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Como lidar com os pés diabéticos

Como a imunidade é mais baixa, a situação tende a piorar
A professora da Faculdade de Medicina da USP Isabel de Camargo Neves Sacco é especialista em pés diabéticos. Ela explica que os membros inferiores da pessoa com diabetes estão sujeitos a uma série de problemas devido à elevada taxa de glicose no sangue. “O principal fator por trás dessa síndrome é a neuropatia diabética”, ressalta.


Os nervos, quando saem da medula espinhal, são grossos. Nas regiões de extremidade do corpo, como é o caso dos pés, eles costumam ser mais finos e apresentam pouco da “capa” natural que os envolve. Essa “capa” funciona como a proteção de plástico de um fio elétrico: sem ela, os fios não podem conduzir energia elétrica. Com os nervos, a situação é parecida: sem essa capa, chamada de bainha de mielina, os nervos do pé ficam pouco ativos.

“Acontece que a glicose destrói essa bainha de mielina. Toda vez que a taxa de açúcar no sangue do paciente varia muito – ao longo do dia, da semana, dos meses – essa glicose torna-se neurotóxica e degenera a bainha”, explica a professora. Com isso, os pés do diabético perdem a capacidade de sentir dor, frio, calor etc. Essa perda da função dos nervos é a neuropatia diabética.

O pé diabético se inicia com a perda de sensibilidade e progride com a perda muscular. Ao longo do tempo, além de insensíveis, os membros ficam deformados. “Os dedinhos adquirem o formato de uma espécie de garra, o peito do pé fica mais alto e no dedão aparecem joanetes. Ele também começa a ficar mais rígido, mais duro”, diz Isabel. Todas as atividades que os pés realizam, como andar e se equilibrar, acabam sendo prejudicadas e as chances de uma queda são maiores.

O perigo dos ferimentos

Com a perda da sensibilidade, muitas vezes, o indivíduo diabético não percebe o que está acontecendo em seus pés. Por isso, não é raro que ele se machuque e não note que seus pés estão feridos.

A situação piora, pois a imunidade desses pacientes é mais baixa. A professora alerta: “Toda vez que ele se machuca, a cicatrização será mais lenta. Quando se trata do pé, a cicatrização pode demorar muito mais, porque é uma parte do corpo que usamos sempre, não dá para ficar sem usar. Um machucado nesse pé diabético fica vulnerável às infecções, muitas vezes graves”. Como a sensibilidade já foi comprometida e o diabético já não sente dor, ele pode passar dias sem notar os ferimentos em seu pé. “O tecido fica tão comprometido, muitas vezes chega ao osso, que partes do pé precisarão ser amputadas.” Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados em 2010, aproximadamente 70% das amputações realizadas no País são motivadas pela doença.

Realizar uma inspeção nos pés alerta para o surgimento de feridas

Cuidados

Isabel dá dicas importantes para evitar que os pés dos diabéticos cheguem a situações graves de infecção.

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O primeiro cuidado essencial é evitar que a neuropatia se manifeste. Por isso, a professora aconselha aos diabéticos realizar acompanhamento médico constante para controlar a glicemia e evitar que o nível de glicose no sangue sofra variações muito intensas. Com os resultados em mãos, o profissional poderá orientar o paciente com relação à alimentação adequada.

Usar calçados confortáveis, com pouca costura interna e que protejam os dedos, evita ferimentos. Mas ela alerta: “O que se divulga erroneamente por aí é que esses sapatos especiais para diabéticos são bons. Geralmente eles são de couro. Esse tipo de sapato enjaula o pé. É um crime colocar os pés nesse tipo de calçado rígido. Eles precisam se exercitar, e não ficar enjaulados”. Além da proteção, os sapatos precisam permitir movimentos, para evitar a atrofia.

Realizar uma inspeção diária nos pés ajuda a detectar pequenos ferimentos. “Após o banho, deve-se examinar se há vermelhidão, calos, bolhas, rachaduras ou unhas pretas. Além disso, como a neuropatia também resseca a pele, deve-se hidratar constantemente o pé. O paciente precisa passar um creme, preferencialmente à base de vaselina.”

Cuidar dos pés com um podólogo evita ferimentos

Banhos muito quentes podem queimar a pele dos membros, sem que o diabético perceba. Isabel aconselha a testar a temperatura da água com o braço antes de entrar no banho. Já as unhas devem ser cortadas, preferencialmente, por um podólogo, para evitar ferimentos.

Para previnir a atrofia, Isabel indica exercícios com os pés. “Quando se está vendo televisão, por exemplo, o paciente pode se exercitar amassando uma bolinha de papel ou uma bolinha de borracha com os dedos do pé. Ele pode também tentar pegar uma caneta com os dedos. É importante evitar que eles atrofiem por causa da doença.”

Fonte: Revista Espaço Aberto, N. 124, 07/02/2011. Disponível Aqui

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