Os social makers, esses verdadeiros fazedores sociais são mentores ou empreendem negócios de impacto social e ambiental, atuam como empreendedores sociais, fundam e dirigem organizações sociais ou encontram nos institutos e fundações um fértil campo profissional.
Marcelo Alonso (*)
O voluntariado, da maneira como conhecemos, está com os dias contados. Calma! Não estou profetizando o final da solidariedade. Antes, estou falando sobre uma passagem para um outro patamar de atuação em prol da coletividade; uma atuação fortemente qualificada e ancorada por um fazer social em rede. Acha que estou exagerando? Que nada!
Há três décadas trabalho com comunicação e responsabilidade social em grandes companhias nacionais e estrangeiras; nesse tempo, houve uma verdadeira revolução nos programas de voluntariado corporativo e nas comunidades. Na essência, essa transformação está sendo liderada por brasileiros que não querem apenas dedicar algumas horas da semana ao bem comum. Eles querem mais! E eles têm razão. Lembre-se que somos a última geração que pode brecar o aquecimento global, mas somos a primeira que pode acabar com a miséria absoluta no mundo.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 7,4 milhões de pessoas que exercem algum tipo de trabalho voluntário – grupo que corresponde a 4,4% da população com mais de 14 anos; a pesquisa mostra que de 2016 para 2017, houve um aumento de 12,9% na atividade. Quando analisamos o perfil, vemos que a face do voluntariado brasileiro é feminina: mais da metade das iniciativas são lideradas pelas mulheres. Aliás, a própria história do voluntariado no Brasil, iniciada em 1543, com a fundação da Santa Casa de Misericórdia de Santos, já mostrava essa característica com as chamadas Damas Caridosas.
Embora a porcentagem de voluntários ainda esteja aquém do que precisamos para acabar com a miséria, socioeconômica e de espírito, os que estão na luta por melhorar o Brasil estão fazendo mais e melhor. Deixaram de ser simplesmente voluntários para se tornar o que denominamos social makers. Esses verdadeiros fazedores sociais são mentores ou empreendem negócios de impacto social e ambiental, atuam como empreendedores sociais, fundam e dirigem organizações sociais ou encontram nos institutos e fundações um fértil campo profissional.
Mas não é só: na iniciativa privada, administram empresas e marcas que se posicionam autenticamente diante de causas. E o que é mais promissor: pessoas comuns, como eu e você, que compreendem que conectadas pela tecnologia têm o poder de mobilizar pessoas e recursos em benefício da sociedade. O que estou dizendo é que atuar com propósito de mudar o mundo se tornou missão de vida e profissão de muitos de nós.
A inspiração para estudar e ressignificar essa atuação do voluntário veio de uma série de conversas com Fábio Bibancos, amigo e fundador de uma das cinco organizações sociais com maior impacto econômico do planeta. Com base na reflexão do poder de cada um de transformar a realidade e impactar a economia, Bibancos defende que os mais de 17 mil dentistas-voluntários da Turma do Bem têm ultrapassado a definição de voluntariado dada a enorme dedicação e impacto social.
Essa conversa ficou por dias na minha cabeça e tomou forma de um conceito ao ler uma matéria sobre empreendedorismo norte-americano. A reportagem falava que, em 2014, Barak Obama – então presidente dos Estados Unidos – afirmou apoiar o movimento maker, classificando os makers como protagonistas de uma nova revolução industrial. Em linha geral, o Maker Movement é a face mais tecnológica e técnica da cultura do Do-It-Yourself (sigla DIY, faça você mesmo), cuja essência é a ideia de que pessoas comuns podem fabricar, construir, modificar e inventar os mais diversos produtos, serviços e projetos. Inovação é o efeito colateral desse movimento.
A informação se conectou, imediatamente, com o colóquio com Fábio Bibancos. Diferente do voluntariado tradicional, cada Dentista do Bem é protagonista de um movimento cujo retorno para a sociedade é estimado em R$ 1 bilhão em tratamentos. Mais do que atender jovens e mulheres vítimas de violência (incluindo transsexuais), esses fazedores sociais têm mobilizado a sociedade na qual se inserem, convocando todos a aderir à causa do sorriso. Uma rede enorme de makers conectados, há 15 anos, provam que o futuro do voluntariado já começou. E mais está por vir!
Festival de Inovação e Impacto Social (FIIS)
Data: 2 a 7 de novembro de 2018
Cidade: Hotel Palace Cassino em Poços de Caldas, Minas Gerais
Programação: https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/fiis/
Mais informações: fiis@vivejar.com.br
(*) Marcelo Alonso foi executivo de empresas como Natura, Vivo, Credicard e Dow. Hoje atua como consultor em comunicação e sustentabilidade.