Benefícios, desafio, socialização e autoestima são proporcionados pelas competições esportivas na velhice. Para muitos idosos, estas são o motivo principal de acordar todos os dias, se preparar para os jogos, ver os amigos do grupo, sentir-se vivo e útil.
Nádia Amaral da Silva Machado (*)
A competição esportiva requer atividades físicas com regularidade. São meses de treinamento, disciplina, socialização, elevação da autoestima e superação de desafios. Como é o caso da competição esportiva chamada JIATIBA – Jogos Intermunicipais Adaptados à Terceira Idade de Barueri (SP).
Esta competição é realizada na cidade de Barueri/SP pela Prefeitura através da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social no equipamento do Centro de Convivência chamado Parque da Maturidade José Dias da Silva. Venho observando como a competição é esperada ansiosamente pelos seus atletas e por seus adversários das cidades da região.
Na Proteção Social Básica está inserido o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos para a pessoa idosa do qual está inserido o Parque da Maturidade.
Conforme descrito na Proteção Social Básica, o serviço para o idoso tem como ”foco o desenvolvimento de atividades que contribuam no processo de envelhecimento saudável, no desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no fortalecimento dos vínculos familiares e do convívio comunitário e na prevenção de situações de risco social. A intervenção social deve estar pautada nas características, interesses e demandas dessa faixa etária e considerar que a vivência em grupo, as experimentações artísticas, culturais, esportivas e de lazer e a valorização das experiências vividas constituem formas privilegiadas de expressão, interação e proteção social. Devem incluir vivências que valorizam suas experiências e que estimulem e potencialize a condição de escolher e decidir, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia e protagonismo social dos usuários” (Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, 2014).
A competição esportiva está inserida no contexto das diretrizes prevista nos serviços socioassistenciais como também na Política do Envelhecimento Ativo. A Organização Mundial da Saúde assumiu o termo envelhecimento ativo a fim de expressar o processo de conquista individual como também meta de políticas.
Importante citar o conceito de Envelhecimento Ativo, entendido como “o processo de otimização de oportunidades para a saúde, aprendizagem ao longo da vida, a participação e a segurança para melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem” (Envelhecimento Ativo, 2015). São definidos como pilares do envelhecimento ativo: saúde, participação, aprendizagem e segurança, sendo um processo contínuo de participação social.
Vozes dos profissionais
No final do mês de outubro de 2017 aconteceu a edição XII JIATIBA que contou com a participação de 10 municípios, atingindo aproximadamente 900 participantes: atletas, autoridades, profissionais de diversas áreas e família. Dessa forma, fortalecendo vínculos familiares e comunitários, potencializando o indivíduo por meio de atividades coletivas.
Para um dos Coordenadores do Parque da Maturidade, experiente profissional da área da educação física:
O JIATIBA resgata dignidade e eleva autoestima do idoso, ele sente que é importante e útil na equipe que defende seu município. (Fábio Smilari)
Para o professor de educação física que treina há mais de 5 anos os atletas do Parque da Maturidade:
As competições esportivas voltadas para o público idoso trazem inúmeros benefícios, tanto físicos como mentais.
Os benefícios físicos são: melhora do condicionamento físico, coordenação motora, lateralidade, equilíbrio, força, resistência cardiorrespiratória, entre outros.
Quanto aos benefícios mentais: autoestima, saída do isolamento do lar, socialização, diminuição no processo depressivo, fazer parte de um grupo, mudança no estilo de vida etc. Para muitos idosos, as competições esportivas são o motivo principal de acordar todos os dias, se preparar para os jogos, ver os amigos do grupo, sentir-se vivo e útil!. (Vagner Scatolin)
Enquanto acontecia a competição esportiva JIATIBA, foi realizada pesquisa com os participantes frequentadores do Parque da Maturidade José Dias da Silva, a fim de se compreender a importância da prática esportiva em suas vidas.
Vozes dos idosos competidores
A pesquisa teve abordagem qualitativa. Foi realizada entrevista com quatro pessoas acima de 60 anos, de ambos os sexos, que praticavam as seguintes atividades físicas: academia, natação, basquete, vôlei e tênis de mesa; e competiam nas modalidades: vôlei, basquete e tênis de mesa. Entrevistou-se mais seis pessoas acima de 70 anos, também de ambos os sexos, que praticavam academia, hidroginástica, basquete e vôlei; e competiam nas seguintes modalidades: vôlei, basquete, coreografia, baralho e dominó. Ao todo, participaram da pesquisa 10 pessoas idosas, sendo 5 mulheres e 5 homens, entre 64 e 75 anos.
A união, participação, o convívio, isso é muito importante… mudou a sensação de viver melhor e de curtir tudo. (Felismina A. Figueiredo, 75 anos)
É a minha felicidade. Sinto mais disposta, mais ativa, quero mais. (Nair Amarante, 68 anos)
Descobri que ainda é possível sentir prazer e satisfação em competir e ganhar. Ainda estou degustando o prazer de competir e ganhar uma medalha. (Luiz Mário Pereira, 64 anos)
Sinto bem reencontrar amigos, saúde, bem estar. (Valdemar de Sousa, 74 anos)
É um incentivo para nós, desafio. Benefícios de autoestima, sentir ainda que somos importantes. (Esmeralda R. de Camargo, 70 anos)
Os jogos são importantes devido às competições que estimulam e ativa a autoestima. Deixei de ser sedentário e a saúde melhorou muito. (Milton Estevam Mol, 70 anos
Estes relatos constatam que a prática da competição esportiva é uma atividade de grande importância inserida na grade do Centro de Convivência, possibilitando acessos às experiências esportivas e de lazer promovendo desenvolvimento de novas sociabilidades, envelhecimento saudável, autonomia e fortalecimento de vínculos familiares e do convívio comunitário, conforme previsto nos serviços socioassistenciais.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social.” Esse serviço público está em consonância com a Política do Envelhecimento Ativo trabalhando o conceito definido pela OMS. Foi possível observar durante todo ano o preparo para disputa da competição, houve a promoção da saúde fundamental para a qualidade de vida, aprendizagem, aquisição de conhecimento e habilidades proporcionando participação e empoderamento e ainda promovendo engajamento.
Experiências profundas positivas, manifestando sentimento de ter propósito na vida, e, por fim, a proteção/segurança, pois sem ela não é possível envelhecer ativamente. Os velhos atendidos no Parque da Maturidade realizam três refeições diárias, são aposentados e/ou beneficiários do benefício de prestação continuada/Lei Orgânica da Assistência Social (BPC/LOAS).
Na vida sempre é tempo de buscar.
As emoções e efeitos produzidos por uma competição esportiva na vida do velho vão além das medalhas e troféus.
Referências
BRASIL. Organização Pan-Americana da Saúde. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília-DF, 2005
BRASIL. Centro Internacional de Longevidade Brasil. Envelhecimento ativo: Um marco político em resposta à revolução da longevidade. Rio de Janeiro-RJ, 2015
BRASIL. Estatuto do idoso. Lei nº 1074. Brasília-DF, 2003
(*) Nádia Amaral da Silva Machado é Assistente Social, graduada em 2005 pela Faculdade Paulista de Serviço Social/FAPSS. Atua como coordenadora do Centro de Convivência Parque da Maturidade José Dias da Silva. Texto apresentado no cursoFragilidade na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento ofertado pela PUC-SP no segundo semestre de 2017. E-mail: nadiaalmachado@gmail.com
Fotos: Adalberto Albuquerque