Acreditem, “amanhã, mais nenhum mistério, acima do ilusório, o astro rei vai brilhar” nos nossos corações e aquecer as esperanças perdidas. Voltaremos a nos abraçar, mesmo que o perigo ainda ronde nossas vidas. Claro, serão abraços diferentes, pense que olhares e palavras também acolhem e beijam e dançam e fazem amor.
Quando escrevi a mensagem de final de ano de 2019, com o auxílio da linda música de Taiguara “Que as crianças cantem livres”, esperava realmente que este novo ano nos trouxesse bons ventos, acolhimento e esperança. O que não imaginei é que já no início de março começaríamos a viver sob o espectro do medo, mas não como a ameaça de violência do outro sobre nós. O sentimento ultrapassava o pior dos nossos pesadelos, já que nós nos tornávamos a ameaça potencial de um inimigo invisível.
Não sei você, mas a mera possibilidade de ser a causa da dor ou do fim de qualquer pessoa que fosse já me aterrorizava e me faz ainda passar noites em claro, inquieta e preocupada.
Quem já recebeu a visita inesperada daquela que a tudo encerra, subitamente, sabe, entende que esse é o maior dos sofrimentos, nunca, jamais aplacado. Quem se vai, leva partes de nós mesmos, fragmentos que passamos todos os dias da vida buscando, um a um e, alerta: na maior parte das vezes sequer encontramos. É o quebra cabeça de nós mesmos.
Esse é um texto de dor, de cuidado, de respeito por todos aqueles que perderam seus entes mais queridos, por todos os desconhecidos, invisíveis que choram por seus mortos na mais completa solidão, sem um toque, sem um último beijo, sem uma palavra sussurrada – “sentirei saudades, cuida de mim”.
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Apesar de tudo não ter acontecido como desejei a vocês e seus familiares, ainda guardo a esperança de um ano melhor para todos nós, com menos diferenças e mais igualdade.
Assim, achei oportuno escolher para 2021 o “Amanhã” de Guilherme Arantes. Serão as palavras do poeta e minha melancolia mesclada com um imenso amor e otimismo.
Sim, “amanhã será um lindo dia da mais louca alegria que se possa imaginar”. Se você pensa que suas uvinhas acabaram, fique tranquilo, tenho aqui vinhedos imensos, prontos, a sua espera.
“Amanhã, redobrada a força”, você terá, certamente, energia para receber os 365 novos dias que virão, mesmo sem os clássicos pulinhos pelas ondas do mar. Na sua imaginação, tudo se transformará e seus desejos parecerão realizáveis.
E nada de abaixar a cabeça, porque “pra cima que não cessa, há de vingar” todos aqueles dias cinzas, de isolamento, repletos de tolices de governantes inúteis que nada sabem das dores da alma e do corpo.
Acreditem, “amanhã, mais nenhum mistério, acima do ilusório, o astro rei vai brilhar” nos nossos corações e aquecer as esperanças perdidas. Voltaremos a nos abraçar, mesmo que o perigo ainda ronde nossas vidas. Claro, serão abraços diferentes, pense que olhares e palavras também acolhem e beijam e dançam e fazem amor.
Porque “amanhã a luminosidade, alheia a qualquer vontade, há de imperar, há de imperar”. É o novo que se anuncia, um tempo de viver, mais uma chance, afinal conseguimos, e não importa de que jeito. Somo vitoriosos nessa corrida pela vida.
“Amanhã está toda a esperança, por menor que pareça, o que existe é pra vicejar. Amanhã, apesar de hoje, ser a estrada que surge, pra se trilhar”. Um novo caminho, vamos lá, valorize seus dias e seus queridos porque são preciosos, representam o milagre da existência.
“Amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam, ver o dia raiar. Amanhã ódios aplacados, temores abrandados, será pleno, será pleno”.
E que venha 2021! Depois desse ano de tanto aprendizado, valorização da vida, entendo que nada mais nos impedirá de seguir com tolerância, generosidade e, acima de tudo, responsabilidade com o nosso próximo, amigos, familiares, amores.
O Portal do Envelhecimento deseja a todos um ano repleto de esperança por dias e momentos melhores, mesmo que sem grandes festas.
Esse é um tempo de respeito a dor daqueles que ficaram, um tempo de silêncio e reflexão, de valorização da vida.
E… até lá, se assim aquele lá de cima permitir.
A liberdade espiritual do ser humano, a qual não se lhe pode tirar, permite-lhe, até o último suspiro, configurar a sua vida de modo que tenha sentido […]. Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá. (FRANKL, 2008, p. 90).
Referências
FRANKL, V.E. Em Busca de Sentido. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
Foto destaque de Sindre Strøm no Pexels