Os velhos não têm lugar na agenda neoliberal que privilegia o Sistema Financeiro, cujo Ministro da Economia, Paulo Guedes, é seu porta-voz. Vivemos um genocídio da população, a prática da política da Necropolítica.
Por Coletivo pelos Direitos da Pessoa Idosa São Paulo (*)
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Antes do golpe que tirou Dilma Roussef da presidência em 2016, os economistas neoliberais, representantes do grande capital e dos donos do Brasil, começaram a recitar o mantra que seria um dos pilares da justificativa do golpe, “a Constituição não cabe no orçamento”. Michel Temer, ainda como vice-presidente, apresentou à nação o seu programa de governo “Uma ponte para o futuro”. A partir de sua posse como presidente da república, as reformas defendidas pelo programa, em nome do mercado e incensadas pela mídia como a salvação do Brasil, começaram a ser implementadas.
A primeira reforma importante, aprovada logo após a posse de Temer em agosto de 2016, foi a aprovação da Emenda Constitucional 95/16, que congela por 20 anos os investimentos na área social. Apenas o SUS, teve desinvestimento de 30 bilhões com a aprovação da “EC da morte”.
A segunda foi a Reforma Trabalhista, cujo objetivo era liberar os empresários das amarras da CLT e dos pesados custos dos direitos trabalhistas, gerando milhões de empregos e acelerando a economia. Logo a seguir veio o engodo da Reforma da Previdência. A propaganda oficial e não oficial enganava a sociedade com a máxima de que se a reforma não fosse implementada, o Brasil iria quebrar. Este elenco de reformas estruturais conseguiu ajustar a política econômica ao modelo neoliberal da Ponte para o Futuro, permitindo o quase livre curso determinado pelo mercado. A Constituição de 88 se ajustou ao orçamento?
A eleição de Bolsonaro e a ascensão de Paulo Guedes, o seu “Posto Ipiranga”, super ministro da economia, garantidor do “mercado” que o apoiou, inaugurou o ciclo do modelo econômico neoliberal radical. Com suas declarações do dia 27/04, afirmando que “não foi a pandemia que tirou a capacidade de atendimento do setor público, mas sim o avanço na medicina “, “o direito à vida”, “todos querem viver 100, 120 anos”, o ministro conseguiu escancarar duas verdades. A primeira, reforçando a necropolítica como estratégia de política de estado, adotada pelo seu chefe genocida. E a segunda, a perda definitiva do seu status de “Posto Ipiranga”. O ministro não só reforça a imagem de incompetente em economia política, como demonstra um desprezo e um desconhecimento total sobre e o processo de envelhecimento. Gerontólogos e geriatras vão desbancar estas nefastas afirmações com o respaldo da ciência.
Não é apenas um evento político, um ministro vir a público e declarar que “o Estado quebrou e que o setor público não consegue atender a demanda crescente por atendimento à população”, trata-se de um crime de responsabilidade fiscal. Afinal o ministro foi empoderado pelo presidente que foi eleito pelo povo, para administrar o estado. Não foi a população que demanda por serviços, a responsável pela falência do estado. E se também não é a crise pandêmica a responsável pelo caos, é inequívoco que ambos devem ser afastados da gestão do estado. Em países que respeitam a democracia, um ministro ao fazer um anúncio deste tipo, anunciaria a sua renúncia.
Desde o início da pandemia, os idosos foram estigmatizados como o subgrupo da espécie humana “marcado para morrer”. A imunização vacinal do grupo de idosos está demonstrando que os casos graves e os óbitos na faixa etária de 80 a 90 anos caíram 90%. Atualmente as mortes por Covid 19 estão concentradas na população economicamente ativa na faixa dos 30 aos 50 anos. Trabalhadores que moram nas periferias das grandes cidades, sem habitação digna, sem saneamento básico e que enfrentam jornadas nos transportes públicos superlotados, expostos à contaminação. Mas o ministro da economia vem a público lembrar e reforçar que os velhos são e serão os responsáveis pela falência do setor público. A gerofobia precisa ser reforçada no imaginário da sociedade. O governo precisa de um culpado pelos fracassos de sua política econômica neoliberal e genocida. Fácil culpabilizar os vulneráveis, os que não tem representação, os que não podem mais vender a sua força muscular como força de trabalho. Os idosos não cabem no orçamento de Paulo Guedes.
Coletivo pelos Direitos da Pessoa Idosa São Paulo
28 de abril de 2021
(*) Coletivo pelos Direitos da Pessoa Idosa São Paulo – CDPI-Coletivo Direitos da Pessoa Idosa. Diálogo sobre Idosas e Idosos. Nosso desejo é envelhecer com qualidade, discutindo as políticas públicas necessárias para o bem envelhecer. Facebook: https://www.facebook.com/Coletivo-Direitos-da-Pessoa-Idosa-106559374731118/
Foto destaque: Arquivo do CDPI