Casa do Vovô funciona em local provisório, perto da Setrabes, há dois anos (Foto: Charles Bispo)
Em comemoração ao Dia Nacional do Idoso, a Folha visitou a Casa Lar do Vovô Horácio Magalhães, que foi fundada em 1974 e há dois anos funciona provisoriamente em um prédio no bairro Mecejana, atrás da Setrabes (Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Socia), responsável pela instituição.
O lugar onde antes funcionava uma escolinha de educação infantil teve que ser adaptado para abrigar 26 idosos. Um dos principais problemas na estrutura do prédio é a falta de banheiros: são apenas dois, um masculino e outro feminino.
A Folha recebeu a denúncia de uma leitora que foi visitar a instituição com uma amiga na semana passada. A diretora interina da instituição, a assistente-social Nelly Falcão, confirmou a situação e disse que a esperança para o fim dos problemas estruturais e de falta de pessoal para atuar na Casa é a construção do Centro de Referência do Idoso, pois a Casa do Vovô tem capacidade para 20 pessoas e hoje está superlotada.
Trabalham no local 75 pessoas, divididas em três plantões diários. São dois médicos, dois fisioterapeutas, um assistente-social, uma psicóloga, duas enfermeiras, oito auxiliares de enfermagem, além de uma equipe de sócio-estrutores, que realizam passeios e atividades com os idosos e sócio-geriatras, pessoas que cuidam diretamente do idoso, dando banho, comida etc. O quadro se completa com o corpo administrativo e limpeza.
A maioria dos idosos internos, ao contrário do que muitos pensam, não foi abandonada pela família, e sim saíram de seus lares a procura de melhores condições de vida, se aventurando nos garimpos de Roraima.
A equipe multidisciplinar da Casa do Vovô faz questão de festejar as datas comemorativas e, principalmente, o aniversário de cada interno. “Melhora a auto-estima deles e serve até para que eles forcem a memória lembrando o dia do aniversário”, explicou Nelly. Um detalhe curioso é que na porta de cada quarto, onde moram três idosos, foi confeccionado um porta-retrato com a foto de cada um. “Às vezes eles esqueciam qual é o quarto deles e com a foto eles não esquecem mais”, disse Nelly.
No local são priorizadas atividades que não exigem muito esforço físico, pois a maioria dos internos tem dificuldade para se mover. Dez deles já precisam utilizar cadeira de rodas. Eles fazem artesanato, colagens, pinturas, e gostam muito de jogar dominó. “Fazemos muita parceria com escolas, porque como eles não podem sair muito, nós desenvolvemos as atividades aqui mesmo. Os alunos fazem teatro, música, alguns grupos de faculdade vêm tocar aqui, tem senhoras que gostam de cantar e vem aqui cantar para eles”, explicou.
A entidade é a única do Estado que acolhe idosos. A equipe de profissionais da Casa do Vovô faz um trabalho de resgate familiar, para tentar reaproximar os idosos da família, no caso dos poucos que tem família em Roraima e também tenta reencontrar os familiares que moram em outros estados. “Tivemos um que foi embora para o Piauí, depois de reencontrar a família, após 27 anos. Eles não tinham nenhuma notícia dele durante esse tempo e nos conseguimos fazer contato, o filho dele era prefeito na cidade, e mandou buscá-lo aqui”, conta Nelly, dizendo que antes de permitir que o idoso vá embora com a família, os profissionais fazem todo um trabalho de investigação, para ter certeza que os familiares vão recebê-lo bem.
Poeta
Um dos moradores da Casa do Vovô é seu Umberto Fernandes da Silva, de 78 anos. Ele mora na entidade desde sua fundação, em 1974. Há muitos anos atrás, ele deixou a família em Manaus e percorreu diversos estados e países trabalhando como biscate.Conheceu a Venezuela, Guiana e Peru, ate vir parar em Roraima, onde trabalhou com os missionários e índios. Indagado sobre o que mais gosta de fazer atualmente, ele responde sem titubear: escrever. E o que o senhor escreve? Ele foi questionado. “Tudo o que vier na cabeça, sou chamado aqui de poeta. Teve uma festa ali naquela escola (se referindo à Escola Ana Libória, que fica próxima ao abrigo) e eu fui lá recitar poesias, nunca diz tanto sucesso”, disse brincando. Nos versos, lembranças românticas de alguém que ficou no passado. (Ver poesia publicada hoje no Caderno B da Folha, no espaço Poesia do Leitor)
Outro passa tempo para Umberto é cultivar plantas. Ele mostra com orgulho o pequeno jardim que ele mesmo cuidou na Casa do Vovô. “Agora não tenho mais forças para levantar e fazer as coisas, quando levanto, já volto muito cansado, mas tenho uns médicos meus amigos que vão me cuidar”, disse.
Projeto
Para os idosos ativos, que gostam de dançar, cantar e praticar esportes, a Prefeitura oferece, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Trabalho, o projeto ‘Cabelos de Prata’, que tem vagas ilimitadas em oito diferentes pontos da cidade. Segundo a titular da pasta, Jane Benedetti, a iniciativa trabalha a proteção social básica ao idoso. Hoje, já são mais de 1000 participantes, alguns entraram em 2001, no início do projeto e até hoje se divertem com as atividades.
Tudo acontece nos Centros de Múltiplo Uso dos bairros União, Silvio Leite, Pintolândia, Nova Cidade, Cauamé e Centenário. No centro da cidade, o projeto acontece na Igreja do São Pedro, no bairro de mesmo nome. As atividades são diversas: tai chi chuan, vôlei, basquete (tudo adaptado para a terceira idade), momento religioso, artesanato, RPG, alfabetização para adultos, danças como quadrilhas, carimbo, coral, e até capoeira.
Segundo a secretária, os idosos do ‘Cabelos de Prata’ são muito ativos e participam intensamente das atividades. “Eu costumo brincar que eles são ligados no 220, o que a gente propõe eles topam e até nos cobram mais passeios, querem ir pra Venezuela, Guiana, e se nós prometermos, temos que cumprir porque eles cobram mesmo. Eles tem uma energia incrível, nós fizemos baile da terceira idade, todo mundo cansou e eles continuavam dançando”, contou.
Ao todo, 600 idosos do projeto ainda recebem uma bolsa auxílio de R$ 80 reais. O número de bolsas já está no limite, mas quem quiser participar das atividades oferecidas pelo projeto, pode procurar um dos oito locais onde é oferecido.
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Trabalho terá uma programação especial para o Dia do Idoso: fará uma semana de atividades, começando no dia 22 e terminado no dia 25 com baile dançante.
______________________________
Fonte: Jornal Folha de Boa Vista, 20/9/2008. Acesse Aqui