A atriz Maitê Proença, 55 anos, no espetáculo “À Beira do Abismo Me Cresceram Asas”, protagoniza as questões do envelhecer: “O que você vê quando olha pra mim? Uma velha rabugenta e reclamona? Eu não sou o que você está olhando. Eu sou aquilo que está dentro do que você está olhando…”, ou seja, que fique muito claro, tem gente dentro de mim.
Maitê, que após o espetáculo lança o terceiro livro da carreira, “É Duro Ser Cabra na Etiópia”, assina o texto da peça, baseado em pesquisa e ideia de Fernando Duarte, e divide a direção com Clarice Niskier. A supervisão é de Amir Haddad. Maitê se envolveu profundamente com o projeto, com o universo das velhices.
Baseado em acontecimentos colhidos em diferentes asilos do Brasil, o espetáculo fala sobre a vida de duas senhoras em seus 80 e poucos anos, tratando desse momento da vida em que “papas na língua” se fazem dispensáveis: Valdina (interpretada por Clarisse) e Terezinha (Maitê). As duas são muito amigas, e encaram a idade como se ainda fossem jovens, com a diferença de que não se preocupam mais em mitigar algumas verdades. “Filtro pra quê? Voltei para a infância e falo o que me vem na cabeça. Para alguma coisa tem de servir a velhice”, diz Valdina.
Sobre a experiência, Maitê conta pra imprensa: “Alguns eram carregados de lamúrias e autopiedade. Tirei tudo isso, inventei novas histórias, recheei de conceitos e ideias com os quais ando às voltas, joguei um suspense, um segredo e bastante humor…”.
A reportagem pergunta: “Mas como encarar a terceira idade em um mundo que louva a beleza da juventude, como se envelhecer fosse contra as leis da natureza?”. Maitê argumenta: “Há uma histeria no mundo em relação ao prolongamento da juventude. É luta perdida”.
Sobre associar velhice com decadência, Maitê lembra: “Há velhos que a gente conhece, e a última coisa que pensa quando está perto deles é na decadência. São curiosos, vibrantes, inesperados, instigantes, interessados e interessantes. O entusiasmo é que faz vibrar, não a pele lisa. Esta tem viço e encanta, mas a gente se acostuma logo, além de ela durar muito pouco tempo”.
E quanto à eterna busca pela juventude protagonizada por atrizes expostas ao escrutínio público na televisão, a atriz responde: “Sim, a TV também gosta do viço da juventude, como todo mundo. Eu driblo isso criando meus trabalhos. Esta é a terceira peça de minha autoria”.
Em cena, as atrizes dão vida a personagens octogenárias: “A peça acontece dentro de um asilo onde as duas senhoras vivem. Lá elas se conheceram e desenvolveram a imensa amizade que as une e aquece. Estão abandonadas, mas têm uma à outra e um punhado de histórias, reflexões”, afirma a atriz Maitê Proença.
Sobre as personagens, Terezinha, 86 anos, e Valdina, 80 anos, ela afirma: “A minha Terezinha é mais carrancuda, mas também é mais sábia, tem uma compreensão mais ampla das coisas, não fica maquiando a existência pra que pareça melhor, enxerga as coisas como elas são e pronto. A Valdina, da Clarisse, é mais palhaça.. Mas ela tem um segredo de que ela não gosta porque é difícil de encarar. As duas se bicam e se amam”.
Sobre a escolha do tema da velhice, Maitê explica: “Os velhos não são só aquilo que percebemos exteriormente, são pessoas de 10 anos, 25, 30 60 e também 80. Tendo passado por tudo, têm muito a dizer, muitas histórias boas a contar; os bons velhos fizeram lindas reflexões ao longo da caminhada”.
Teatro Faap
O Teatro fina na rua Alagoas, 903, Higienópolis. Temporada: até 18/8 Horários: sextas e sábados às 21h; domingos às 18h Ingressos: R$ 70,00 (sextas e domingos); R$ 80,00 (sábados).
Referências
PRIKLADNICKI, F. (2013). Maitê Proença encena histórias da terceira idade no Theatro São Pedro. Disponível Aqui. Acesso em 31/05/2013.