, a partir de análise do Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq.

Meliza Cristina da Silva e Márcia Niituma Ogata, da Universidade Federal de São Carlos e Denize Cristina de Oliveira, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro analisam o “estado da arte” das produções científicas brasileiras sobre o envelhecimento na perspectiva da saúde, tendo as representações sociais demonstrando a necessidade de divulgação da produção de conhecimento científico sobre o envelhecimento em uma perspectiva interdisciplinar.

Helena Loureiro e colaboradores, da Universidade de Coimbra (Portugal) analisam a percepção da transição para a aposentadoria na perspectiva dos participantes de um projeto denominado Reativa (reforma ativa). A partir da transição do ciclo de vida que expõe os seus protagonistas a estados de diferente vulnerabilidade biológica, psicológica, social e ecológica, o projeto Reativa visa a promover um envelhecimento ativo e numa primeira fase do seu desenvolvimento. Através deste estudo, as percepções que os indivíduos apresentam relativamente à aposentadoria; descobriu-se que estes a percepcionam como uma continuidade, readaptação, ganho, perda ou ambivalência.

Luis Jacob, da Rutis – Associação Rede das Universidades da Terceira Idade (Portugal), analisa dimensões da educação de sêniores no contexto da sociedade portuguesa contemporânea. A partir do conceito de aprendizagem ao longo da vida, hoje enraizado no sistema educativo e formativo europeu e português, principalmente na sua dimensão, de qualificação profissional ou com fins de valorização pessoal, analisa-se a importância das Universidades da Terceira Idade ou Universidades Sêniors, para a população sênior continuar a estudar e a adquirir competências.

Fabio Roberto Bárbolo Alonso, da Universidade Federal Fluminense, analisa a partir do Censo brasileiro de 2010, as condições de vida de mulheres idosas que residem em domicílios unipessoais, realizando uma caracterização regional. Procura as diferenças regionais em relação às condições de vida da população idosa brasileira, observando especificamente as mulheres idosas que residem em domicílios unipessoais, de acordo com as informações obtidas no Censo 2010. Assim, confirma diferenças significativas entre as mulheres idosas que residem sozinhas, de acordo com o local de residência, bem como aspectos das desigualdades e especificidades regionais identificadas.

A formação de profissionais para atuarem neste contexto completa a publicação com três estudos com ênfase na realidade brasileira: Ruth Caldeira de Melo, Thaís Bento Lima Silva e Meire Cachioni, da Escola de Artes e Ciências Humanas – USP/SP analisam os desafios da formação em Gerontologia; seguidos de um relato de experiência apresentado por um grupo de discentes; e por Paula Costa Castro e colaboradores, da Universidade Federal de São Carlos, sobre a atuação do Bacharel em Gerontologia em uma Universidade Aberta da Terceira Idade. Finaliza-se esta parte com reflexões sobre atividades práticas visando ao envelhecimento saudável, com base na perspectiva de Paulo Freire e na política de envelhecimento ativo (OMS) desenvolvidas por Wanda Pereira Patrocinio, formada pela Unicamp e Diretora de Empresa privada na área da Gerontologia.

E para corroborar nossos desafios Daizy Valmorbida Stepansky, da Universidade Federal Fluminense e Lídia Bonfanti Anitelli, mestranda do Programa de Pós-Graduação Ciência, Tecnologia e Sociedade, da Universidade Federal de São Carlos, compartilham resenhas críticas respectivamente sobre os livros Perspectivas para ações junto ao cidadão idoso. Carta de Bertioga e Envelhecimento e Representações sociais, cujos desafios empíricos, teóricos e epistemológicos são lançados para pensarmos tendências e perspectivas do envelhecimento.

Evidentemente os textos podem ser analisados separadamente, mas o conjunto deste volume nos permite subsidiar o debate necessário e emergente sobre os processos de envelhecimento ativo e as demandas emergentes, social, ética, técnica e política, bem como reafirmar a tese da importância dos estudos cruzados – Brasil-Portugal, onde idiossincrasias e semelhanças podem ser evidenciadas.

Registra-se ainda o agradecimento especial pela generosidade dos(as) autores(as) da presente edição; aos(as) colaboradores(as) que (in)diretamente participaram deste processo e de modo especial o Professor Doutor Manuel Villaverde Cabral e a Prof.a Dr.a Flamínia Manzano Moreira Lodovici, que nos inspiram, apoiam e acolhem nosso trabalho incondicionalmente. Num último registro que não poderia faltar: dedico a organização deste trabalho à memória de minha mãe, Maria Lúcia, que também incondicionalmente me apoiou na idealização, mas partiu desta vida, sem pudéssemos compartilhar seus frutos, como sempre fizemos.

“Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos… Saudades até dados momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim… do companheirismo vivido..” (Vinicius de Moraes)

* Wilson José Alves Pedro – Editor Ad Hoc. E-mail: wjapedro@gmail.com

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