Aos 69 anos, o empresário Erineu Cicarelli é o orgulhoso proprietário de um dos 150 Schwimmwagen que existem no mundo, e de um batráquio de fabricação própria. Ex-borracheiro que hoje vende máquinas para recarga de cartuchos, ele acalentou, por quase dez anos, o sonho de navegar ao volante de um automóvel. E não troca esse prazer por nada no mundo.
Flávia Pinho
Lá se vão mais de três décadas desde que Erineu Cicarelli, então dono de uma borracharia, trocou os pneus de um veículo muito esquisito, que ele nunca tinha visto: um carro-anfíbio, o Schwimmwagen, fabricado na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Com jeitão de bugre, atingia 80 km/h em terra firme e 4 nós dentro d’água, o equivalente a 10 km/h. E o melhor: sem qualquer preparo, bastava sair da estrada e mergulhar. O problema é que, pela complexidade do projeto, a Volkswagen só fabricara pouco mais de 14 mil unidades — e quase todas haviam sido destruídas durante a guerra. No Brasil, só se tinha notícia de três. “Não consegui mais tirar aquilo da cabeça”, conta.
Foi preciso esperar para realizar o sonho de ter o anfíbio próprio. A borracharia cresceu, virou uma empresa de recauchutagem de pneus e, em 1985, já havia dinheiro em caixa. “Consegui, finalmente, desembolsar US$ 26 mil para comprar meu Schwimmwagen.” Nada deixava Cicarelli mais feliz do que pilotar o carrinho de sua casa, em Santo André (SP), até a represa Billings, onde se jogava na água — para espanto da plateia de desavisados. Mas ainda não era o bastante. Em 1995, Cicarelli decidiu mudar de ramo e enxergou uma boa oportunidade no setor de reciclagem de cartuchos para impressoras. Nascia a TB Acessórios. Três anos mais tarde, ele inventou uma máquina capaz de recarregar os tais cartuchos, vendida para 45 países. Era a deixa que faltava para lançar-se em aventura ainda mais ousada: construir um carro-anfíbio em versão mais moderna, 100% nacional, partindo do zero. Batizado de Batráquio, o veículo já consumiu 12 anos de trabalho e R$ 160 mil, mas ainda não está perfeito, na opinião do criador. “Ele flutua melhor, mas o alemão ainda se movimenta com mais facilidade na água”, diz. A empresa, com 70 funcionários e faturamento anual de R$ 5 milhões, ocupa boa parte da agenda do empresário. Mas, pelo menos duas vezes por ano, ele cumpre o ritual de tirar um de seus bibelôs da garagem e dar um rolê até a represa.
O que falta conquistar
Embora oficialmente aposentado, Cicarelli não pretende se afastar da rotina da empresa tão cedo. Agora, ele anda às voltas com um novo projeto, guardado a sete chaves. “Quero construir outro carro. Mais não posso contar.”
Fonte: revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios. Acesse Aqui