O avanço das doenças crônicas e degenerativas expõe a fragilidade dos mais velhos e requer o preparo de outras pessoas para cuidar da vulnerabilidade da idade avançada, permitindo aos idosos que enfrentem realisticamente os limites pessoais impostos pela nova condição.
Maria das Graças S. Leal *
“Cuidar é uma atitude de amor e interesse por outra pessoa. Cuidar de alguém é geralmente considerado um atributo positivo – um sinal de comportamento maduro e civilizado. A capacidade de uma sociedade cuidar de seus membros menos afortunados é a marca do seu desenvolvimento”, assinalam Brotchie & Hills (1991: p.33).
Existe uma diferença entre o tratar e o cuidar.
O tratamento ministrado por profissionais especializados é um fato necessário numa época onde se alcança idades avançadas, com patologias complexas e de difícil diagnóstico. O cuidado se evidencia quando os tratamentos são demorados, a doença gerou dependência física ou mental (ou ambas) e desafia a possibilidade de cura.
O avanço das doenças crônicas e degenerativas expõe a fragilidade dos mais velhos e requer o preparo de outras pessoas para cuidar da vulnerabilidade da idade avançada, permitindo aos idosos que enfrentem realisticamente os limites pessoais impostos pela nova condição. A doença ameaça a integridade da pessoa, e não apenas pela dor ou sofrimento, mas também desorganiza o cotidiano, instala o medo e a insegurança.
É imprescindível a orientação e monitoramento por profissionais capacitados, mas no cotidiano a prioridade é do cuidado sobre a cura.
O que é o cuidar?
O cuidar é aqui entendido como uma resposta de suporte físico, emocional e social em relação à condição e situação solicitada pelo idoso (a). Trata-se de uma resposta de apoio cujo objetivo é o compromisso com a promoção do bem estar e com a ajuda nas suas atividades da vida diária, dedicando o tempo, paciência, atenção e dando suporte a pessoa para o que só pode ser feito com ajuda.
Portanto, cuidar do outro é ser depositário de seus temores, é partilhar afeição, é acompanhar de perto o paciente frente à aflição e separação dos outros. É garantir que ele continue sendo relevante para os demais e que a sua enfermidade não o isolou do grupo. Quando possível abrandar a dor, ajudá-lo a conviver com sua fragilidade, em qualquer nível, seja física, psíquica ou funcional. Cuidar com sabedoria exige capacidade e intuição.
É no cuidar que mais expressamos nosso vínculo para com os outros. Os gestos afetivos, os estímulos, a expressão de sentimentos permite aos cuidadores materializar a solidariedade e possibilita com a ajuda, com o estímulo o encontro com autonomia corporal, tornando o paciente mais independente, mais integrado e menos sofrido. Ao segurar a mão, dar um abraço já percebemos a recepção do corpo e o benefício do afeto.
Dento deste contexto o “cuidar” deve ser colocado como um talento ou virtude para que se possa conhecer e atender os idosos em suas diversas necessidades e qualificar os profissionais que atendem a esta demanda emergente.
O cuidado é a pedra fundamental de respeito e da valorização da dignidade humana, sobre o qual tudo o mais deve ser construído. A afirmação da inglesa Dame Ciccely Saunders resume esta filosofia – “O sofrimento só é intolerável quando ninguém cuida” (1993).
Referências
Brotchie, J.,& Hills, D. (1991). Equals shares in caring. London: Socialist Health Association.
Saunders, D.C. (1993). Some challenges that face us. Palliative medicine; 7 (Suppl):77-83.
* Maria das Graças Sobreira Leal, mestre e doutora em Psicologia Clínica na área de Gerontologia e Coordenadora do Curso de Gerontologia Social do Instituto Sedes Sapientiae. Email: gracas.leal@gmail.com