O livro sobre o envelhecer e o morrer basicamente é um tratado pessoal de valores e crenças, manifestadas pelo desejo da morte sem dor, dos últimos momentos em casa, rodeado pela família. “São vontades muito simples: que não seja feito nada de extraordinário, nada fútil ou inútil que prolongue o meu morrer. E, doutor, não se esqueça, garanta-me que na minha última hora, eu não esteja sozinho ou com dor! Que eu não me sinta abandonado!”, diz em uma das cartas, destinada ao seu médico.
Redação CFM *
Perseguindo o poema Em Paz, do poeta mexicano Amado Nervo (1870-1919), o cardiologista e atualmente professor de Humanidades Médicas da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), usa sua vasta experiência como médico, defensor da prática humanística na Medicina, pai, cidadão e avô – para citar apenas algumas de suas frentes e afetos – para dar voz ao personagem, “um velho que, antecipadamente, expõe suas reflexões e seus anseios sobre o seu fim”.
Esta figura humana fictícia, que representa muitos sentimentos, elabora seu Testamento Vital e o apresenta a todos: seu médico, seu amor, seus filhos e netos, irmãos e, por fim, a seus amigos, onde deixa claro que um deles será o responsável pela execução de suas diretivas de vontade.
Basicamente, é um tratado pessoal de valores e crenças, manifestadas pelo desejo da morte sem dor, dos últimos momentos em casa, rodeado pela família. “São vontades muito simples: que não seja feito nada de extraordinário, nada fútil ou inútil que prolongue o meu morrer. E, doutor, não se esqueça, garanta-me que na minha última hora, eu não esteja sozinho ou com dor! Que eu não me sinta abandonado!”, diz em uma das cartas, destinada ao seu médico.
A obra mostra a importância de nutrir, sempre, muitos sonhos, e de viver plenamente, impulsionado por grandes e simples ambições – desde garantir um envelhecimento digno a todos até plantar um roseiral no fundo do quintal ou voltar a pescar.
Além do forte caráter reflexivo, Cartas do Fim da Vida tem também uma missão pedagógica: “Procurei atingir o maior número de pessoas, para que reflitam sobre o tema e elaborem suas próprias diretivas antecipadas de vontade para o fim da vida. E conversem sobre elas com os seus familiares”, diz Roberto.
O psiquiatra e psicanalista Abram Eksterman, ao prefaciar a obra, se dirige ao próprio autor para comentar o legado humanístico do trabalho: “O que você sugere para o futuro da prática médica esboçada pela Medicina humanista de [Danilo] Perestrello, que eu adotei nos anos de ensino na universidade e que você persegue como se fora um ideal religioso, é o sujeito do sofrimento, e não apenas o objeto da prática médica tradicional: a doença. Você persegue a pessoa, essa totalidade que é a substância do ‘pathos’. Você não se contenta com a manipulação do corpo. Você sugere que a prática médica se completará e efetivará na relação com a pessoa do doente, e eu só posso aplaudir essa postura”.
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