Como a tecnologia muda a vida e relações dos mais velhos

Conheça a história de cinco idosos argentinos cujas relações com a tecnologia mudaram suas vidas e suas relações. A Internet passou a ser um antídoto eficiente contra a solidão ao servir de encontro com seus familiares e amigos, mas também permitir buscar conhecimento e viajar, muitas vezes, sem sair do lugar.

Beltrina Côrte *

 

como-a-tecnologia-muda-a-vida-e-relacoes-dos-mais-velhosQuem disse que a tecnologia só afeta e modifica a vida dos mais jovens? Com essa pergunta Daniela Blanco inicia sua reportagem, intitulada “Los ‘abuelos googleros’ a los que la tecnología les cambió la vida”. Ela entrevistou cinco pessoas entre 71 e 84 anos cujas histórias de vida mudaram com o uso da tecnologia, a qual passou a ser um antídoto eficiente contra a solidão ao servir como ponto de partida para se reencontrarem e se aproximarem de seus afetos de maneira ativa e profunda.

Daniela conta que a tecnologia permitiu uma grande integração com a família e amigos de Nelo, Aída e Titina, 80 anos; de Lydia, 84 e de Nelly, 71. Hoje, a vida deles está atravessada pelo uso, alcance e benefícios da tecnologia, pois se não tivessem aprendido a usar o computador, navegar no Google e estarem nas redes sociais, estariam excluídos da família e da sociedade.

como-a-tecnologia-muda-a-vida-e-relacoes-dos-mais-velhosQuem são eles

Nelo, 80 anos, único homem do grupo, é descendente de italianos, engenheiro civil e aposentado. Ele falou à reportagem que teve cinco grandes professores competentes, seus netos, que ficaram ao lado dele até aprender a usar o Google Earth, sua ferramenta favorita. Com ele Nelo “visita” sua querida Itália, o céu e os planetas. Outra ferramenta bastante usada por ele é Street View. Já planejou várias viagens em que pode ver o hotel, a fachada e o percurso a ser realizado.

Nelo sofre de uma enfermidade crônica e difícil – miastenia gravis – uma doença que impede a comunicação natural entre nervos e músculos e causa fraqueza e fadiga incomuns. Mas com a ajuda de medicamentos a cada quatro horas, ele “engana” seu corpo para que não se debilite e possa se “conectar a todos os fios”, como diz, e assim ele leva a doença sem maiores contratempos.

Seu contato com a tecnologia se deu há cinco anos quando seus filhos e netos insistiram para que ele aprendesse a usar. Ele declarou que sempre foi uma pessoa ativa e sentia que os dias ficavam longos e não sabia o que fazer com seu tempo livre. Primeiro ele criou um email para se comunicar com os amigos, familiares e parentes que vivem na Europa. Mas quando aprendeu a usar Google Earth e Street View ele percebeu que as possibilidades com a tecnologia eram inesgotáveis.

Entre as buscas favoritas de Nelo está o serviço de meteorologia de Buenos Aires, biografias de artistas e pessoas que admira, além de temas de engenharia. Ele também usa o tradutor para entender os significados das músicas, especialmente de Luciano Pavarotti. Para Nelo a Internet é como uma biblioteca onde encontra tudo que necessita e, assim, uma grande companhia.

Titina, também com 80 anos, considera-se uma tuiteira consumada. Ela é @abuelatitina e frequentemente faz reflexões e se mete em debates cotidianos propostos pelas redes sociais. Titina se iniciou no Google já algum tempo. Foi bancária e durante muitos anos usou o Telex que, na época, permitia que muitas agências estivessem interconectadas. Para ela, a tecnologia sempre lhe despertou curiosidade. Ela usa Yahoo Search, Picasa, Google Maps e YouTube.

Ela ganhou um computador há muitos anos de seu filho, além de cinco horas de aula com uma professora, que lhe explicou o passo a passo das ferramentas. Quando precisa de ajuda ela pede a seus netos ou a seus filhos. Ela explica à reportagem que a partir do Google conseguiu resolver um problema na portaria eletrônica de seu prédio que a administração não resolvia. Com o Picasa ela vê as fotos de seus familiares e sente como se tivesse viajado com eles. E usa o Google Maps para “ir” a lugares que deseja conhecer. Hoje é assim que ela “viaja”.

Para ajudar a seus amigos a usarem a Internet, ela gravou um vídeos “tutorial” no Youtube. Ela diz que a tecnologia a ajudou bastante quando ficou viúva, pois estava só e não tinha com quem falar. Segundo ela, a tecnologia serviu como terapia.

Aída, 80 anos, confessa que é fanática por notícias. De sete anos para cá, quando ganhou o computador, todos os dias ela lê vários jornais online e cruza as informações, tornando-se “fonte” de sua família que costuma chamá-la para que ela lhes conte as notícias do dia. Disse à reportagem que a sensação que teve ao se familiarizar com a Internet foi a mesma que teve ao ver a televisão pela primeira vez, aos 17 anos. Confessa que ficou boquiaberta e impressionada.

Graças ao email e às redes sociais Aída pode retomar contato com uma amiga do colégio que não a via há 60 anos. Recentemente ela foi visitá-la em Nova York. Hoje ela usa frequentemente o Gmail, Yahoo Search, Google Maps e Youtube.

Ela prefere aprender sozinha navegando pelos buscadores. Para ela, os buscadores são verdadeiras ferramentas que geram conhecimento. Hoje eles são imprescindíveis para investigar, informar-se e comprar. Costuma ter um bloco ao seu lado quando assiste televisão para poder anotar tudo o que gera curiosidade e sobre o que quer se aprofundar. Daí ela vai para o computador e investiga tudo.

Aída conta ainda que teve a oportunidade de viajar muito e para isso ela usou os mapas do Google, a fim de organizar as viagens, buscar hotéis e pontos turísticos para visitar. Também gosta de ver vídeos no Youtube.

Lydia, 84 anos, é chamada por seus netos de Lela. Usa o computador, que ganhou há dois anos, para compartilhar a vida cotidiana com seus filhos e netos que vivem entre Equador, Espanha e Itália a partir do gmail e do Hangouts. Ela gosta de usar o tradutor do Google para traduzir textos mas também palavras. Segundo ela, essa é uma maneira de aprender idiomas, como o italiano. Usa ainda o Google Drive e Yahoo Search. Ela também se considera uma boa jogadora de Bridge online, além de gostar de Candy Crush e o Solitário. Seu twitter é @lelabeba.

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Lydia declarou à reportagem que a tecnologia mudou sua vida, especialmente em relação a seus filhos e netos, pois hoje os sente muito perto. Ela a cada dia se sente mais animada para estar mais ativa nas redes sociais. Além disso ela busca muitas receitas no Google, pois gosta muito de cozinhar e ainda resolve problemas e exercícios online para exercitar a memória.

Nelly Lois, 71 anos, a mais jovem do grupo, teve contato com a tecnologia há seis anos, quando um de seus filhos após se separar foi morar com ela, levando com ele seu computador. A princípio ela nem toca nele com medo dele se quebrar. Sua neta, de 8 anos, foi sua grande professora. Teve até prova escrita, papel que guarda com carinho até hoje. A partir de então a tecnologia se converteu em um ponto de encontro com sua neta, ficaram muito próximas.

Ela usa o Google, Youtube e está começando a entrar nas redes sociais. No Google ela busca informações sobre jardinagem, que ela gosta muito. Gosta ainda de buscar coisas raras ou estranhas encontradas no Guiness que nunca viu nem imaginou. Gosta de investigar.

Nelly comentou que em 20012 perdeu seu computador e seus móveis quando teve sua casa inundada por causa de fortes chuvas, mas que em seguida ela ganhou outro de sua família.

Os primeiros professores

Daniela Blanco assinala em sua reportagem a importância dos primeiros professores nessas cinco histórias. O medo inicial da tecnologia foi vencido pelo carinho de filhos e netos.

Todos os entrevistados falaram que ligam o computador de manhã e deixam ele ligado o dia todo. Não ficam muitas horas diante da tela, mas sim a visitam de vez em quando. Para eles, os buscadores e as redes sociais cumprem uma função de entretenimento e comunicação com seu entorno familiar. E, ao mesmo, tempo, os ajuda a ressignificar sua própria história a partir do que descobrem.

Para Daniela Blanco, esses idosos vinculam os meios tradicionais com as novas tecnologias melhor do que ninguém, permitindo que eles tenham mais discernimento e opinião sobre a realidade do dia a dia. Mas o mais importante para ela é que esses idosos não estão, nem se sentem sós. Pelo contrário, estão cheios de projetos e entusiasmo.

como-a-tecnologia-muda-a-vida-e-relacoes-dos-mais-velhosStitch, aplicativo diminui solidão

A rede social Stitch, destinada a usuários acima de 60 anos, veio para diminuir o sentimento de estar só, que é mais comum do que parece. E ele se agrava quando os filhos saem de casa, com a morte de amigos queridos, de parceiros e inclusive com a falta de sociabilização.

Com o objetivo de ajudar os idosos a conseguir companhia para bailes e viagens, além da tradicional ida ao bingo, Andrew Dowling, criador da rede, declarou à imprensa internacional, que “a solidão mata mais do que a obesidade ou o fumo”. Segundo ele, “precisamos nos manter conectados socialmente, se quisermos nos manter saudáveis”.

A rede só funciona no computador e não há como enviar mensagens diretas aos contatos, ao menos por enquanto. Assim que duas pessoas se “curtem”, um botão estabelece a ligação entre elas. Por isso a identidade usada na rede social deve ser verdadeira, e a foto do perfil precisa ser tirada com o aplicativo, para assegurar a veracidade estética.

A proposta da iniciativa está descrita no site como: “Nem todo mundo procura um amor, mas todos precisam de companhia”. Portanto, o foco da rede não é estimular necessariamente o flerte amoroso.

O Stitch está disponível apenas em algumas regiões dos EUA e Austrália, mas existem planos de expansão para mais localizações.

Vejam o tutorial que Titina fez para seus amigos sobre como usar o computador: https://www.youtube.com/watch?v=IJ8-bqMoV-s

Referências

Blanco, Daniela. Los “abuelos googleros” a los que la tecnología les cambió la vida. Disponível Aqui. Acesso em: 19/08/2014.

Olhar Digital. Conheça o Stitch: app de relacionamento para idosos. Disponível Aqui. Acesso em 30/05/2014.

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