A degeneração das células situadas numa região do cérebro chamada substância negra provocam a doença de Parkinson. Essas células produzem uma substância chamada dopamina, que conduz as correntes nervosas (neurotransmissores) ao corpo. A falta ou diminuição da dopamina afeta os movimentos do paciente, provocando tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita.
Luciana H. Mussi, da redação Portal / Fotos: Alessandra Anselmi
Portal – Por que essas células se degeneram?
Dr. Ballalai – O grande mistério da ciência, ainda hoje, é saber porque que essas células se degeneram. Isso, nós não sabemos ainda, temos várias pistas, mas a causa final, porque o processo ocorre ainda é um mistério. Claro que o dia que a gente desvendar completamente os mecanismos pelo qual a célula morre a gente vai descobrir o tratamento curativo, uma descoberta que vai permitir a cura. Enquanto a gente não sabe isso nós temos tratamentos, medicamentos que melhoram as funções motoras devolvendo a funcionalidade ao paciente, de se relacionar com as pessoas, conseguir voltar a trabalhar.
Qual é a prevalência da doença no mundo?
Dr. Ballalai – A doença afeta, mais ou menos, no mundo todo 180 a 200 pessoas a cada 100 mil habitantes. Para pacientes com mais de 65 anos de idade, estimamos que 1 e 4% dessa população tem o diagnóstico da doença de Parkinson. Se a gente imaginar que a população está envelhecendo cada vez mais, cada vez se morre mais tarde, cada vez mais essas doenças – que tem uma preponderância para começar depois dos 50, 60 anos -, vão aumentar. Isso vale para o Parkinson, o Alzheimer, as doenças cardiovasculares. Todas essas aumentam a prevalência à medida que a população envelhece. Estimamos que com o passar dos anos a população de parkinsonianos deve ampliar, cada vez mais. Não é que a doença seja mais prevalente agora, no momento, mas é que a população está mais velha.
Existe incidência em pacientes mais jovens?
Dr. Ballalai – Existe sim, abaixo dos 40 anos, 20 % das pessoas podem ter a doença de Parkinson.
Mas Doutor, 20% é bastante!
Dr. Balallai – É, você tem razão, é bastante.
Os sintomas acabam se confundindo com outras doenças e com isso o diagnóstico fica difícil de ser feito?
Dr. Ballalai – É um diagnóstico, às vezes, difícil de ser feito sim. Ele se confunde, por exemplo, com depressão, se confunde com uma doença chamada tremor essencial que acomete pessoas mais velhas, se confunde com o próprio envelhecimento normal. A pessoa está com 60, 70 anos com sintomas da doença Parkinson e outros dizem: “não, não, ele está assim porque ele está velhinho”. O que não é verdade. Ele está com um problema que pode ser tratado e esse engano no diagnóstico acaba prejudicando as pessoas que deixam de receber o tratamento mais efetivo. Então essas campanhas que alertam para o diagnóstico são importantes porque mais pessoas se preocupam com o problema, mais pessoas acabam buscando os médicos para fazer o diagnóstico, mais pessoas começam a ter acesso ao tratamento e a vida melhora muito. Embora não cure, a vida melhora com o tratamento.
O Senhor considera a medicação determinante nesse processo?
Dr. Ballalai – A medicação é determinante sim, melhora a vida das pessoas porque tem também um mito, não só com Parkinson, mas com toda a doença crônica. As pessoas dizem assim “Eu não vou curar nunca dessa doença, então para que eu vou procurar tratamento? Não, eu vou deixar assim”. Então a pessoa fica sofrendo anos com aquele problema, não tratando adequadamente, quando a vida pode mudar, a pessoa pode voltar à vida normal, com o convívio familiar, com o trabalho.
Ou seja, conviver com a doença, mas vivendo, retomando suas atividades rotineiras?
Dr. Balallai – Sim, sem dúvida. A doença vai conviver com a pessoa e a pessoa vai ter que se cuidar, tomar remédio, procurar um médico, mas com plena capacidade de viver novamente.
Assim como se convive com o colesterol alto, com o diabete…
Dr. Ballalai – Sim, com a hipertensão…
Todo parkinsoniano treme ou isso é mito?
Dr. Ballalai – Nem todo parkinsoniano treme, assim como nem todo mundo que treme tem Parkinson. Tem doenças que provocam tremor e que não são doenças de Parkinson, são confundidas com ela e tratadas erroneamente. Se um familiar está mais lento, mais rijo, com mais dificuldade de fazer as coisas, treme, as pessoas vão dizer ‘Não, esse não tem Parkinson’ e, às vezes, é curioso, porque a pessoa mais idosa com 70, 80 anos está mais devagar e não treme e isso pode ser um sintoma da doença de Parkinson e pode ser confundido pelos familiares ‘Ah meu pai ficou velho e agora ele não quer saber de mais nada, não quer saber de por roupa, não gosta de tomar banho, não quer fazer nada, tem que arrastá-lo para fazer as coisas, ele não quer mais sair de casa…’, quando, às vezes, ele tem limitações motoras.
Essa é a grande cilada Doutor, porque tudo acaba virando problema da velhice. Qualquer sintoma é porque a pessoa está velha…
Dr. Ballalai – Tudo, quando não é. Há muita gente por aí com 80 anos em plena capacidade, trabalhando, veja o Niemayer… E tem pessoas com 70, que outros dizem ‘Ah não, tá velhinho. Ele não tá saindo porque tá com preguiça’. As campanhas são importantes por isso, alertam para o diagnóstico, chamam a atenção para o problema e a pessoa acaba procurando um tratamento.
O diagnóstico ainda é por exclusão porque não tem nenhum exame, nenhum teste… E as tomografias, as ressonâncias, elas não são definitivas no diagnóstico?
Dr. Ballalai – Não. A doença de Parkinson é um diagnóstico clínico. A pessoa faz o diagnóstico pelas características clínicas e, às vezes, o médico pede uma ressonância magnética, uma tomografia para excluir outras doenças que podem se assemelhar ao Parkinson. Às vezes, múltiplas isquemias no cérebro (derrames) se comportam como doença de Parkinson e às vezes uma ressonância, uma tomografia pode mostrar essas isquemias e fazer um diagnóstico mais correto. Mas não existe nenhum teste sanguíneo para isso.
Que outras questões estão envolvidas na doença de Parkinson?
Dr. Ballalai – Os benefícios das cirurgias para alguns pacientes (após avaliação do médico e paciente); os benefícios de outros tratamentos aliados a medicação como: psicoterapia, fonoterapia, fisioterapia, nutrição, artes e outros; o médico deve olhar o paciente como um todo numa abordagem multidisciplinar; o ritmo da evolução da doença varia de paciente para paciente; a contribuição da indústria farmacêutica no diagnóstico e tratamento; e a evolução e dificuldades nas pesquisas com Células-Tronco.
Quer dizer que não é suficiente encontrar tratamentos que interrompam a evolução da doença?
Dr. Ballalai – Na verdade, não é suficiente. Deve-se ter em mente quatro pontos: a) Fazer um diagnóstico precoce, b) Restaurar o que se perdeu, c) Impedir o processo degenerativo, e d) O maior desafio: entender quais os fatores que levam ao processo degenerativo.