Monterey é uma cidade com uma população mais velha com aparência de satisfação e orgulho de suas vidas e funções. Dou como exemplo minha ida ao aquário local, ponto turístico muito conhecido. Lá haviam funcionários idosos por toda parte, empoderados da função de transmitir conhecimentos. Compartilho o encanto com as acessibilidades encontradas.
Manuela Cendon Barral *
Monterey, é vizinha a pomposa Carmel, e tem visivelmente uma população com boa situação financeira, no entanto, vi diversos idosos trabalhando: há incentivo e oportunidades para que se eles mantenham ativos e possam ter maior independência financeira e autonomia.
Dou como exemplo minha ida ao aquário local, ponto turístico muito conhecido. Lá haviam funcionários idosos por toda parte, nitidamente empoderados da função de transmitir conhecimentos. Não falo apenas de pessoas com 65 anos, vi alguns que aparentavam ter cerca de 90 anos, outros em cadeira de rodas, e todos igualmente funcionais. Aliás, a cidade é muito acessível no quesito mobilidade, com rampas e largos corredores por todas as partes. Essa vivência se repetiu em diversos locais: feiras, restaurantes, hotéis, lojas, etc.
Pude falar com alguns desses idosos, e todos foram extremamente acessíveis, explicando o que os havia perguntando com animação e se oferecendo para ajudar quando necessário. A função exercida por eles era, em sua maioria, partilhar conhecimento. Muitos estavam posicionados em locais estratégicos onde poderiam ser acessados caso os visitantes desejassem. Não eram obrigados a falar, exaustivamente, com cada grupo que chegava, mas eram acessados quando alguém assim o desejasse e se dirigiam aos turistas que demonstravam interesse.
Depois dessas observações, notei quão inacessíveis estão os idosos no Brasil. Mal os vemos pelas ruas, quando os vemos são, diversas vezes, desrespeitados; por vezes, são incentivados a deixar de fazer o que gostariam e acabam virando motivo de dor de cabeça para familiares e sociedade; em outras situações vivem a obrigatoriedade de serem ativos, que quase os obriga a negar a própria idade e limites físicos, que surgem naturalmente ao longo do tempo.
Fiquei pouco tempo em Monterey para poder presenciar os contras dos prós que vi, mas, confesso: foi gostoso conviver com a satisfação expressa em sorridentes rostos enrugados. Minha reflexão e surpresa dizem respeito à constatação do orgulho nítido de ser quem é na idade que está, ao invés do cotidiano combate ao envelhecimento que costumamos presenciar.
* Manuela Cendon Barral é Psicóloga, fevereiro 2015. Especialização em Atendimento em Grupo a Idosos, na 3a fase da Vida, Clínica Psicológica Ana Maria Poppovic PUC-SP