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As escolhas do Café Society

A questão das escolhas foi central no debate após o filme Café Society promovido pelo projeto Itaú Viver Mais Cinema, lembrando que as escolhas se sustentam sobre quatro pilares essenciais: Necessidade (faço e não gosto), Habilidade (faço e gosto), Limites (gosto e não faço) e Valores (não gosto e não faço), e que ao escolher algo se deve levar em conta diversos fatores, como a história de vida, época, referências socioculturais, religiosas e políticas. Nossas escolhas podem mudar dependendo do tempo, lugar e circunstâncias em que estamos inseridos.

Café Society, do diretor Wood Allen traz uma trama de época, ambientada na década de 1930. O protagonista Kristen Stewart assume o personagem de Bobby, um aspirante a escritor que decide sair de Nova York, onde trabalha numa joalheria com o pai, para viver em Los Angeles, época da efervescente indústria cinematográfica, e de agito cultural. Ele vai trabalhar com seu tio Phil (Steve Carell), um produtor cinematográfico, e se apaixona por Vonnie, secretária e amante do tio, interpretada por Kristen Stewart.

Rejeitado após seu breve namoro com Vonnie, retorna a Nova York, onde se associa ao irmão mafioso na administração de uma boate, a qual se torna um grande sucesso, o enriquece e o coloca num mundo de glamour, mas num universo também cruel. Lá observa a efervescência dos locais da moda frequentados pela chamada “Café Society”, um movimento de artistas, famosos e grandes mecenas, mas sem esquecer a amada. Anos mais tarde, Bobby e Vonnie se reencontram, ela casada com o tio Phil, ele também casado e com filho, e entre passeios envolvidos pelas lembranças, entendem que o passado se foi, suas escolhas os levaram por outros caminhos.  “A vida”, refletiu Bobby sobre seus percalços amorosos, “é uma comédia escrita por um autor sádico de comédias.”

Estrelas do cinema, criminosos, jogadores, mulheres ambiciosas, milionários, aparecem nesta belíssima reconstrução de época. Há desconsolo, racionalidade, lirismo, tristeza, comédia, e Allen solta várias piadas irreverentes com as tradições da sua origem judaica.

Segundo Wood Allen declarou em entrevista na mídia internacional, ele tentou construir um filme que “se parecesse com um romance sobre relações familiares e satélites amorosos”. Explicou que imaginou o filme “como um romance, um relato oral, que não se prende a apenas um personagem. A história de amor de Bobby é o fio condutor do filme, mas os outros personagens dão o tom do relato”. Continua sua fala dizendo que “No fundo, Café Society é sobre como a família de Bobby se estrutura e se redefine conforme ele amadurece. E essa estrutura de romance seria melhor delineada se eu fizesse um filme narrado. E narrado por mim mesmo, já que eu, como autor, sou uma espécie de escritor dessa história.”

Um filme sempre estimula trocas de ideias, e a diversidade do olhar possibilita uma rica variedade de interpretação. Assim, mais uma vez, pudemos observar no público presente no Espaço Cultural Itaú do Shopping Frei Caneca, em São Paulo, no dia 30/08/2016, que após a exibição do filme Café Society dentro do projeto Itaú Viver Mais, todos se dispuseram a ouvir e comentar a interpretação do outro, do seu olhar diferente.

Debate

Apesar da variedade de temas que poderiam nortear o debate, optei em manter o foco na questão das escolhas, que, sob meu olhar, transitou entre os diversos personagens. Tomei alguns diálogos que poderiam dar pistas e material para a discussão, pois em diversas passagens questionavam suas decisões, sobre como suas vidas seriam se suas opções tivessem sido diferentes. O mesmo fiz com as falas colhidas da mídia, nas entrevistas com o diretor e a atriz do filme.

No festival de Cannes, a fala da atriz Kristen Stewart, ao comentar a trama do filme, ilustra essa questão quando diz ”é como acontece na vida: você sempre pergunta se tomou as decisões corretas”.

Discorri sobre a questão das escolhas, lembrando que elas se sustentam sobre quatro pilares essenciais – Necessidade – Habilidade – Limites – Valores, e que ao escolher algo, se devem levar em conta diversos fatores, como as diferenças: história de vida; época; referências culturais/religiosas/sociais/políticas. Procurei deixar claro que nossas escolhas podem mudar dependendo do tempo, lugar e circunstâncias em que estamos inseridos.

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Em seguida fui ilustrando e desenvolvendo as cenas para que seguissem esse raciocínio.

  1. a) Habilidades – faço e gosto: irmão gângster – o narrador apontou que “ele poderia ter sido um médico, ou advogado, como outros judeus do bairro, mas escolheu as ruas”.
  2. b) Necessidades – faço e não gosto: Vonnie  – dizia para Bobby sobre sua vida em Los Angeles.
  3. c) Limites – gosto e não faço: Bobby –  trair e abandonar sua esposa.
  4. d) Valores – não gosto e não faço: cunhado filósofo – não concordava com a violência.

Após breve explanação, convidei a plateia a responder algumas perguntas, para que pudessem colocar seus pontos de vista.

– já se perguntaram por que fizeram algumas escolhas?

– como reagiram ao fazer algumas escolhas? Fariam as mesmas hoje?

– quem ainda sonha com um amor perdido? Alguém pode comentar?

– será que amar cega e leva a escolhas erradas? ou escolhemos racionalmente?

Baseando-se nas respostas, poderíamos traduzir as falas de que, a sociedade valorizando o status social e o aspecto econômico, algumas vezes pode nortear as escolhas, em detrimento da realização pessoal. Assim, as escolhas cada vez mais poderão ser feitas a partir de motivações e estímulos exteriores.

Propus que refletissem sobre a oportunidade de sempre poderem rever e dar novo significado aos seus valores, necessidades, limites e interesses, para melhor compreenderem a realidade de suas vidas, onde estarão inseridos aspectos pessoais, sociais, familiares e políticos. A partir dessa compreensão poderiam definir melhor suas escolhas e ajustá-las ao seu objetivo real.

Fechamos o debate colocando algumas frases retiradas da entrevista de Wood Allen, que me pareceram significativas  –  “Escolhemos o que é conveniente e o que supostamente vai dar estabilidade e futuro à sua existência e a rejeição ao que o coração exige” – “ A vida não acaba, continua, e a realidade vai se impondo aos sonhos. Na pior das hipóteses não é mais a vida, mas o exercício lógico da sobrevivência” –  “Amar pode ser divertido e doloroso, aliás todas as histórias tem algo de cômico e um quê de dor. O que vai prevalecer? Bom, isso vai depender da maneira como se encara a vida.” – “A palavra “amor”, indefinível para mim, ela pode ter vários sentidos. Um amigo é um indício de amor. Pais e mães amam… do jeito deles. Eu não tenho mais idade para ter certezas absolutas. Aos 80 anos eu só tenho a certeza de que é bom fazer exercício físico e comer direitinho”.

Finalizei com uma frase dita pela mãe de Bobby para que pudessem levar com eles: “Viva cada momento como se fosse o último, porque um dia vai ser”.

E também com um trecho de um poema de Fernando Pessoa (17-6-1932):

Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Só porque foi, e voou

(*) Regina Pilar Galhego Arantes é pedagoga, mestre em Gerontologia pela PUC-SP,  e colaboradora do Portal do Envelhecimento. Atua com consultorias de projetos de envelhecimento e palestras. E-mail: reginaarantes@uol.com.br

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