Após uma queda, mesmo sem consequências físicas, a pessoa idosa pode começar a diminuir o ritmo de suas atividades cotidianas, deixar de andar, diminuir a velocidade de sua caminhada
Você já ouviu falar em Cinesiofobia? A literatura apresenta o termo Cinesiofobia para descrever o medo excessivo e irracional do movimento em resposta ao sentimento de vulnerabilidade à dor. Na prática clínica gerontológica o medo de realizar alguns movimentos também é justificado pelo medo de sofrer uma queda. Relatos como este surgem de idosos caidores (que apresentam histórico recorrente de quedas) e, algumas vezes, de idosos que nunca sofreram episódios de quedas, mas já tiveram conhecimento de pessoas que caíram e suas consequências, por vezes, desastrosas.
Após uma queda, mesmo sem consequências físicas, a pessoa idosa pode começar a diminuir o ritmo de suas atividades cotidianas, deixar de andar percursos e distâncias costumeiras, diminuir a velocidade de sua caminhada, alterar sua vida social e mesmo atividades realizadas dentro de casa podem gerar sintomas de ansiedade e medo excessivo de sofrer uma nova queda. Este cenário muitas vezes está relacionado a percepção de autoeficácia e autoconfiança diminuída e, consequentemente, de insegurança para realizar movimentos e atividades físicas. Isso leva a um ciclo vicioso onde, o medo de cair, de se movimentar, gera inatividade física e essa inatividade aumenta o risco de cair, sem contar o impacto emocional e a mudança de rotina com interrupção de atividades antes prazerosas.
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Problemas como este requerem um olhar cuidadoso e empático. A abordagem a ser feita deve ser multicomponente, multidiscilplinar e centrada na pessoa idosa, onde ela e sua rede de apoio desempenhem papel ativo na gestão de cuidado, prevenção de novas quedas e tomadas de decisão. O mais importante é não creditar todo esse cenário, que impacta de forma importante a qualidade de vida do indivíduo e todos que o cercam, a algo “normal do envelhecimento”. Ouvir a pessoa idosa caidora e validar seus receios podem ser os primeiros passos para estratégias de enfrentamento do problema.
Geralmente os serviços de saúde que atendem a esta população fazem trabalho contínuo de prevenção de quedas e o mês de junho é o mês que lança luz a essa questão com um maior enfoque, mas o que observamos é que a queda ainda é muito abordada pelo viés físico, as fraturas, a hospitalização e, claro, são impactos de extrema importância para a pessoa idosa, familiares e para a saúde pública, porém, prejuízos incialmente invisíveis e pouco manejados como a cinesiofobia e o medo de cair podem, a longo prazo, acarretar desfechos desastrosos à saúde dessa população e gerar aumento nos gastos com a saúde. A abordagem precoce do impacto da queda em dimensões que vão além das físicas e ambientais pode ser um bom caminho na prevenção e promoção de saúde e na contribuição de uma longevidade mais ativa.
Medidas e estratégias de Educação em saúde podem ser interessantes e de baixo custo no enfrentamento dessa situação. Para obtermos êxito e darmos sentido ao proposto, é importante que o trabalho seja realizado com a pessoa idosa, caidora ou não, para que tome consciência dos prejuízos que o medo de se movimentar e cair pode acarretar num futuro próximo e, também, que seja realizado um trabalho com os familiares e rede de apoio desta pessoa idosa, que muitas vezes por postura de proteção acabam reforçando a cinesiofobia e o medo de cair levando até mesmo ao isolamento social, outro quadro de grande impacto na saúde da pessoa idosa.
Devemos começar a pensar em abordagens mais amplas nas intervenções de Prevenção de quedas com orientações estruturadas e planejadas em todas as dimensões impactadas. A avaliação do profissional de saúde de referência deve abordar a queda considerando toda sua complexidade e multidimensionalidade, levantando as singularidades de cada caso, necessidades e histórico de saúde e propor de forma compartilhada com a pessoa idosa e sua família, medidas que façam sentido e que sejam aplicáveis à sua realidade. Construir medidas de enfrentamento desse medo limitante com o apoio de outros profissionais, como psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais etc., pode se mostrar mais eficaz do que abordar a queda apenas com seus prejuízos físicos.
O papel da família e da rede de apoio deve ser de segurança e suporte: Auxiliar na identificação e vigilância dos riscos de queda e estimular que a pessoa idosa realize as atividades cotidianas possíveis, e os tratamentos físicos e comportamentais indicados que impactam positivamente em sua qualidade de vida.
Que neste mês de junho possamos olhar para esta questão de forma mais ampliada criando espaços de fala e protagonismo para a pessoa idosa que muitas vezes enfrenta, de forma solitária e sem suporte, o medo da fragilidade e de “continuar envelhecendo”.
Foto destaque de Dmitry Egorov/pexels
Em tempo
O Sesc São Paulo estará de 24 a 30 de junho realizando diversas atividades de prevenção de quedas em pessoas idosas no evento chamado:
De: 24 a 30 de junho
Unidades do Sesc: Capital e Grande São Paulo – 24 de maio, Carmo, Centro de Pesquisa e Formação, Florêncio de Abreu, Interlagos, Itaquera, Osasco, Pompeia e Santo Amaro. Interior – Araraquara, Campinas, Jundiaí, Piracicaba, Registro, Rio Preto e Ribeirão Preto.
Programação completa:
Atualizado às 13h49