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Empresas precisam se preparar para o envelhecimento

As mudanças demográficas das últimas décadas e como isto repercutirá na força de trabalho brasileira foi o assunto da matéria “Envelhecimento da população é desafio para o mercado de trabalho”, publicado em 28.03.2013, baseado em relatório elaborado em parceria com a EAESP-FGV e o apoio FIESP, SESI e Amcham com pesquisa coletada entre novembro de 2012 a janeiro de 2013 em 108 companhias de diversos setores de atuação.

Denise Araujo *

 

A necessidade de retenção destes profissionais no mercado de trabalho será necessária para equilíbrio da gestão da Previdência Social e como alternativa para a falta de mão de obra qualificada e sustentação do crescimento econômico. A pesquisa identificou que os profissionais mais velhos ainda não são vistos pelas empresas como uma alternativa para o apagão de talentos, pois há baixo incentivo para transferência de conhecimento e experiência, como também falta de oportunidades de carreiras com a proximidade da aposentadoria. As empresas não investem na sua permanência, nem tampouco elas têm modelos de atuação que permitam aproveitar o melhor dos profissionais mais velhos.

Enfim, há pouco investimento em práticas de qualidade de vida e existe a percepção de que profissionais mais velhos custam mais caro. O estudo aponta passos iniciais que as empresas precisam considerar para estruturar as empresas de acordo com as tendências demográficas, como planejamento da força de trabalho, práticas de saúde e qualidade de vida, estratégia de atração, retenção e treinamento.

Alguns dias após a leitura e conversando com amigos sobre busca de trabalho para pessoas com mais de 40 anos, ouvi a seguinte história: “Tenho 47 anos e enviei meu currículo para uma empresa sem mencionar a idade; fui chamada para o processo de seleção e informada sobre o valor da remuneração, o qual aceitei, pois se tratava de condição para permanecer no processo de seleção; no decorrer do processo o entrevistador comentou que eu parecia ter menos idade do que informei; após alguns dias a pessoa que me informou sobre a vaga questionou porque pedi valor alto de remuneração e diferente do proposto pela empresa. Fiquei surpresa com o comentário e respondi que aceitei o valor proposto pela empresa, por isso havia participado do processo de seleção; então deduzi que alguém do processo de seleção encontrou esta alternativa para fazer minha exclusão, sem mencionar o verdadeiro motivo, a idade”.

Os profissionais que atuam em empresas privadas começam a sentir dificuldade em recolocação profissional já a partir dos 30 anos, quem dirá após os 60 anos. Profissionais da área acadêmica podem atuar por um período maior, porém a forma em que muitos são tratados ao final deste período é radical e até mesmo traumatizante. Os motivos podem ser diversos, além dos expostos na matéria – o profissional não acompanha as inovações tecnológicas, ameaça os menos experientes, é doente – há o tradicional estereótipo do velho. O que significa que urgentemente o mercado e trabalho precisa ser educado para a mudança demográfica.

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Concordo com a matéria quando esta assinala o caráter cultural da aceitação e contratação de profissionais “mais experientes” nas empresas. Em nossa sociedade o principal problema é como vemos a pessoa que envelhece, e o nosso próprio envelhecimento; é um trabalho longo, mas que precisa ser mudado para sobrevivência e bom relacionamento de todos. Acredito que um dos fatores que dificultam a mudança desta visão, seja o nosso próprio medo de envelhecer; os aspectos físicos do efeito do envelhecimento nos assusta e infelizmente isto pode ser uma barreira para muitos. Presos ao aspecto físico; deixamos de olhar as perspectivas que podem estar a nossa frente: trabalho em área diferente, retorno ao estudo e atualização. Quando eu era adolescente olhava para meus pais com 40 anos e os via como velhos; atualmente as pessoas com 40, 50, 60 anos, estão iniciando uma graduação, pós-graduação, Universidade Aberta à Terceira Idade, aprendizado de um idioma, e até mudando de área de atuação, entre outros.

Alguns profissionais já estão mudando sua visão sobre o envelhecimento, movimentos como mudar o símbolo da Terceira Idade é um bom exemplo, pois não devemos generalizar a pessoa acima de 60 anos, principalmente com todos os recursos que a medicina nos oferece para um envelhecimento com qualidade de vida. Também encontramos empresas que valorizam o trabalho destas pessoas, mas em áreas muito específicas como atendimento ao cliente ou como representante comercial. Na área administrativa muitos profissionais podem ser treinados e atualizados na parte tecnológica, e atuarem em diversas áreas onde todos têm conhecimento que o profissional “mais experiente” teria uma ótima atuação. Na pesquisa também foi identificado que maiores de 60 anos são reconhecidos como mais equilibrados emocionalmente por 96% dos entrevistados, além de serem considerados os melhores em solucionar problemas por 86%.

Ouve-se muito na área da Gerontologia as palavras multidisciplinar e intergeracional. O significado e atuação dessas palavras são essenciais para as mudanças necessárias a uma sociedade boa para todos, especialmente quando se tem em vista que daqui a alguns anos a maioria da população será composta de pessoas acima dos 60 anos.

A pesquisa anuncia que em 2040, 57% da força de trabalho será composta por profissionais com mais de 45 anos. Contudo, o processo de mudança e aceitação por parte das empresas infelizmente está lento em relação à mudança na pirâmide etária, o que pode causar grandes problemas para o ambiente corporativo, e problemas no futuro para as estruturas empresariais.

(*) Denise Araujo é administradora de empresas, tem Especialização em Gerontologia e é mestranda em Gerontologia Social – PUC SP. É professora de informática para adultos e idosos e colaboradora da ONG Envelhecer Sorrindo. É integrante do Programa Vigilantes da Memória. Email: denisearaujo@ig.com.br

Referências

CORREIO BRAZILIENSE. Envelhecimento da população é desafio para mercado de trabalho. Disponível Aqui. Acesso em 28.03.2013.

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