Detentos cantaram e tocaram para idosos num asilo para celebrar o Dia das Mães. Soa incomum. Parece improvável. Mas esta ação exitosa, intergeracional, permite uma experiência enriquecedora a detentos e a idosos. Revigora ambos. Ações do tipo ajudam na autoestima dos residentes e até dos funcionários. O trabalho da música ajuda na humanização do sistema carcerário. E esse envolvimento do preso com os idosos, certamente, os ajuda a se sensibilizar com o outro.
Redação Meon * Texto e Foto
Para Anchises João de Paula Junior, de 38 anos, o momento foi uma oportunidade para fazer ao próximo aquilo que ele gostaria que fizessem com ele mesmo. “Eu estou preso há mais de cinco anos. E sei que é muito ruim não receber visita. Então, estar aqui ajuda a preencher o vazio do nosso coração”, conta.
Nascido no meio do crime e ex-morador de rua, Anchises perdeu a mãe assassinada aos sete anos de idade. Hoje, encontrou na religião o apoio para seguir adiante. Músico e compositor, dedicou-se a escrever canções gospel. Já são 52 composições, mas uma é especial. É a que dedica à mãe, a quem reconhece não ter recebido o amor maternal que lhe era direito. Mas, o que não volta mais, vive nas folhas do passado, e Anchises prefere se concentrar nos próximos dias de sua vida. “Quando sair da prisão, quero muito trabalhar. Se for com a música, ótimo! Mas não vou focar só nisso. A primeira oportunidade que me aparecer [de trabalho], vou agarrar com toda a força”, pondera.
Se a tarde foi de festa para quem planeja um futuro diferente, foi de acolhida para aqueles que já escreveram algumas páginas do seu diário pessoal. Com um pandeiro nas mãos, presa a uma cadeira de rodas, Dona Laura Saturnino, que já nem lembra quantos anos possui, era só ansiedade antes da apresentação ter início. “Isso tudo é muito lindo!”, disse ela, mãe de um filho que “já está com Deus”.
Troca de experiências
Presos cantando num asilo para celebrar o Dia das Mães. Soa incomum. Parece improvável. Permite uma experiência enriquecedora a detentos e a idosos. Revigora ambos. Segundo o presidente da Casa São Francisco, Haroldo Ribeiro de Souza, ações do tipo ajudam na autoestima dos residentes da casa e até dos funcionários. “É uma ressocialização que presta serviço e faz com que nossa alegria seja solidária, e não solitária”, reflete.
A banda do CPP de Tremembé existe desde meados de 2015. A unidade prisional é de regime semiaberto e, por isso, a rotatividade dos integrantes da banda é alta. A banda “Coral & Vozes”, atualmente, tem cantores e músicos que tocam violão, teclado e cajon. A inclusão do detento na banda passa pela afinidade com a arte da música, no entanto, superior ao talento musical a ser lapidado é a vontade do preso em se entender como alguém capaz de produzir algo positivo.
“O trabalho da música ajuda na humanização do sistema carcerário. E esse envolvimento do preso com os idosos, certamente, os ajuda a se sensibilizar com o outro. É uma forma do preso ‘devolver’ para a sociedade uma prática construtiva”, fala o diretor do CPP de Tremembé, Sílvio Ferreira de Camargo Leite.
* Meon, Jornal da região de Taubaté.