Taeko, minha filha mais recente, tem 90 anos e frequenta o Faça Memórias, projeto de arte e cultura para idosos com problemas de esquecimento, já faz uns bons anos. Neste tempo de convívio onde o afeto nos mostra sua importância, percebo que nossa alma é de Woodstock
Em cada vitrine uma decoração especial sobre o dia das mães. Olho com atenção cada dizer ali escrito pelos lojistas que tentam aumentar suas vendas nesta data tão comercial que enaltece o mais verdadeiro dos amores: O amor de mãe.
Em minha mente a imagem da minha mais nova filha faz meu coração ser inundado por um sentimento delicioso de sentir.
Taeko, minha filha mais recente, tem 90 anos e frequenta o Faça Memórias, projeto de arte e cultura para idosos com problemas de esquecimento, já faz uns bons anos. Neste tempo de convívio onde o afeto nos mostra sua importância, nossa relação tem se tornado cada dia mais bela e uma afinidade crescente ressalta aos olhos de quem nos vê juntas, afinal nela, encontro todos os valores que pressuponho fundamentais para a vida.
De uns tempos para cá, ela resolveu inundar meu coração de carinho ao dizer que para ela, sou sua segunda mãe. Confesso que ao ouvir isso pela primeira vez, uma mistura de emoção e graça tomou conta de mim. Dona de uma beleza única, posso afirmar que Taeko é uma das pessoas mais lindas que conheci na vida. É sensível, humilde, doce e tem o coração que não cabe no peito. Sempre tem algo belo para dizer ao grupo e é dona de uma sabedoria ímpar. Uma alma de filósofa parece habitar aquele corpo de 90 anos vividos com afetos. Todos nossos encontros semanais são cercados de abraços que acompanham sua fala:
A senhora é minha segunda mãe.
Sabe Taeko, amo ter você de filha. Uma filha que me enche de orgulho pela dignidade existente no seu modo de ser. Eu, como mãe, fico admirando sua educação, sua sensibilidade e senso de justiça que são muito maiores do que você. Sim! Sou como sua mãe, pois as mães nos amam acima de tudo e é assim meu amor por você. Como mãe, eu também me preocupo e rezo para você ser abençoada e continuar trilhando caminhos iluminados.
Parada ali na vitrine, senti uma comoção inundar meus olhos.
CONFIRA TAMBÉM:
Voltei a realidade. Enxuguei as lágrimas e segui meu caminho pensando na data que logo mais estaria aí.
Imediatamente comecei a me perguntar sobre o que poderia comprar de presente para minha mãe enquanto, ao caminho do dentista, passeava entre uma vitrine e outra.
Considero-me uma pessoa de sorte por ter os filhos e a mãe que tenho. Minha mãe é muito doce e de uns tempos para cá, bastante irônica. Resolveu contornar os probleminhas do avanço da idade com bom-humor tornando-se uma pessoa engraçada de tão sincera.
Foi assim durante toda doença do meu pai que, só depois de um ano da cirurgia do coração, parece estar finalmente melhor. Comentários jocosos estão sempre na ponta da língua e assistir TV com ela é uma das coisas mais divertidas que existem. Minha mãe faz da TV um objeto interativo pois participa de tudo que acontece emitindo opiniões e fazendo comentários, sempre muito engraçados até mesmo quando trágicos.
Ano que vem ela fará 80 anos e desde já, planejamos as inúmeras comemorações que ela gosta de fazer.
Como ela diz: A vida precisa ser comemorada!
E hoje é dia das mães.
Eu também sou mãe, de humanos e caninos.
3 filhos bípedes e agora, depois da morte da minha Nina, 2 quadrúpedes e recentemente a Taeko. Também gosto de comemorar mas cometi erros incorrigíveis com meus filhos de sangue, já que a Taeko não se inclui nisso.
Esta mania de viver acreditando que estamos em Woodstock me fez ensiná-los, desde pequenos, que os presentes realmente significativos são os afetos que compartilhamos. Vejam só minha relação com minha mais nova filha, que é prova viva de tudo o que ensinei à eles. Pelo jeito, eles aprenderam direitinho e, com todo o coração, desprezam qualquer presente adquirido comercialmente. Fico orgulhosa por saber que jóias, roupas de grife, bolsas de perua etc, etc e etc não significam nada para eles. Nem à mim mesma.
Acontece que não vivemos em Woodstock e no segundo domingo de maio, TODAS as mães que conheço recebem algo como presente. Todas menos eu que colho neste dia a grandeza dos ensinamentos que fiz questão de passar aos meus filhos.
Meu marido, então, é um ser à parte que julga uma grande bobagem qualquer coisa que venha das lojas e não do coração. Um coração que, aliás, não tem calendários e nunca se recorda de fatos corriqueiros como, por exemplo, que sou a mãe dos filhos dele, o que na minha cabeça seria uma boa razão para ganhar um presentinho qualquer.
Bobagem do mundo capitalista que não entende que todos os dias deveriam ser próprios para demonstrar os tais presentes impossíveis de serem comprados! E assim seguimos comemorando a vida: de um lado minha mãe que ama uma reuniãozinha afetuosa para comemorar qualquer coisa, do outro lado meu marido e meus filhos que vivem o amor e a paz como princípios básicos diários semelhantes ao que aconteceu entre 15 e 18 de agosto de 1969 na fazenda de 600 acres de Max Yasgur na cidade de Bethel, no estado de Nova York, Estados Unidos.
Mais de 400 mil expectadores participaram dos dias dedicados à Paz e ao Amor no festival Woodstock que com sua música e bandas exemplificou a era da contracultura, movimento que teve seu auge na década de 60 com jovens focados na mudança de valores e consciência para transformar a sociedade como um todo.
É isso! Como não pensei nisso antes! Nossa alma é de Woodstock. Como não percebi que meus filhos, todos eles, possuem uma alma contestadora que clama por justiça, igualdade e prega o Amor e a Paz como nossos maiores bens. Isso não se acha em loja!
Minha filha Taeko sabe disso e me entrega, semanalmente, os mais lindos presentes. Yuri, Bruno e Larissa tem um hippie dentro do peito que nenhuma sociedade capitalista é capaz de aprisionar. Preciso me orgulhar! Consegui criar filhos do bem e com valores dignos de reverências.
E meu marido? É Hippie? De alma? Minhas cachorras descabeladas? Até elas?
Woodstock para sempre em nós! Este ano, o festival completa 50 anos sem esquecermos que ele foi feito com a intenção de afirmar a cultura hippie que pregava a paz e o amor enquanto protestava a guerra do Vietnã.
A música foi usada como ferramenta de mudança social e política e nem a tempestade que formou verdadeiras piscinas de lama foi capaz de diminuir a empolgação dos inúmeros participantes.
Sua essência continua intacta em muitos! Que bom! Detestaria passear pela vida de bolsa frufru procurando em lojas aquilo que não se compra!
Neste dia das mães deixe o comércio fazer a festa! Mas sem esquecer que o que mais faz sentido, por dinheiro algum e em loja nenhuma você encontrará de presente.
No Mais…. vocês, aqui de casa e leitores esquecidos, fica aqui um recado:
Segundo domingo de maio costumamos comemorar o dia das mães! Coloque o calendário para dar aquele alerta especial. É dia de demonstrar o amor para quem te ama acima de qualquer coisa. Presentes? Só se embalados com afeto, caso contrário não fará sentido algum.
Feliz Dia! E a Taeko, Yuri, Bruno, Larissa, Estrela, Aurora e Nininha na eternidade, obrigada por serem os filhos que são.
Verdadeiros presentes que recebo todos os dias! Viva o Amor! Viva Woodstock e a rebeldia que nos faz amar ao invés de comprar!