Viver mais também traz implicações e indagações… viver mais e de que forma? Em que condições?
Ninguém morre. O aperfeiçoamento prossegue em toda parte. A vida renova e eleva os quadros múltiplos de seus servidores, conduzindo-os, vitoriosa e bela, à União suprema com a Divindade. (Chico Xavier)
Mais um dia de atendimento… hoje é aniversário de um paciente querido diagnosticado com Alzheimer.
– Quem está fazendo aniversário hoje? Hoje… não sei
CONFIRA TAMBÉM:
– O senhor está aniversariando hoje, quantos anos está fazendo?
– Não sei… (risos), acho que 41
– Então eu estou mais velha que o senhor… (risos)
– O senhor está fazendo 96 anos! 96? Tem certeza? … aos 100 a gente morre?
Crédito: Freepik
Alguns segundos de silêncio me paralisam… eu não esperava por essa abordagem… respiro fundo… olho em seus olhos e digo sorrindo que a gente não morre nunca, que enquanto houver uma lembrança nossa no coração de quem amamos, seremos eternos.
Meu paciente me olha sorrindo e diz que eu serei eterna… entendo a mensagem!
Damos sequência às nossas atividades, e o assunto se perde no tempo e na memória.
Com muita frequência escuto esse comentário, relacionado ao fim da vida, alguns demonstram, ansiosamente, por este momento, alegando que já viveram muito e que estão cansados; outros mencionam com certo ‘receio’ ou até ‘medo’, por este momento da vida.
Perguntas como, o que acontece aos 80? Aos 90? Aos 100 anos? O que fazemos nessa idade? Aparecem, frequentemente, durante os atendimentos, ou qualquer conversa mais estruturada.
Certa de que nossa cultura influencia muito esse pensamento, a maioria das pessoas idosas que tenho contato, acredita que, quando completam determinada idade, nada podem esperar… além de esperar. Além disso, carregam o estigma de que ao chegar em determinada idade, é hora de morrer!
Um preconceito, estereótipo cristalizado, arrastado por várias gerações, e que hoje tentamos delicadamente desconstruir, oferecendo possibilidades de reconstruir uma nova ideia de ‘esperar’…
O que determina uma vida longa e saudável é tema de diversas pesquisas. Não só bons hábitos de vida, como alimentação adequada, atividade física e cognitiva, socialização, acesso a serviços de saúde, mas também a predisposição genética de cada indivíduo, que pode responder como esses fatores interagem ao longo da vida. Mas é certo que, a concepção do indivíduo sobre o próprio envelhecimento, o conduz para um bom ou mal envelhecer.
Viver mais também traz implicações e indagações… viver mais e de que forma? Em que condições? É sabido que, chegar em idades mais avançadas, nem sempre vem acompanhada de qualidade de vida, em todos os sentidos. Muitas vezes… o corpo físico já não acompanha o voo das vontades e desejos… tudo ocorre com mais lentidão ou até ajuda.
Falamos em envelhecer de forma ativa, saudável, com qualidade de vida, mas esquecemos daquele grupo, ao meu ver, pequeno, em que envelhecer é algo temido, um processo doloroso físico e visual… envelhecer é morrer aos poucos!
Afinal, aos 100 anos a gente morre?
Aos 30, 40, 50 anos, tem gente que já morreu… morre-se em qualquer idade!
Morre quem deixa de sonhar… de aspirar algo… de contemplar os detalhes da vida… o fluir da água… o voo dos pássaros e a delicadeza das borboletas… o despertar das flores… a amorosidade dos animais… de observar os sinais… de ouvir as pessoas e suas histórias… de viver!
Morre… quem não deixa histórias para recontar!
Foto destaque: Pexels.