Ao que parece, agora, os cabeleireiros de sucesso estão abandonando as luzes. O branco está em alta. Três ou quatro dos meus amigos mais jovens estão ostentando longos tentáculos de cinza e branco, fugindo totalmente do sofrimento que eu impus a mim mesma por tantos anos. Mas, para os adolescentes de 20 e poucos anos que já decidiram abraçar o look, podem ter processos químicos desafiadores pela frente. O deles não é tão livre de cuidados como o meu.
Bettye Anding *
– “Ué, é seu pai”, disse ela, quem ele não se lembrava de ter visto com uma cabeça cheia de cabelo.
Os homens da minha família perdem os cabelos cedo, e tanto eles quanto as mulheres ficam grisalhos aos 20 anos. Quando eu tinha 12 anos, papai tinha 43, e seu cabelo era totalmente branco, e eu provavelmente não o teria reconhecido como um moreno.
Minhas três tias e cinco tios estavam em diferentes estágios de branqueamento no momento em que eu nasci, e naqueles tempos não se fazia nada sobre isso. Cabelo tingido era, bem, barato e brega e não dava para ser muito profissional, exceto, talvez, em Hollywood.
Eu comecei a pensar sobre tudo isso recentemente quando eu li que o cabelo branco é agora top, está na moda. As pessoas estão pintando seus cabelos de branco, mesmo quando as suas raízes vermelhas ou pretas ou marrons ou loiras estão à mostra.
Quando eu tinha uns vinte, quase trinta anos, eu suportei um processo para disfarçar os grisalhos, não deixar minhas raízes, brancas, à mostra na minha cabeça. Por muitas vezes foi doloroso e tão demorado que eu queria gritar antes mesmo de me libertar da cadeira do salão.
Ok, eu exagerei. Mas deixe-me descrever o meu processo, espécie de camuflagem, com luzes:
Em primeiro lugar, um plástico transparente, versão apertada da touca, foi puxado sobre a minha cabeça. Tinha pequenos buracos perfurados em linhas regulares através dela. Por meio deles a cabeleireira puxava o meu cabelo com algo parecido com uma agulha de crochê. Isso não doía muito até que ela pegava o suficiente para que estes se cruzassem dentro da touca, e cada puxão ardia. Se você tem o cabelo espesso como o meu, aí esse processo demora muuuito tempo e começa a aparecer uma série de picadas de abelhas em toda a sua cabeça.
Depois que a cabeleireira puxa todo o cabelo que precisa, joga uma mistura de químicas em todo ele e cobre tudo com uma toalha ou algo assim. E aí você se senta e espera até que ela puxe o plástico. Mais dor. Em seguida, faz algumas outras coisas que eu, a esta altura sempre muito dormente, já não registrava.
Isso continuou até que um dia a cabeleireira me disse que não dava mais para fazer luzes em meu cabelo. Eu tinha muitos fios brancos. Então passei a tingir meu cabelo de marrom e, em seguida, levemente manchado de louro, um processo muito mais confortável, e suficiente, por anos.
Mas eu sempre disse que eu nunca seria uma velha senhora com o cabelo tingido. Assim, quando fiz 60 anos (e, a propósito, eu não vejo isso mais como velho), eu marquei no cabeleireiro, para deixar o branco. O corante foi retirado, e o que estava embaixo disso estava tingido de um loiro delicado. E meu cabelo curto cresceu desse ponto.
E, agora, ao que parece, os cabeleireiros de sucesso estão abandonando as luzes. Branco está em alta. Três ou quatro dos meus amigos mais jovens estão ostentando longos tentáculos de cinza e branco, fugindo totalmente do sofrimento que eu impus a mim mesma por tantos anos. Mas, para os adolescentes de 20 e poucos anos que já decidiram abraçar o look, podem ter processos desafiadores pela frente, pois o deles (que de fato não é branco) não é tão livre de cuidados como o meu.
Eu estou finalmente “na moda” ou o quê?!
* Bettye Anding é ex-editora de The Times Picayune, para o qual ela escreveu “Fios de Prata” até sua aposentadoria. Tradução livre por Sofia Lucena. Email: btanding@cox.net: Acesse Aqui