Alzheimer na Periferia é um longa metragem que documenta o cotidiano de 5 famílias que vivem na periferia de São Paulo e convivem com a doença.
Profissionalmente, convivo com alguns idosos cuja história e lembranças vão aos poucos sendo apagadas mas, tanto eles como eu temos a condição de poder fazer uso da arteterapia como conduta capaz de tornar a doença mais branda. Em meus sonhos mais profundos, desejo poder de alguma maneira modificar a rotina dos inúmeros idosos que assim como Leonor, Daniel ou Cida perdem-se neste apagar constante de suas existências sociais e subjetivas. Esses são apenas 3 dos 5 personagens que tiveram suas rotinas mostradas no documentário.
Enquanto meus sonhos não se realizam e não consigo apoio para chegar aos menos favorecidos, sigo me aproximando cada vez mais ao tema que tanto me instiga e me motiva a participar, de alguma maneira, das mudanças que se fazem necessárias.
Ao longo da exibição, algumas tantas vezes, entre uma pipoca e outra, tive meus olhos mareados de tamanha emoção. Não pude deixar de comparar a também difícil vida das cuidadoras das idosas que participam do Faça Memórias, programa que coordeno e que acontece em museu de São Paulo para idosos com demência. Mesmo com alguma condição financeira, o cuidar é desgastante e fisio, fono, arte e passeios, embora amenizem um pouco a situação, não solucionam o que parece sem solução.
Cuidar de um idoso com tanta demanda é sempre uma árdua tarefa para quem, sem nenhuma outra opção, acaba virando o cuidador de alguém que vai se modificando durante o percurso da doença.
Os cuidadores que convivo sofrem pelo cansaço e angústia de ver o Alzheimer corroendo o viver do idoso e da família e essa é uma situação comum a todos que convivem com a doença. Uma triste e exaustiva realidade.
O documentário mostra todas essas dificuldades ainda mais amplificadas pela situação econômica precária daquelas famílias.
Uma filha que é obrigada a largar a profissão e suas realizações para cuidar da mãe que não soube, ao longo da vida, ser afetuosa. A doença e o cuidado que ela exige fez surgir afetos nunca antes vivenciados.
Já a história de Paulo nos conta sobre um cuidar como uma devolução de afetos a sua tia, responsável por sua educação. Uma retribuição de amor merecida mas que deprime e rouba a vida do cuidador.
Em todas as histórias, percebemos que o que há em comum é o amor que rege o cuidado. Os afetos construídos comandando a qualidade do ato de cuidar.
A última história contada é de uma senhora que ao longo da vida plantou e cultivou afetos e que durante sua velhice, o Alzheimer não deu conta de apagar todo aquele amor semeado. Durante a sua demência ela pode colher os frutos do que foi plantado.
O documentário é bem feito e mostra poesia em meio a pobreza retratada. É informativo ao mostrar os serviços públicos que favorecem esses idosos e que muitos desconhecem. É um soco no estômago ao escancarar a desigualdade social de nosso país e é tocante ao comprovar aquilo que todos nós, familiares e profissionais envolvidos com a doença facilmente percebemos. Renato Russo já nos dizia em sua canção Monte Castelo:
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade…
O documentário Alzheimer na Periferia é dirigido pelo cineasta Albert Klinke a partir de argumento do jornalista e professor Jorge Felix e está em cartaz em São Paulo. É um projeto da Malabar Filmes com patrocínio exclusivo do Aché Laboratórios Farmacêuticos. Um belíssimo filme onde a verdade dos personagens não rouba o protagonismo do que verdadeiramente rege o longeviver.
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade…
Leia mais sobre o documentário, acesse: https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/alzheimer-na-periferia-2/
O Filme está on demand no Vimeo: https://vimeo.com/ondemand/alzheimernaperiferia