É importante compreender o fluxo de vida de cada um, embora o processo de envelhecimento seja natural, a velhice é algo singular, cada um envelhece de forma diferente, fundamental para se ter a adesão de idosos aos espaços de convívio.
Enizete Edna de Paula Balbino (*)
Definir a velhice apenas pelo avanço da idade cronológica ou pela incidência de limitações físicas, modificações funcionais, é insistir no campo negativo, é desqualificar a resiliência que sempre uma pessoa idosa guarda, além dos cuidados para a prevenção a que se possa ter dedicado. É ficar, de início, projetando que limitações físicas, dependências a outras pessoas para realizar atividades ordinárias do cotidiano, devem ser consideradas em primeiro lugar ao se definir a velhice.
Salimene esclarece que “É importante mostrar que a cultura é a grande mediadora dos hábitos de vida, podendo colocar limites às possibilidades sociais das pessoas. A presença da incapacidade física por um episódio transitório ou permanente de doença poderá determinar limites ao processo individual de interação social (2003, p. 170).
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A definição de velhice, muitas vezes, é associada negativamente à feiura, ao medo, à repulsa, afetação que já se impõe nas sociedades, à infância mais precoce, por exemplo, ao se associar à velhice nas histórias infantis a figura de bruxas velhas, más e vingativas. Mas é preciso que se diga que a sociedade em geral não está preparada para receber alguém com marcas de uma doença, não importa a idade. No caso da velhice, talvez se explique essa associação negativa, pela divulgação de imagens associada à velhice demente ou com dificuldades físicas, o que faz dificultar a inserção dos velhos nas famílias, na sociedade.
Levando em conta o que Manso[1] aponta, que a “expectativa de vida saudável tem aumentado, porém mais lentamente que a etária”, é importante lembrar que para maior expectativa de vida é preciso um avanço ainda maior no conhecimento do processo de envelhecimento, já que o sistema capitalista conduz o processo do nascer ao morrer baseado em um discurso autoritário, emanando poder e reproduzindo um sistema que conduz o idoso a se tornar refém de sua própria velhice, determinando o comportamento e atitudes da pessoa.
Seguindo esta linha de raciocínio, acaba-se refletindo naquilo que Azevedo[2] nos chama a atenção: O que tem por traz de um bom envelhecer? O sistema condiciona e leva a condicionar o modo de vida do outro. Por isso é importante compreender o fluxo de vida de cada um, embora o processo de envelhecimento seja natural, a velhice é algo singular, cada um envelhece de forma diferente.
Nesse contexto, Manso diz que na área da saúde muitas são as variantes neste processo para um bom envelhecer, pois se entende que isso ocorre de indivíduo para indivíduo, sem idade para começar, de forma singular, individual, heterogênea e que não existe um envelhecimento padrão.
A aquisição do conhecimento, a interação e a socialização são fundamentais em todo o processo do envelhecimento, especialmente para quem vivencia a velhice. Daí a importância de se levar em conta a adesão dos idosos às Instituições de Longa Permanência (ILPIs), aos Centros Dia e aos Centros de Convivência. Pode-se compreender a adesão de idosos a esses espaços por sua aproximação, seu gosto ou interesse por determinadas atividades, por exemplo, como de um clube, de uma associação, de uma instituição.
A adesão envolve um comprometimento no sentido de o idoso assumir participar das atividades oferecidas pelas instituições. Cardoso (2008, p. 227), citado por Micheli (2007), discute essa questão, apontando vários fatores que influenciam, ou não, na adesão de um idoso às atividades propostas: “…isso passa por aspectos da educação, do âmbito familiar e social, da área da saúde e da economia, da quebra de vários paradigmas, enfim, dos aspectos que permeiam a qualidade de vida da população”. Na concepção do autor, faz-se necessário reforçar os fatores facilitadores que inserem essa pessoa no meio social, sendo esse espaço de sociabilidade, ILPI ou Centros-Dia.
Conforme Bestetti (2014, p. 609): “Criar ambientes humanizados e agradáveis, sejam eles públicos ou privados, não depende somente de arranjos no espaço físico, mas também da atitude que as pessoas assumem e demonstram por meio do seu comportamento. A tarefa de tornar os lugares mais atraentes transforma-se na ação de melhorar o bem-estar de todos, aumentando a eficiência, a produtividade e melhorando a relação entre os sujeitos que participam desse processo.”
Contudo, se faz necessário conhecer e buscar manter a adesão desses idosos nesses espaços, nessas atividades propostas, levando em conta as reais necessidades e desejos do idoso e do subgrupo a que pertence. A autora adverte ainda sobre a importância de: “explorar o significado que os idosos conferem aos programas para adaptar seu design para uma intervenção mais efetiva”.
De acordo com Oliveira,[3] muitas vezes, o dia a dia gera rotina que pode produzir indiferença diante do outro e a enganosa sensação de salvaguardar, de proteger do sofrimento. Essa forma de proceder pode contribuir para mergulhar este idoso no isolamento, entorpecendo a sensibilidade e enfraquecendo os laços coletivos que os constituem como seres humanos.
A ambiência a qual o idoso está inserido interfere fisicamente, psicologicamente e socialmente na vida do mesmo e na adesão ao espaço de convívio. Os indivíduos enquanto seres sociais comumente interagem com ambientes físicos e sociais que geralmente podem contribuir, ou não, com a adaptação de seu processo de envelhecimento. Para Bestetti (2014, p. 605), “O aumento da interação social torna-se, também, mais espontâneo e significativo, a partir da possibilidade de encontros em ambientes que permitam escolhas. Entendendo que cada pessoa é diferente da outra, vinda de um cotidiano e espaço social especifico, busca-se criar ambientes que permitam ao usuário preservar sua identidade”.
Conclui-se, portanto, que é necessário desmistificar esses ambientes engessados, onde as pessoas, muitas vezes, não podem optar pela atividade desejada, mas por aquelas que a entidade disponibiliza, levando muitas vezes o idoso a desistir de participar, seja de grupos sociais ou atividades disponíveis naquele ambiente que deveria proporcionar aos mesmos a adesão, ou seja, fazendo com que ele se sinta pertencente àquele contexto de sociabilidade que lhe é ofertado.
Respeitar a individualidade, a singularidade e a heterogeneidade dos indivíduos é um dos primeiros passos, afinal, cada ser possui seus próprios valores culturais, além de suas próprias características pessoais, construídas através de sua própria história de vida. Ademais, propiciar ambientes favoráveis, extremamente necessários para a participação plena dos idosos, dependentes ou não, em todas as áreas da vida social, afinal, a segurança é um direito social.
Notas
[1] Em aula ministrada no dia 08/05/2021 no curso Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento, da PUC-SP, primeiro semestre de 2021.
[2] Em aula ministrada no dia 24/04/2021 no curso Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento, da PUC-SP, primeiro semestre de 2021.
[3] Em aula ministrada no dia 15/05/2021 no curso Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento, da PUC-SP, primeiro semestre de 2021.
Referências
BALBINO, E.E. P. LODOVICI. F. M. M. L. Fatores que contribuem Adesão e não Adesão de Idosos a práticas sociais, em ambiência de sociabilidade no Centro de Atividades para Terceira Idade, Cativa. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2016.
BESTETTI, M.L.T. Ambiência: espaço físico e comportamento. Rev. Bras. Geriatria. Gerontologia.Rio de Janeiro, 2014: 17(3):601-610. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v17n3/1809-9823-rbgg-17-03-00601.pdf>. Acesso 24/06/2021
CARDOSO, A. S. et al. Fatores influentes na desistência de idosos em um programa de exercício físico. Movimento,Porto Alegre, v.14, 01, p. 225-239, jan/abril de 2008. <https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/viewFile/2303/2120>. Acesso 24/06/2021
SALIMENE. A.C.M. Sexualidade no Envelhecimento com Dependência. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo: Cortez, 2003, pp. 167 – 178.
(*) Enizete Edna de Paula Balbino – Assistente Social, mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP. Curso de Extensão ministrado pela PUC-SP Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento, primeiro semestre de 2021. E-mail: balbino.edna@yahoo.com.br
Imagem destaque de Brigitte/Pixabay