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Alegoria da Primavera e o inverno que vivemos

A Primavera nos ensina enquanto a história de Botticelli nos faz pensar na importância de não nos perdermos da beleza, das linhas marcantes que desenham a tal poesia que por hora se faz oculta.


É inverno, em todos os sentidos é inverno e eu sinto o gelo da morte soprar minha nuca ao ver o país atingir a marca das 500 mil mortes pela Covid. O lamento veio apenas dos que choram a dor do outro fazendo dela sua própria dor. Viver a falta é dolorido demais e em meio as geadas do tempo, por uma questão de sobrevivência, precisamos a todo custo florescer como se estivéssemos na primavera, afinal é preciso brotar, florir e perfumar a vida com alguma beleza.

Hoje o dia está cinzento e por vezes o coração em angústia acelera os batimentos. Tem sido assim durante toda esta pandemia que parece não se acabar.

O momento pede poema e ao fechar os olhos em meio às cobertas que escondem o rosto numa tentativa de desaparecer por um breve instante, transporto o pensamento para a pintura Primavera, de Botticelli feita em 1497. Ninguém pintou de forma tão poética como este importante artista do renascimento italiano.

Nascido em 1445 em Florença, Itália, seu talento seduziu a importante e influente família Médici.

Para enfeitar o quarto de um jovem casal da família Médici, Botticelli pinta O Nascimento de Vênus e A Primavera, obra esta que neste inverno aterrorizante propõe reflexões poéticas sobre o momento que vivemos.

Alegoria da Primavera ou Primavera, apenas, é sem dúvida uma obra prima do Renascimento Italiano. Ao centro da pintura, Vênus e o seu filho Eros que de olhos vendados atira a flecha do amor, surgem para despertar os campos maltratados pelo inverno que castiga a plantação com seu vigor, enquanto à direita o jovem Zéfiro, Deus do Vento, ainda azul de frio, fecunda com um sopro a ninfa Clóris de vestido transparente que se transforma em Flora, Deusa da Primavera que espalha flores sobre o mundo. Da boca da ninfa sai um ramo de flores conectado ao corpo de Flora.

Na pintura de Sandro Botticelli tudo é poesia e a beleza de seus traços fascinam o expectador.

Ao lado esquerdo da obra vemos a dança das Três Graças cuja leveza dos movimentos e a transparência de suas vestes transmitem a sensação de flutuar na delicadeza do momento enquanto Hermes tenta afastar as nuvens negras para vencer o inverno enquanto contempla os frutos de uma nova era.

Muitas interpretações são feitas desta cena que torna a Alegoria da Primavera uma das mais importantes obras da História da Arte.

Transformação

A obra de 2,05 por 3,14 metros feita com têmpera sobre madeira, integra o acervo da Galeria Ufizzi de Florença, Itália, e fala do poder de transformação. Mais uma vez podemos, por meio da arte, refletir sobre a própria vida.

Como transformar este frio da morte que nos coloca em um constante inverno em um sopro capaz de modificar nossa própria maneira de viver?

Mais do que nunca o cuidar se torna o verbo principal da poesia que precisamos construir com estrofes e rimas cujo ritmo dará sentido ao pulsar da vida em nossas veias.

Precisamos estar atentos uns aos outros acreditando no poder da coletividade para transformar tempos sombrios em flores e frutos.

Vivemos um inverno triste que vai além da estação do ano que por sinal, muito me encanta. Este tempo gelado que vivemos assombra nossos dias com a ameaça da morte e da estupidez que contagia tal qual o vírus.

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Botticelli realça os traços das figuras diferentemente de outros pintores renascentistas e desta maneira vemos o belo ser enaltecido.

Na velhice Botticelli fazia uso de uma bengala e morava de favor. Mesmo com todo seu talento, acaba sendo deixado de lado no mundo das artes que passa a enaltecer o talento de Leonardo da Vinci e Michelangelo. Morre aos 75 anos de idade e quando o casal Médici falece, os quadros de Botticelli são guardados e esquecidos por 300 anos.

Apenas no século XIX quando uma pesquisadora analisa os documentos do espólio dos Médici, o talento de Botticelli é redescoberto e passa a ser efetivamente revalorizado quando um grupo de pintores ingleses conhecidos como pré-rafaelistas passou a tomá-lo como referência, elogiando a beleza e delicadeza de seu estilo. Daí em diante, sua fama só cresceu com o tempo e o talento de Botticelli pode, por fim ser eternizado.

A Primavera nos ensina enquanto a história de Botticelli nos faz pensar na importância de não nos perdermos da beleza, das linhas marcantes que desenham a tal poesia que por hora se faz oculta.

É preciso viver, é preciso cuidar e é preciso envelhecer com a certeza de que isso só será possível se buscarmos meios de soprar o medo a favor da nossa própria vida e da vida dos que nos rodeiam.

Viver não é um ato isolado, envelhecer não é negar a existência, é sim fertilizar a harmonia que deve ser constante.

Resta pensar como iremos fazer surgir a primavera depois deste inverno carregado de dor que por hora se faz frio em todos os sentidos.

Nota
Poder me tornar aluna do Celeti Escola e do Professor Douglas Tufano nos cursos: Como entender uma obra de Arte e Tesouros da Arte Cristã é sem dúvida um sopro de primavera nestes dias de inverno. Aproveito para agradecer ao professor pela ajuda que me foi dada para tornar as informações deste texto mais precisas e por todo conhecimento que ele, generosamente divide com seus alunos.
Para ter mais informações acesse: https://celeti-escola.com.br
Cursos oferecidos nas diversas áreas do conhecimento, ministrados por profissionais especializados que reforçam a tendência atual pelo envelhecimento ativo e saudável da sociedade.


https://edicoes.portaldoenvelhecimento.com.br/produto/arte-velhices-fragilizadas/
Cristiane T. Pomeranz

Arteterapeuta, entusiasta da vida e da arte, e mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP. Idealizadora do Faça Memórias em Casa que propõe o contato com a História da Arte para tornar digna as velhices com problemas de esquecimento. www.facamemorias.art.br E-mail: crispomeranz@gmail.com.

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