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Cresce abandono de idosos de classe média em Limeira

Abandonados pelos filhos, sem condições dignas de alimentação, higiene e vestuário. Essas características resumem o perfil de idosos acompanhados pelo Conselho do Idoso de Limeira (SP), que neste ano recebeu 48 denúncias de maus-tratos. Os homens são as principais vítimas de uma violência psicológica silenciosa, que acontece normalmente quando moram sozinhos. O problema agora está presente inclusive na região central, fato que comprova que o abandono acontece em todas as camadas sociais.

 

 

Os dados divulgados ontem à Gazeta contrariam a falsa idéia de que o rompimento dos laços familiares acontece somente dentro dos asilos.

Segundo o presidente do Conselho, Jonathas Beduschi, a maioria das denúncias chega ao Conselho através de vizinhos que, inconformados com os dramas dos idosos, buscam interferência dos órgãos competentes. “Além disso, os números poderiam ser ainda mais alarmantes se os idosos não tivessem medo de que seus filhos fossem presos e denunciassem mais”, afirmou.

A maior parte dos casos acompanhados pelo Conselho não está ligada à agressão física, embora os quadros de abandono comprometam a saúde física e mental. Uma das situações mais dramáticas, que ajudam a ilustrar o problema crescente, envolve um homem de mais de 80, pai de nove filhos, mas que mora sozinho. Apesar de ter uma aposentadoria suficiente para se manter, o idoso estava passando fome quando foi visitado pelas assistentes sociais. “Ele já não tinha condições de fazer a própria comida. Os filhos não o visitavam nem mesmo nos fins de semana”.

O trabalho do Conselho, juntamente com as assistentes sociais, é muito amplo e difícil, pois muitas vezes a própria vítima se sente ameaçada para denunciar os filhos. O Ceprosom fornece cesta básica e busca o contato com os familiares para buscar a alternativa que seja mais viável para melhorar a qualidade de vida do idoso, mas alguns casos exigem encaminhamento para Polícia.

“Namorada”

Outro episódio que chamou a atenção de Beduschi está ligado ao “namoro” envolvendo um idoso, também de mais de 80 anos, que reside sozinho na Avenida Campinas. Feliz, ele disse aos voluntários do Conselho que tinha uma namorada, de Americana, que cuidava dele. “A moça só aparecia no dia do pagamento da aposentadoria, que ela usava apenas para pagar o aluguel da casa do idoso e dizia que não sobrava mais nada. O aposentado vivia sem condições dignas”.

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Imóveis alugados

Esse caso revela também uma tendência constatada pelo órgão, com base em todos os atendimentos feitos no primeiro semestre de 2007. Segundo o presidente do Conselho, os filhos alugam imóveis, cada vez com mais freqüência, para os idosos morarem sozinhos. “Nós encontramos idosos que vivem abandonados em verdadeiros ‘cubículos’ em Limeira. Eles não têm mais condições de morar sozinhos, mas vivem dessa forma”.

Apesar disso, o órgão também recebe denúncias de maus-tratos ocorridos na mesma casa. Um dos episódios mais recentes envolveu uma idosa que residia com o filho na Boa Vista. “Ela era humilhada o tempo todo, além de muitas vezes ficar sem alimentação”.

Embora o número de homens e mulheres acompanhados pelo Conselho seja crescente, os dados mostram que idosos do sexo masculino são as principais vítimas dos próprios filhos. “Muitos ficaram viúvos e não se casaram novamente e outros são separados”. Independente das circunstâncias, os casos acompanhados pelo órgão servem de alerta, principalmente para a necessidade de denúncias.

Os direitos estão previstos no Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. O telefone para denúncias é o 3451-6066. (ESS)

Desestruturação familiar ajuda a explicar os dramas

Apesar do problema ser crescente, o impacto a cada atendimento é grande e os próprios voluntários buscam respostas na tentativa de entender o comportamento dos filhos. Para Beduschi, a desestruturação familiar é um dos fatores que talvez possam ser associados aos altos índices de abandono.

O presidente do Conselho, que também já lecionou para crianças, disse que percebeu a sensação de abandono que muitos filhos sentem em um momento que pai e mãe precisam muitas vezes trocar o tempo que ficariam com os filhos pelo trabalho. “Além disso, uma criança disse que queria ser uma ‘televisão’ porque sua mãe lhe daria mais atenção”. Ele argumenta que nenhum desses exemplos justificam os casos de abandono, mas servem de alerta para que a consolidação dos laços familiares seja feita desde a infância. (ESS)

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Jornalista: Gazeta de Limeira, 17/07/2007. Disponível Aqui

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