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Em pauta, o suicídio

Neste mês algumas matérias sobre suicídio produzidas por órgãos governamentais estiveram em pauta na mídia nacional. Reproduzimos três delas – duas da Agência Brasil que mostram opiniões distintas sobre o mesmo fato -, por acharmos de utilidade pública e até porque o Portal do Envelhecimento vem chamando a atenção para esse tema por acreditarmos que ele deva sair da invisibilidade e vir à tona. O tema do suicídio não pode continuar como tabu. E, por fim, o último artigo, que traz resultados da pesquisa intitulada É possível prevenir a antecipação do fim? Suicídio de idosos no Brasil e possibilidades de atuação do setor saúde, realizada por pesquisadores do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP), em parceria com pesquisadores de programas de pós-graduação e serviços de saúde de diversos estados brasileiros, que teve como objetivo compreender a magnitude e a significância do suicídio na população brasileira acima de 60 anos. O estudo foi financiado pelo Programa Inova ENSP – que incentiva e apoia investigações de temas novos que possam contribuir estrategicamente para o avanço da saúde pública.


1) 7 sinais que podem ser apresentados por suicidas, por Agência Brasil | Paula Laboissière

Identificar pessoas em situação de vulnerabilidade e prevenir mortes por suicídio por meio de uma rede interligada dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa é a meta do Programa de Prevenção ao Suicídio, lançado em setembro pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, por ocasião do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.

Para incentivar políticas públicas voltadas para a prevenção do suicídio em todo o mundo, a Organização Mundial da Saúde cobrou em documento mais ações relativas à questão.

De acordo com a coordenadora de Prevenção ao Suicídio da Diretoria de Saúde Mental, Beatriz Montenegro, o DF é a primeira unidade federativa a desenvolver uma política pública voltada para a prevenção do suicídio. “Existem as Diretrizes Nacionais de Prevenção ao Suicídio, lançadas pelo Ministério da Saúde em 2006, que preveem que as unidades federadas desenvolvam políticas”, explicou.

Segundo ela, a política proposta pela Secretaria de Saúde precisa estar fundamentada em uma ação intersetorial dos diversos níveis de complexidade do sistema público de saúde. “A gente precisa de uma política que sensibilize, que capacite os profissionais e que articule essa rede de maneira a oferecer para a pessoa que está em situação de vulnerabilidade uma atenção integral e adequada”, completou.

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Dados do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) indicam que o DF registra uma média de 20 casos de tentativa de suicídio por mês, sendo até dois consumados. Há cerca de um ano, o órgão dispõe também de duas psicólogas que atuam em casos em que a pessoa tenta tirar a própria vida.

“Quando a Central 192 identifica uma tentativa de suicídio, a equipe de enfermeiros e técnicos de enfermagem vê a parte clínica e se o paciente precisa ser encaminhado ao hospital. Depois disso, entra a equipe de psicologia. A gente vai ao local e faz uma intervenção com o paciente e com a família, tentando sensibilizar para um tratamento e um acompanhamento na rede”, explicou Elaine Medina, psicóloga do Samu.

Ela alertou que é um mito pensar que quem tenta o suicídio quer chamar a atenção ou que quem quer se matar não avisa ninguém. Segundo a especialista, a ameaça de suicídio deve sempre ser levada a sério. Dados do Samu mostram também que pelo menos dois terços das pessoas que cometem suicídio haviam comunicado a intenção, de alguma maneira, aos amigos e à família.

“Quem tenta o suicídio quer acabar com uma dor psíquica, com um momento difícil pelo qual está passando. E quem tenta uma vez, se não houver um trabalho ou um suporte, vai tentar de novo até conseguir”, concluiu Elaine.

Sinais que podem ser apresentados por pessoas em risco de tirar a própria vida

Confira também algumas frases classificadas pelo Samu como de alerta:

O Samu listou ainda dicas para ajudar pessoas em risco de cometer suicídio

2) Políticas de prevenção do suicídio “não saíram do papel”, diz psiquiatra, por Agência Brasil | Aline Leal Valcarenghi

O Ministério da Saúde lançou em 2006 as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio recomendando que cada estado elaborasse suas estratégia nessa área. Depois de seis anos, no entanto, pouca coisa mudou, segundo Alexandrina Meleiro, psiquiatra filiada à Associação Brasileira de Psiquiatria e integrante da organização não governamental Centro de Valorização da Vida (CVV).

“Faz tempo que todas as coisas ligadas ao suicídio não ficam mais do que no papel. Reúnem-se grandes nomes, celebridades e não sai nada do papel”, afirmou. No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, lembrado no dia 10 de setembro, a especialista dá sugestões do que pode ser feito para mudar esse quadro.

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Para incentivar políticas públicas voltadas para a prevenção do suicídio em todo o mundo, a Organização Mundial da Saúde cobrou em documento mais ações relativas à questão. O Distrito Federal (DF) também lançou hoje um programa de políticas públicas para prevenir o suicídio. De acordo com a coordenadora de Prevenção ao Suicídio da Diretoria de Saúde Mental, Beatriz Montenegro, o DF é a primeira unidade federativa a desenvolver uma política pública voltada para a prevenção do suicídio.

A psiquiatra acredita que o primeiro passo para uma prevenção eficiente é a orientação. Na opinião dela, líderes de grupos como escolas e igreja deveriam ser diretamente orientados pelo serviço de saúde pública a reconhecerem os sinais que as pessoas dão de que estão pensando em suicídio.

“Eu instruiria professores e esses professores instruiriam pais. Eu instruiria representantes de todos os credos religiosos, seja padre, pastor, rabino, de tudo quanto é religião. Instruiria também comunidades como Lions, Rotary, e todas as comunidades que fazem serviços voluntários”, explica Alexandrina Meleiro.

Abandono de amigos e de atividades sociais, perda de interesse em atividades que antes traziam prazer, estado emocional instável e conversas sobre a morte podem ser sinais de que algo está errado e de que a pessoa com esses sinais pode, num futuro próximo, cometer suicídio. De acordo a psiquiatra, diante dessas evidências, pessoas mais próximas devem procurar profissionais especializados no assunto.

Outra atitude a ser tomada na prevenção do suicídio, de acordo com Alexandrina, seriam programas de treinamento das pessoas que trabalham nas emergências e nos serviços de qualidade mental, compostos por psicólogos, psiquiatras e terapeutas de família.

”Quando há uma tentativa [de suicídio], a pessoa vai para um serviço de emergência. Nele, não há pessoas qualificadas para o tratamento. O primeiro tratamento médico-cirúrgico é feito como se fosse um trauma qualquer. Mas, dali, o paciente precisaria de um encaminhamento para internação, para um psiquiatra ou psicólogo. Do pronto-socorro ele vai pra casa. Nada é feito”, explica.

O Ministério da Saúde foi procurado pela Agência Brasil em duas oportunidades para comentar o tema, mas a assessoria de imprensa não tinha informação sobre o desenvolvimento de ações previstas pelas Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio de 2006. De acordo com a portaria que estabelece as diretrizes, a Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde teria atribuição de regulamentar o documento em 120 dias.

Entre as determinações do documento, está a de desenvolver estratégicas de informação, de comunicação e de sensibilização da sociedade “de que o suicídio é um problema de saúde pública que pode ser prevenido”. Página da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio do Ministério da Saúde prevê a elaboração do Plano Nacional para Prevenção do Suicídio e do Plano Plurianual 2008-2011.

3) Pesquisa revela perfil do suicídio de idosos no Brasil, por Tatiane Vargas, do Informe ENSP/Fiocruz

Com o objetivo de compreender a magnitude e a significância do suicídio na população brasileira acima de 60 anos, pesquisadores do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP), em parceria com pesquisadores de programas de pós-graduação e serviços de saúde de diversos estados brasileiros, desenvolveram a pesquisa É possível prevenir a antecipação do fim? Suicídio de idosos no Brasil e possibilidades de atuação do setor saúde. O estudo, financiado pelo Programa Inova ENSP – que incentiva e apoia investigações de temas novos que possam contribuir estrategicamente para o avanço da saúde pública –, resultou em importantes frutos.

O primeiro deles foi o lançamento do número temático da Revista Ciência e Saúde Coletiva (volume 17, número 8), que reúne artigos de todos os pesquisadores que participaram do estudo, sendo três de cunho epidemiológico que tratam da magnitude do fenômeno no país, por regiões e por municípios, segundo sexo e segmentos de idade entre os idosos e fatores de risco. A outra parte do conjunto de textos disponíveis na edição temática discute os aspectos qualitativos das mortes autoinflingidas e traz, entre outros aspectos, informações circunstanciadas dos casos, impactos na família, clivagem de gênero e análise dos instrumentos utilizados para a pesquisa, descrição do trabalho de campo e, por fim, a análise de uma experiência de prevenção.

O grupo apresenta também um sumário executivo que resume para leigos o conjunto de informações e oferece sugestões para prevenção. Esse sumário executivo, mais um fruto da pesquisa, foi apresentado à sociedade durante a realização do I Seminário Nacional sobre Prevenção de Suicídio de Pessoas Idosas, realizado, de 29 a 31 de agosto, no Hotel Novo Mundo, no Rio de Janeiro. Participaram cerca de 300 pessoas oriundas de 16 estados brasileiros e com representação de todas as regiões. Entre elas, profissionais de diversas áreas: médicos, psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais, advogados, pedagogos, nutricionistas, administradores, empresários, arteterapeutas, cuidadores de idosos, técnicos judiciários, pesquisadores, voluntários e alunos de pós-graduação em medicina, enfermagem, geriatria, políticas públicas e psicologia.

O seminário chamou atenção para temas como o acelerado envelhecimento da população brasileira, sobretudo da população acima de 75 anos; a magnitude, a localização e os fatores de risco para o suicídio de idosos; o resultado de um estudo qualitativo baseado nas chamadas autópsias psicossociais; a metodologia e os instrumentos empregados no estudo; a questão de gênero que tem grande peso na apresentação do fenômeno; as consequências do suicídio dos idosos em suas famílias; e as propostas de prevenção e recomendações para o setor saúde. De acordo com Cecília Minayo, coordenadora científica do Claves/ENSP, o seminário propôs a reflexão sobre um tema muito importante e presente em várias áreas disciplinares e diversos campos de atuação. E foi esse o tema tratado na pesquisa É possível prevenir a antecipação do fim? Suicídio de idosos no Brasil e possibilidades de atuação do setor saúde. Disponível Aqui .

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