Por que contar a história de uma pessoa diagnosticada com Alzheimer há 15 anos? Como muitos da minha geração ainda carregam a ideia que todo velho caduca, faz besteira, volta a ser criança, contar a história de minha mãe pode ajudar muitas famílias a conviverem melhor com a doença.
Por Rosana Leal (*)
Por que contar a história de uma pessoa diagnosticada com Alzheimer há 15 anos?
O que essa história representa e o que pode acrescentar na vida de familiares, cuidadores e profissionais que lidam com o envelhecimento?
Não pense que obtive respostas fáceis para essas perguntas. Elas vieram acompanhadas de medo, negação e, por fim, aceitação. Contar a história de minha mãe tem como objetivo, entre outros, desmistificar a ideia que a pessoa com Doença de Alzheimer é uma sofredora ou um fardo para a família.
Muitos da minha geração ainda carregam a ideia que todo velho caduca, faz besteira, volta a ser criança. Convivi com uma tia-avó abilolada. Naquela época não se falava em Doença de Alzheimer, mas o Alemão estava presente para nos fazer rir. Ri muito das coisas que essa tia fazia. Difícil foi rir quando o Alemão apareceu na minha casa. A princípio, vi uma pessoa querida se tornar ranzinza, chata, cada vez mais difícil de lidar.
– A senhora quer me enlouquecer… só pode ser isso!
O processo de envelhecimento potencializa tudo, tornando evidente qualidades e defeitos. Esquecimentos são um capítulo à parte. Procuramos justificá-los. Está assim porque se preocupa com coisas demais; anda avoada por causa disso e daquilo; vive nas nuvens porque só pensa nos problemas da família e esquece dos seus, mas, quando quer, lembra de tudo direitinho…
– Mainha pensa que me engana…
Se alguém comenta que a pessoa está repetitiva demais, contando as mesmas história, insistindo nos mesmos assuntos, retrucamos: sempre foi assim e sempre será, apenas piorou com a idade.
E quando apenas negar não basta, apelamos ao bom Deus para o mundo inteiro estar errado, afinal, ninguém conhece aquela pessoa melhor do que você que conviveu com ela a vida toda.
– Imagina, sempre foi esquecida, uma vez…
– E se for Alzheimer?
– Ah, menina, agora virou moda, qualquer besteirinha é Alzheimer.
Mas uma coisa aprendemos desde cedo: não adianta tapar o sol com a peneira ou fugir dos problemas enfiando a cabeça na terra feito avestruz.
– Aceita que dói menos!
O que a gente pensa, imagina, planeja, muda com a chegada do Alemão. Então, por que escrever um livro sobre uma pessoa com demência? Por mil razões vocês vão ver. A principal delas é porque Detinha é minha mãe; e porque esta é uma forma de retribuir todo o amor que recebi dela.
Achei por bem contar essa história de um jeito leve, suave, pois não quero que ninguém chore por causa do Alemão. Se ele bater na sua porta ou já estiver acomodado na sua sala, no seu sofá, saiba que isto não representa o fim. Pelo contrário, pode ser o início de uma nova história. Uma história de amor com ingredientes muito especiais: carinho, paciência, compreensão e bom humor, tempero que não pode faltar.
Em tempo: o senhor na foto não é o Alemão, é o Dr. Adriano Gordilho, geriatra que nesses 15 anos acompanha Mamy até nos bailes de Carnaval.
(*) Rosana Leal – Baiana de Salvador, graduada em Engenharia Civil, mestre em Análise Regional, especialista em Administração e em Engenharia de Segurança do Trabalho. Professora universitária e empresária. Autora do livro “A Alavanca Quebrada: aspectos da construção habitacional em Salvador sob a ótica da administração de materiais”.
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O Alemão Veio nos Visitar
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Formato: 14 x 21
Tamanho: 138 páginas
Papel/capa: cartão duplex 250g
Papel/miolo: pólen 80gr
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