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Agente Duplo, ou a crônica de uma ILPI

O filme chileno “Agente duplo” é o único representante da América Latina na premiação do Oscar 2021. Sua mensagem: os idosos estavam vivendo em uma pandemia antes da covid-19, a pandemia da solidão.


Na cerimônia de premiação do Oscar 2021 no próximo dia 25, o mundo vai tomar conhecimento deste filme/documentário da diretora chilena Maite Alberdi. A diretora inovou ao realizar um filme que é um documentário com um roteiro de ficção. Documentário porque é quase todo filmado dentro do aprazível Lar de Idosos São Francisco, próximo a Santiago, no Chile. Ficção porque a narrativa é conduzida por Sergio Chamy, um idoso de 83 anos, que não é ator profissional, mas caracteriza um personagem.

Maite Alberdi, declarou em entrevista, que realizou o filme neste formato documentário/ficção, para chamar a atenção do mundo para a triste realidade das casas de repouso, asilo de idosos ou ILPIs em qualquer país ou região – um depósito de mulheres e homens. Idosos abandonados pelas famílias, como seres humanos descartados pela sociedade.

Apesar da mensagem triste, o filme é uma comédia. Logo no início, acontecem as únicas sequências filmadas fora do ambiente do Lar de Idosos São Francisco, o cenário do escritório do detetive Romulo Aitken, também interpretado pelo próprio.    

O ambiente do escritório é inspirado nos clássicos filmes noir de detetives. Muitos arquivos, com o detalhe da modernidade no poster de Al Pacino como Scarface. Um deslize da câmera mostra o crachá da Interpol do detetive Romulo. Introdução perfeita à história do detetive idoso, que será contratado através da empresa de Romulo. A filha de uma idosa residente na ILPI quer investigar denúncias de maus tratos sofridos pela mãe.

Os idosos são introduzidos na trama a partir do processo seletivo. Respondendo a um anúncio de jornal, um elenco de candidatos idosos, de vários estilos passam pela entrevista. Muito interessante observar as expectativas e a personalidade dos candidatos, todos idosos entre 80 e 90 anos. Foi selecionado o Sergio Chamy, um viúvo de 83 anos que será internado como residente na ILPI. Sergio passa por um processo de treinamento com equipamentos eletrônicos para espionagem. Óculos e canetas com câmeras ocultas e um treinamento no uso do celular.          

As cenas no Lar de Idosos São Francisco são sempre gravadas à luz do dia, com muitas externas no jardim do pátio. Sequências com closes nas flores e folhagens bem cuidadas. Muitos closes nas inúmeras imagens de Nossa Senhora e do Sagrado Coração de Jesus. Toda a ambientação revelada nos planos da câmera, com o objetivo de realçar o ambiente acolhedor, limpo e organizado da ILPI.

Sergio é muito bem acolhido entre as internas, predominantemente mulheres, apenas quatro homens entre os residentes.    

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No seu trabalho de investigação, Sergio vai conversando com as internas e escutando as suas histórias. Muitas destas histórias, ou a maioria delas, já comprometidas pelas perdas cognitivas e perdas de memória. Pela aparência e pelas atitudes das residentes, se percebe que vieram de famílias estruturadas, e que tiveram marido, filhos e netos.

Os maus tratos na verdade não existem. O que o detetive Sergio descobre, como ouvinte dos relatos e memórias de vivências familiares, é o sentimento sofrido do abandono. Sergio faz uma pesquisa no livro de visitas da ILPI e constata que uma das internas não recebe visitas da família há mais de um ano.  

Em entrevista ao El País, Maite Alberdi fala sobre o filme: “Esta indicação significa para cada idoso que o mundo ainda os vê e os valoriza, e nos ajuda a lembrar que não só é importante aumentar a expectativa de vida, mas também o desejo de viver. Este ano, depois de tantas perdas, demos uma olhada em nossos idosos novamente e entendemos que estavam vivendo em uma pandemia antes da covid-19 — “a pandemia da solidão” —, e estamos muito orgulhosos de ver como Agente duplo ajudou as famílias a se reconectarem com seus idosos.”   

Ficha técnica
Filme: Agente duplo
Título original: El agente topo
Produção chilena de 2020
Diretora: Maite Alberdi
História e roteiro: Maite Alberdi
Produtor executivo: Christopher Clemens
Atores: Sergio Chamy, Romulo Aitken
Disponível na Globoplay


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Maria do Carmo Guido

Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós graduada em Gestão de Políticas Públicas pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Pesquisadora e consultora nos temas da Economia do Envelhecimento. Embaixadora para as Mulheres Idosas na Me Too Brasil. Colaboradora no Portal do Envelhecimento. Conselheira no Conselho Municipal da Pessoa Idosa de São Paulo. E-mail: mariaguidodl@gmail.com

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