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Em cena: amor e sexo…para os mais velhos

Não é de hoje que a televisão está atenta aos “amores da maturidade”. E nós, os mais velhos, agradecemos, afinal, a idade não nos nega o direito ao amor e dele desfrutar tudo de bom que a vida pode e deve nos oferecer.

 

 

Fazendo uma viagem pelo túnel do tempo, encontramos, inicialmente, em 1976 “O Casarão”, novela estrelada pelos “grandes” Paulo Gracindo e Yara Côrtes. Nessa história é o amor da juventude que retorna na velhice, implacável, urgente e lindamente respeitoso, como os padrões da época televisiva assim exigiam. Mas, esse amor tão estranho aos olhos dos outros já dava sinais de que viria, em histórias posteriores, com toda intensidade: possível, inimaginável, mas merecida.

As histórias não nos deixam mentir: aquilo que já prevíamos, aconteceu em “Passione” de 2010. Nela, Antero (Leonardo Villar), divorciado de Brígida (Cleyde Yáconis) corre atrás de Gemma (Aracy Balabaina), o grande amor de sua vida. E Brígida decide assumir seu amor por Diógenes (Elias Gleiser), casando-se com ele, motorista da família. Mas quem acha que parou por aí, engana-se: Brígida também fica com Benedetto (Emiliano Queiroz), o segundo pretendente, que aceitou ser amante!

Traquinagens que só pertencem aos jovens? Diríamos que não, talvez pequenos assanhamentos de todos nós, aos 20, 30, 40, 50, 60 e muitos mais.

A evolução segue seu curso com outra novela, “A Vida da Gente” de 2011. Agora a telinha nos traz um casal diferente, ao mesmo tempo, igual a muitos que vemos pelas ruas e nas nossas famílias. Trata-se dos personagens interpretados pelos atores Nicette Bruno, 78 anos, e Stênio Garcia, 79 anos. O destaque fica para o amor protagonizado pela personagem Iná, de Nicette Bruno, que namora o marceneiro Laudelino, de Stênio Garcia.

Que amor será esse? Aquele “um”, amaldiçoado impiedosamente por muitos”: a relação sem “tanto” compromisso entre duas pessoas que se querem sem regras ou padrões impostos pelo social.

Parece que a personagem vestiu como uma luva para a atriz: “Hoje em dia a mulher está tão liberal, as coisas estão mais claras. Só existe importância no casamento se houver vontade de constituir um núcleo. Se não, para quê casar?”, questiona Nicette, casada com o ator Paulo Goulart há 57 anos! (Os Paparazzi, 25/09/2011)

Outro tema tratado na novela é o sexo, o desejo, o medo que a personagem Iná tem de perder a libido com a idade. Para isso a atriz afirma: “O sexo não acaba. O tempo vai transformando. As pessoas não são as mesmas de 50 anos atrás, mas acho a gente melhor do que quando nos conhecemos”. Stênio Garcia também comentou: “Nós nos aproximamos no cheiro, nas coisas que a gente vê. A gente vai ficando assanhado sob qualquer circunstância. São estímulos que a gente busca sempre”.

Em cena: amor e sexo…para os mais velhos

Na matéria do Diário Gaúcho de 24/10/2013, Cristiane Bazilio aborda esse estranho amor realizado na velhice através de outra novela em cartaz “Amor à Vida”. Ele retrata o preconceito que Bernarda (Nathalia Timberg) e Lutero (Ary Fontoura) sofrem quando decidem consumar o amor que os uniu a uma altura avançada da vida: “Em uma época de culto à beleza, especialmente à da juventude, ninguém estranha quando cenas de amor e sexo invadem as novelas. Histórias de romance e desejo, quando ilustradas por personagens jovens e bonitos, são vistas com naturalidade e têm o consentimento da grande massa. Mas será que, quando a paixão envolve a terceira idade, o olhar da sociedade sobre o assunto muda?”.

Especialistas nas questões do envelhecimento atestam: o amor e o desejo não têm prazo de validade e fazem, sim, muito bem a essas pessoas [os idosos e todos nós, claro!] que ainda desfrutam das benesses do bem viver.

Bernarda e Lutero

“Se querem saber, eu transei, sim. E para encerrar as especulações, funcionou! Funciona e deve funcionar outras vezes”, responde Bernarda ao ser interrogada pela filha Pilar e pelo neto Félix.

Mas como Pilar não aceita a situação, ela esbraveja: “Precisava ter sexo, mamãe? Eu acho um pouco inconveniente. Na sua idade? Eu não me conformo!”.

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Psicóloga e doutoranda do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUC-RS (IGG), Claudia Adriana Lufiego aponta as razões que levam a família a rejeitar a possibilidade de ver seus idosos relacionando-se amorosamente: “O preconceito está atrelado à ideia de final da vida. É difícil para as pessoas entenderem como, nessa etapa, alguém pense nisso. Tem muito de egoísmo também. Eles entendem que, aos idosos, só é permitido o amor pelos netos e pela família”, explica a especialista.

Para o professor adjunto do IGG e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia no Estado, Ângelo José Gonçalves Bós, a novela trata o assunto com lente de aumento, uma vez que, na realidade, alguns paradigmas já mudaram: “Da década passada pra cá, a sociedade está mais aberta a entender que o idoso é um ser humano como todos os outros, que tem necessidades físicas e emocionais”, avalia.

Claudia Adriana Lufiego afirma que os relacionamentos na terceira idade são fortes aliados no combate aos males da mente: “Um dos motivos que levam à depressão é o isolamento social do idoso. Cerca de 15% dos que estão inseridos num contexto familiar e amoroso sofrem de depressão. No caso dos que vivem sozinhos e sem parceiros, este número dobra. Nada melhor para a saúde mental do idoso do que se relacionar”.

Registro do amor

As novelas dão seu recado e a fotografia existe para registrar imagens, capturar emoções e nos fazer lembrar que somos os protagonistas de nossas existências. Então façamos dela o melhor para ser visto e vivido. Foi o que procurou fazer Lauren Fleishman.

Após a morte de seu avô, a fotógrafa encontrou uma série de cartas de amor que ele tinha escrito para a esposa (sua avó) num livro que estava perto de sua cama. Eles foram casados por mais de 50 anos.

Seu projeto “Love Ever After” consiste numa série fotográfica de “cartas de amor”. São retratos de casais novaiorquinos que estão juntos há mais de 50 anos, e ainda há depoimentos escritos e em áudio.

Registramos abaixo algumas frases dos protagonistas dessas histórias ou dessas fotos:

“Você realmente não pensa sobre envelhecer. Primeiro, quando se convive muito tempo junto, você não nota as mudanças. Você não nota uma ruga que apareceu no rosto do seu parceiro. Essas coisas só acontecem. Eu não fico pensando ‘oh, meu marido tem 83 anos e logo terá 84. Estou casada com um homem velho!’. Espero que ele não pense assim também”. Angie Terranova

“Eu vou fazer 88 anos e minha esposa, 85. Hoje eu só desejo mais 5 ou 6 anos de vida, é só o que queremos. A verdade é que eu sempre digo para minha esposa que quero chegar aos 94, meu objetivo de vida. Gostaria de ver meus netos bem-sucedidos. Queremos que sejam felizes como fomos”. Moses Rubenstein

“Pouco a pouco, nós envelhecemos, mas não mudamos nosso coração. O amor se fortifica, é como eu me sinto e como acredito que ele se sinta. Sim, ele foi meu primeiro amor, e meu último também”. Leila Ramos

“Qual é o segredo do amor? Um segredo é secreto e eu não revelo os meus!” Ykov Shapirshteyn

É, segredos não se revelam, se vivem.

Referências

BAZILIO, C. (2013). O amor não tem prazo de validade. Disponível Aqui. Acesso em 24/10/2013.

FLEISHMAN, L. (2013). Fotógrafa retrata casais que estão juntos há mais de 50 anos. Disponível Aqui. Acesso em 24/10/2013.

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