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Conviver com o envelhecimento, uma questão de resiliência

Os resultados positivos do I Seminário do Envelhecimento, Saúde e Projeto de Vida com forte envolvimento da Universidade e da comunidade de Alagoinhas (BA), indica o caminho para novos encontros, possibilidade que se concretiza pela instalação do Grupo de Estudo sobre o Envelhecimento. Essas atividades apontam a importância da manutenção e ampliação dos espaços dedicados a idosos, nos quais possa ser colocada em prática uma reflexão para a recordação, e a consciência da força e resiliência presente na história de cada um.

Vera Brandão *

 

Como convidada, e representando o grupo de pesquisadores em Gerontologia Social da PUCSP, tive o prazer de realizar a conferência de abertura do “I Seminário de Envelhecimento, Saúde e Projeto de Vida”, no Campus II UNEB – Alagoinhas / BA, no período de 03 a 05 de agosto de 2016, com o tema Memória e Resiliência na Terceira Idade, com base nos trabalhos e pesquisas desenvolvidos ao longo dos anos com este grupo etário e também com profissionais.

Motivada pelo tema do Seminário, iniciei abordando os sentidos dos termos envelhecimento – como processo natural decorrente e inerente à condição biológica; e a resiliência – propriedade, estudada pela Física, cuja característica é o retorno de um material a sua forma original, após ser submetido à tensão e deformação, ou seja, uma metáfora da capacidade humana de resistir, perseverar, superar ou se adaptar à má sorte ou as mudanças.

As memórias autobiográficas como acervo das experiências vividas na perspectiva biopsicossocial, que se expressam pela linguagem nos espaços sociais, trazem as identidades construídas que favorecem, por meio de sua revisão e ressignificação, o resgate das marcas da resiliência ao longo da história. Indicamos como os trabalhos de resgate da memória do vivido, por meio de oficinas, encontros informais e rodas de conversa com grupos da terceira idade, podem ser estimulantes para reflexão, expressão e debate de ideias, refazendo o reconhecimento de si e reforçando o sentido de identidade e pertinência.

Essas atividades apontam, por seus excelentes resultados, a importância da manutenção e ampliação dos espaços dedicados a indivíduos dessa faixa etária, nos quais possa ser colocada em prática uma reflexão para a recordação, e a consciência da força e resiliência presente na história de cada um, que partilhada enseja a construção de “espaços de afeto” tão necessários nessa fase do ciclo de vida.

A rememoração e reconstrução de si favorecem a ressignificação das experiências nos tempos, reforçam a sensação de pertinência ao grupo de origem e de destino, indicando o caminho da resiliência, promovendo o ‘poder sobre si’, sentidos fundamentais frente ao acelerado processo de mudanças sociais.

Outro momento interessante e produtivo foi a participação na mesa redonda Políticas Públicas para Idosos, com mediação da Prof.ª Dra. Katia Motta professora titular do Departamento de Educação-UNEB-Salvador, e a presença de Maria Emília Rodrigues, presidente da ANG – Bahia, da Sra. Regina Silva, Presidente do Conselho Municipal do Idoso, e representantes da Comissão de Saúde da Câmara de vereadores, e do Núcleo de Atenção ao Idoso da SESAU – Alagoinhas.

Nessa ocasião buscamos apresentar um panorama do envelhecimento da população brasileira como base para as discussões temáticas. Assim, indicamos que no Brasil ainda temos uma série de questões socioeconômicas e políticas não solucionadas, que se refletem, de modo claro e preocupante, no tratamento e expectativas da qualidade de vida dos cidadãos brasileiros, especialmente dos que estão em processo de envelhecimento.

As projeções do crescimento da faixa dos muitos idosos apontam perspectivas preocupantes, com graves problemas estruturais a serem resolvidos, como: ensino básico de baixa qualidade, com consequente dificuldade no acesso ao mercado de trabalho e baixos salários; um sistema de saúde público deficitário; falta de moradias dignas, e um serviço social pouco eficiente no apoio aos idosos e suas famílias, entre outros.

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Consideramos urgente aprimorar e dinamizar a aplicação das políticas públicas já existentes de promoção social e proteção à saúde ao idoso, promover discussões públicas para seu aprimoramento, bem como estudar novas possibilidades de acesso às já implantadas ou a implantar. Fundamental neste panorama é a formação de profissionais que tenham conhecimentos, sensibilidade e respeito às peculiaridades do envelhecimento, como mudanças físicas, sociais e psíquicas, para que melhores condições de saúde e cuidado sejam oferecidas a essa população.

Para superar esses graves desafios é imperativo abrir espaços de luta cidadã, todos por todos, no qual os idosos adquiram conhecimentos de seus direitos e lutem por eles. Só a conscientização do papel político de cada indivíduo, e do grupo social como um todo, pode levar às mudanças necessárias em busca de uma vida digna para todos, em todas as idades da vida.

Os desafios reais, tanto do Estado como do munícipio, trazidos pelos participantes envolvem as questões expostas na apresentação, com ênfase na questão da violência ao idoso. Os debates que se seguiram foram relevantes, pois diferentes vozes da comunidade se fizeram ouvir, seja complementando seja acrescentando outras questões como as relativas aos desafios das ILPIs da comunidade, todas filantrópicas e com sérios problemas de recursos, e a chamada para que o poder público se envolva concretamente nesta e outras questões.

Os resultados positivos do I Seminário do Envelhecimento, com forte envolvimento da Universidade e da comunidade de Alagoinhas, indica o caminho para novos encontros e um II Seminário temático, possibilidade que se concretiza pela instalação, no período do evento, do Grupo de Estudo sobre o Envelhecimento.

Com alegria participei do momento inaugural de mais um espaço de estudos sobre o envelhecimento sempre buscando o ideal de uma Cultura da Longevidade – uma vida digna e cidadã para todas as idades.

Envelhecimento, Saúde e Projeto de Vida – Uneb

A realização do I Seminário de Envelhecimento, no Campus II UNEB – Alagoinhas / BA, no período de 03 a 05 de agosto de 2016, deveu-se ao comprometimento institucional e envolvimento pessoal da equipe liderada pela Prof.ª Dra. Áurea da Silva Pereira, professora e diretora do Departamento de Educação – DEDC II, que organizaram de modo competente e acolhedor o evento.

Nas atividades propostas ficou clara a integração entre docentes e alunos dos cursos de graduação, em diferentes áreas do saber, e a Universidade Aberta à Terceira Idade, por meio da exposição de interessantes trabalhos realizados.

Destaca-se a importância do envolvimento dos jovens graduandos nas atividades com os participantes da UNATI, concretizando a troca de saberes e o movimento de incentivo às trocas intergeracionais concretas. Foram realizadas diferentes atividades, iniciadas com a conferência de abertura, seguidas de mesas redondas, apresentação de trabalhos dos graduandos, minicursos e oficinas, além de rodas de conversa sobre experiências e pesquisas.

Interessante notar o interesse e participação da comunidade acadêmica, dos jovens estudantes, dos representantes dos serviços públicos e organizações sociais de apoio à população idosa do município, e dos idosos da UNATI e comunidade local. A troca de conhecimentos e experiências concretizada no evento é um exemplo de integração social, fundamental para as mudanças desejadas visando um viver e envelhecer digno e cidadão.

* Vera Brandão – Pedagoga (USP); Mestre e Doutora em Ciências Sociais (PUCSP); Pos.Doc em Gerontologia Social pela PUC-SP. Responsável pela editoria da Revista Portal de Divulgação desde 2004. Associada fundadora do Olhe – Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento. Coordenadora da Coluna Memórias do Portal do Envelhecimento. Escreve sobre educação continuada; memória social; saúde e espiritualidade; intergeracionalidade. Email: veratordinobrandao@hotmail.com

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