Em 2012, o Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas realizou nova edição da pesquisa conduzida a cada dois anos, desde 1999, como estratégia curricular do curso de Mestrado da instituição. Com o objetivo de conhecer o perfil de saúde da população, em 2012, o grupo de trabalho entrevistou 3.670 pessoas residentes na zona urbana da cidade de Pelotas, visitando 1.731 domicílios.
Bruno Pereira Nunes, Elaine Thumé, Luiz Augusto Facchini/Rede APS
Conheça a seguir os resultados mais importantes da pesquisa “Acesso aos serviços de saúde por adultos (20 anos ou mais) no município de Pelotas (RS)”.
Como foi feita a pesquisa?
A pesquisa consistiu em um estudo transversal de base populacional, conduzido entre fevereiro e junho de 2012, com amostra representativa da população de 20 anos de idade ou mais residente na zona urbana do município de Pelotas-RS.
Principais resultados da pesquisa
A análise dos dados forneceu resultados importantes sobre o acesso e a utilização dos serviços de saúde.
Utilização dos Serviços
29,3% dos entrevistados utilizaram algum serviço de saúde. Do total de pessoas que acessaram os serviços:
– 43% utilizaram Consultórios
– 25,1% utilizaram Unidades Básicas de Saúde
– 17,4% utilizaram Serviços de Urgência e Emergência
– 2,5% utilizaram Hospitais
– 12% utilizaram outros serviços
Falta de Acesso aos Serviços
6,5% das pessoas que buscaram algum serviço relataram não ter conseguido atendimento, principalmente por causa da falta de fichas – 42,4% dos casos – e da falta de médicos – 30,5% dos casos.
Tempo de Espera
– 5 dias ou mais foi o tempo de espera para receber atendimento em 26,4% dos casos
– 32,1% das pessoas esperaram uma hora ou mais na fila para atendimento
– 15,4% qualificaram o atendimento recebido como regular/ruim/péssimo
Fonte de Financiamento dos Serviços: Diferenças Socioeconômicas
Do total de atendimentos,
– 45,7% foram financiados pelo Sistema Único de Saúde. O financiamento pelo SUS foi maior nas classes C (62,9%), D e E (75,2%), entre indivíduos com cinco a oito anos de estudo (66,6%) e entre aqueles com até quatro anos de estudo (69%).
– 41,2% foram financiados por Convênios de Saúde. A classe econômica A/B e indivíduos com nove anos ou mais de estudo utilizaram majoritariamente serviços de saúde através de financiamento por convênio, 59,8% e 57,2%, respectivamente.
– 13,1% foram financiados por particular.
Análises por tipo de serviço de saúde
Os maiores índices de falta de acesso e de tempo igual ou superior a uma hora na fila de espera foram registradas para quem utilizou as Unidades Básicas de Saúde. Do total de pessoas que buscaram esse serviço, 16,7% não conseguiram atendimento e 53% esperaram mais de uma hora na fila para atendimento.
Considerações sobre os resultados
O SUS financiou quase a metade dos atendimentos no período de um mês retroativo às entrevistas, o que representa a amplitude dos serviços ofertados pelo sistema público de saúde. Quase 30 mil pessoas foram/são atendidas mensalmente pelo SUS.
O uso de serviços de saúde foi semelhante entre os diferentes grupos econômicos, representando ponto importante de avanço do Sistema Único de Saúde quanto à redução das desigualdades sociais de assistência à saúde.
Mais de dois terços (aproximadamente 70%) da falta de atendimento aconteceu nas Unidades Básicas de Saúde. Número insuficiente de fichas e carência de médicos e de outros profissionais foram os principais motivos da falta de acesso. Melhorias na estrutura e no processo de trabalho dos profissionais da atenção básica são urgentes para garantir o direito de acesso universal aos serviços de saúde.
Usuários de planos de saúde e de serviços particulares utilizam de modo mais direto médicos especialistas. Embora seja uma vantagem de acesso, o maior tempo em dias de espera somado à possibilidade de equívoco do usuário na escolha correta da especialidade podem representar agravo do problema de saúde e maior percurso para solução da doença.
O tempo na fila de espera e a maior insatisfação com o atendimento recebido nos serviços públicos (principalmente nas UBS) evidenciam problemas sistêmicos do SUS. Ações voltadas para a redução das filas e tempo de espera para o atendimento são urgentes para melhorar o desempenho do SUS e da atenção básica à saúde.
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